Recaída

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Sábado, vinte de Dezembro.

Os cabelos castanhos de Roberta eram perfeitos, traçando linhas desajeitadas que se espalhavam suavemente pelos ombros. Suas bochechas, sempre tingidas de um rosa delicado, pareciam eternamente envergonhadas, enquanto seu colo, salpicado de estrelas — pequenas pintas na pele clara e macia — brilhava com uma luminosidade própria. Contudo, eram seus olhos que mais intrigavam Macris. Olhos curiosos, quase peripatéticos, como os de um filósofo, que pareciam caminhar entre as paredes da sala, ansiosos por desvendar todas as histórias que nelas estavam ocultas. Não apenas decifravam, mas absorviam, em um silêncio contemplativo.

Era nos pequenos detalhes da existência grandiosa de Roberta que Macris encontrava seu êxtase. Observava-a do canto da sala, memorizando cada traço, cada movimento, cada nuance. Se pudesse desenhar o que via, já teria criado um livro de ilustrações repleto de sua imagem. Se pudesse eternizar sua voz, teria uma coleção de vinis com seus sussurros e risadas. Se pudesse, ao menos, parar o tempo e capturar aquele momento, faria um retrato de Roberta no meio da sala, um ensaio para a eternidade. Mas não podia. Roberta era sua ex-namorada.

Quando deitava para descansar, Macris pensava em Roberta. Imaginava tê-la por perto novamente, ouvindo sua voz suave em um sussurro íntimo ao pé do ouvido. Sentia falta do cheiro do amor, da certeza de voltar para casa e encontrá-la esperando. Se ao menos pudesse, transformaria seus sonhos em realidade e traria Roberta de volta ao presente.

A lembrança de Roberta estava sempre viva em seus pensamentos. Mesmo nas noites mais silenciosas, quando o mundo parecia adormecer, Macris sentia a presença etérea de Roberta ao seu lado. Relembrava os momentos compartilhados, os risos trocados, os abraços calorosos. Cada memória era um fragmento de um passado que ainda pulsava dentro dela.

Os cabelos castanhos de Roberta, desordenadamente perfeitos, continuavam a traçar linhas invisíveis em seus pensamentos. As bochechas rosadas, o colo estrelado, os olhos curiosos — tudo permanecia tão vívido quanto antes. E enquanto Macris navegava pelas águas turbulentas da saudade, agarrava-se a esses detalhes, como náufraga em busca de terra firme.

O amor que um dia compartilhavam não se desvanecera, mas transformara-se em algo mais profundo, mais íntimo. A ausência física de Roberta não apagara o que sentiam uma pela outra. Pelo contrário, intensificara a ligação entre elas, tornando cada lembrança ainda mais preciosa.

E assim, Macris seguia, dia após dia, carregando em seu coração a imagem de Roberta. Sabia que, embora não pudessem estar juntas no presente, o amor verdadeiro transcende o tempo e o espaço. E enquanto houvesse memória, haveria esperança.

[...]

Terça-feira, 13 de Janeiro. - semanas depois

"Doida pra sentir seu cheiro, doida pra sentir seu gosto, doida pra beijar seu beijo,
matar a saudade desse meu desejo."

Roberta havia tido um dia estressante, repleto de reuniões intermináveis e prazos apertados. Sentia a tensão acumulada nos ombros e, ao chegar em casa, decidiu abrir uma garrafa de vinho. Escolheu um Brunello di Montalcino — o favorito dela e de sua ex-namorada, Macris. Quando o líquido rubro tocou seus lábios, Roberta sorriu, um sorriso amargo de lembrança. As noites de desabafos, confidências e promessas eternas vieram à tona, trazendo consigo uma avalanche de emoções.

Procurando um alívio nas notas musicais, Roberta foi até a estante e escolheu um álbum para tocar. Inicialmente, pensou em ouvir Leonardo, mas ao deparar-se com a faixa "Temporal de Amor" na voz de Lauana Prado, decidiu ousar. Assim que a música começou a preencher a sala, a melodia e a voz suave de Lauana a transportaram de volta a tempos mais felizes.

One shot | RocrisOnde histórias criam vida. Descubra agora