Hoje eu deixei a casa de Emily e Sam.
Sai decidida a talvez me lembrar mais de mim, mas isso não aconteceu enquanto eu fazia a trilha que me foi indicada até a praia.
Também não aconteceu quando me sentei sobre a areia fofa, nem quando senti o vento gelado arrepiar minha pele, entretanto não tive coragem de tocar o mar que me trouxe pra quem sou agora.
Eu ainda não sei mais do que meu nome, Eleonora.
Isso me faz pensar sobre como uma mãe pensaria em colocar esse nome em sua filha, qual o significado dele para ela, com certeza não é pela forma que ele soa.
Será a junção dos nomes dos meus pais?
Não, com certeza não.
É infinitamente estranho pensar que eu não sou mais que um nome, um nome que não sei nem mesmo se é composto ou quantos sobrenomes o acompanham.
O sol não chegou a La push.
Nenhum raio de sol pareceu tocar aquela areai que permaneceu tão feia quanto a minha pele que se estendia sobre ela.
Mas quando o tom nublado do céu passou a se tornar escuro, como a noite decidi que era hoje de ir.
Ir para aquele lar que a algumas semanas se tornou o mais próximo que consigo chamar de casa.
Peguei aquela mesma trilha que cortava a reserva, não é uma trilha totalmente aberta, mas as marca de terra sobre a grama indica que ela muito é usada pelos locais.
Pelo que Emily e Sam me contaram, o local é basicamente privado, então muitos dos que andam por aqui são moradores locais.
Os Quileutes conhecem cada pedacinho desse lugar.
Estava com as mãos no bolso no meu casaco, com frio e concentrada em olhar apenas para o que vinha à minha frente quando os vi.
Meus passos diminuíram até cessarem, minhas mãos soaram e um grande sentimento de medo cresceu em meu peito.
Dois grandes lobos corriam em uma direção contrária à minha, lobos de pelos cinzentos, um claro e o outro escuro perseguiam algo próximo a mim.
Os animais pareciam maiores e mais ferozes do que a minha memória se permite recordar.
Quando um cachorro nos ataca, o mais indicado é não corrermos ou sairmos do lugar.
Mas eu não estava sendo atacada.
Então eu corri, corri como se estivesse em uma maratona, pronta para parar só quando chegasse em meu objetivo ou quando fosse pega.
Foi a primeira vez que passei pelos moradores locais sem sorrir e cumprimentar a todos.
Passei tão rápido que talvez nem tenha sido notada.
— Eu vi lobos, lobos gigantes — Falei assim que passei pela porta, Sam e Emily continuaram a se olhar apaixonados como se não tivessem ouvido nada — Eles estavam próximos a trilha que leva a praia, precisamos avisar a todos, é perigoso, precisamos trazer a polícia ou os caçadores.
— Boa noite pra você também, Eleonora — Sam disse — Pelo visto você tirou um bom cochilo na praia.
— Cochilo? Uley eu sei o que vi, eu não estava dormindo, estava caminhando, praticamente chegando aqui.
— Sam, ela merece saber a verdade — Emily disse a ele decidida — Ela precisa saber que está segura, precisa confiar em nós.
— Não vou quebrar uma regra — Ele disse — Não sou eu quem tenho que contar.
— Contar o quê? Do que vocês estão falando? Não importa agora, são animais gigantes, eles podem nos atacar a qualquer momento.
— Não vamos ser atacados — Sam disse se levantando para pegar algo na geladeira — Você precisa relaxar e confiar em mim.
— Confiar em você? E você vai fazer o que? Colocar adolescentes pra lutar contra lobos?
Emily segurou a risada.
— O que acha de chamarmos o Paul para o jantar hoje? — Ela sugeriu sorrindo.
— Como pode estar tão tranquila?
— Por que não se senta por um minuto e toma um copo de água pra se acalmar?— Ela disse com a voz calma — Tenho certeza que Sam encontrará Paul logo.
— O que o paul tem haver com isso? Ele não pode se arriscar contra essas feras.
Foi a vez de Sam reprimir um sorriso.
— Claro, eu vou fechar a porta pras "feras" não entraram — Disse negando com um sorriso no rosto enquanto fechava parte da porta da varanda da casa do uley.
— Eu não entendo, Podem nos engolir em uma mordida e vocês agindo como se não fosse nada. Deveríamos nos armar, com facas e talvez fazer lanças com capôs de vassoura.
— Sim, claro — Emily disse colocando um copo de água sobre a mesa — Depois que Sam voltar falaremos sobre isso.
— Ficaremos desprotegidas até lá?
— Vai por mim, estamos mais protegidas que qualquer outra pessoa — Ela sorriu, só então reparei nos detalhes da cicatriz de seu rosto.
São unhadas, garras de animais que cortaram sua pele.
Me sentei ao seu lado em silêncio.
— Tudo bem, vamos esperar o Sam e o Paul aparecerem.
Se Sam pode protegê-la talvez possa cuidar de nós, ainda mais com ajuda que foi buscar.
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Eleonora - Paul Lahote
FanfictionQuando o corpo de uma garota é encontrado à beira mar de La push, um novo mistério e um novo segredo passa a fazer parte das lendas Quileutes, quem é Eleonora?