Sorte

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Point of view Carol

O dia estava amanhecendo,
despontando por entre as montanhas
bem além e eu estava debruçada sobre o parapeito da sacada, recepcionando os primeiros raios de sol. Segurava uma xícara vazia com as duas mãos e me perdia em pensamentos. O céu estava inteiramente num azul
claríssimo, ainda restavam algumas
poucas estrelas no céu. Eu estava
ansiosa. Normani, minha empresária,
me daria a notícia sobre a aceitação
ou não aceitação de meu livro naquela manhã; minha carreira estava prestes a ser alavancada e ao mesmo tempo, a ser avacalhada. Temia o pior, mas me esforçava para manter os pensamentos no modo positivo.

- Não vai dormir? - Veronica, a amiga
que havia chegado no dia anterior,
para passar uma temporada em minha casa, após se divorciar, perguntou. Olhei para ela, que vinha pela sala com os cabelos bagunçados, cara amassada e coçando os olhos, e ri daquilo.

- Mesmo se eu quisesse, não
conseguiria. - Respondi. Ela parou ao
meu lado e encostou sua cabeça no
meu ombro, banhando meu braço com seus longos cabelos loiro-claros.

- Oi, eu sou a Vero!

Uma loira magricela chegou se
apresentando e estendendo a mão
para mim. Era meu primeiro ano
naquele colégio, meu segundo dia
de aula, eu estava só, sentada numa
mesa, almoçando. Não esperava fazer
amizades, nem queria. Gostava de
estar sozinha, eu era sempre minha
melhor companhia, mas quando vi os
olhos brilhantes da tal moça e o sorriso receptivo, pensei: "Por que não?".

-Eu me chamo Carolyna! - Apertei sua
mão levemente e logo depois, ela se
sentou ao meu lado.

- Você não é muito velhinha para estar
no ensino médio não? – Indaguei ao
notar que ela muito mais velha. Ela riu.

-Eu não estudo aqui, eu trabalho
aqui. Sou a secretária do diretor.
Respondeu ela, exibindo seu crachá.
Como eu não tinha reparado nisso?

- Por que trabalha numa escola? Isso é
suicídio! - Indaguei de forma cômica e
rimos juntas.

- Estou findando minha faculdade de
direito e preciso de dinheiro, meus pais não podem custear a mensalidade toda. - Explicou ela.

Nós conversamos sobre tudo, rimos,
fizemos piadas. Nesse mesmo dia,
descobri que seríamos uma dupla e
tanto.

Vero ainda tinha a cabeça encostada
em meu ombro, seus cabelos exalavam cheiro adocicado de rosas, misturado com vinho e vodka. O porre que a garota havia tomado noite passada, conseguia ser pior do que eu havia tomado quando terminei com Amanda.
Compreendia a dor de Veronica.
Assim como eu, ela havia confiado em
alguém; um rapaz de sorriso galante
e a gentileza de um lorde. Pena que
quando a máscara caiu, o príncipe
virou sapo, a desconfiança se tornou
concreta.

- Mani! Pare! Estou ficando sem ar! -
Supliquei gargalhando, contorcendo-me no sofá, tentando me desvencilhar de suas mãos que me faziam cócegas.

- Implore! - A negra de belo rosto
me desafiou sorridente. Suas unhas
pontiagudas faziam força contra a pele de minhas costelas, eu já não tinha mais forças para rir, meu riso saia em quase gritos agudos, minha barriga estava dolorida.

- Oh, céus! Por favor, Mani! Pare! –
Minha voz quase se perdeu entre as
gargalhadas esbaforidas.

Minha amiga parou a sessão de
tortura e sentou-se exausta ao meu
lado. Enquanto eu tentava recuperar
o ritmo correto de minha respiração,
mentalmente eu agradecia aos anjos
por terem me dado uma amiga como
Normani, porém, meus pensamentos
foram cortados pelo estridente som da
campainha.

The Last Coffee - CapriOnde histórias criam vida. Descubra agora