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Azriel

Desperto em meio à vegetação densa, ao primeiro sinal de luz no céu, o som suave do vento nas árvores ao meu redor.

Acampamos ao pé da montanha, um lugar que um dia havia sido sagrado para nós e depois profanado por Amarantha por centenas de anos. A entrada para seu covil ficava a alguns quilômetros de distância, preferimos não arriscar e estendemos para o lado onde a subida seria mais rápida e menos íngreme, fazendo-nos chegar aos domínios da Corte Crepuscular mais rápido.

As sombras dançavam ao meu redor, densas, sussurrando aos pés dos meus ouvidos. Olhei ao redor, Surya já havia se levantado. Levantei-me com dificuldade, ela não poderia estar tão longe. Um barulho fez chamar minha atenção, olhei ao redor, tentando adivinhar a direção certa. Levantei-me com esforço seguindo o som sutil, as sombras dançando ao meu redor. A cada passo, a curiosidade se mistura com a apreensão. Então, entre as árvores, vejo um brilho prateado.

Ao me aproximar, a visão se torna clara. Surya está no lago, as costas nuas cobertas pelo cabelo quase branco encharcado colado ao seu corpo refletindo a luz suave do crepúsculo. O contraste de sua pele contra a água cristalina cria uma cena de pura beleza e vulnerabilidade. Fiquei parado, hipnotizado por alguns instantes, sem querer interromper o momento, mas também incapaz de desviar o olhar.

Por um instante suas orelhas afiaram-se, movendo para cima e para baixo, ela virou o rosto apoiando o queixo em seus ombros, os olhos dourados encarando diretamente a mim. Ela não se moveu, nem expressou sequer reação, como se soubesse que eu estava ali. Me aproximei da margem, vagarosamente, enquanto as sombras que antes me mantinham quase invisível agora mal cobriam minhas asas feridas:

— Posso me juntar a você? — As palavras saíram da minha boca sem que eu as pudesse controlar. Eu nem mesmo entendia o porque eu estava agindo daquela forma.

Ela continuou me encarando, imóvel por alguns segundos, antes de assentir sutilmente em um movimento quase imperceptível. Caminho até ela, a água ficando mais profunda a cada passo, até que estou ao seu lado. A proximidade de Surya é como uma luz dissipando a escuridão ao meu redor.

Nos observávamos em silêncio enquanto a água limpava nossas preocupações e feridas. Seu cabelo cobria quase todo o seu corpo, e eu me recusava a desviar meu olhar do seu:

— Vire-se — Ela disse.

Eu a obedeci, me virando lentamente, a água morna me deixando cada vez mais confortável.

Prendi a respiração ao sentir seu toque em meus cabelos, massageando-os enquanto delicadamente derramava água com as mãos.

Todos os meus músculos enrijeceram e o ar parecia ter fugido dos meus pulmões. Senti um arrepio percorrer minha espinha à medida que suas mãos deslizavam por entre os fios, massageando meu couro cabeludo com uma delicadeza que eu nunca tinha experimentado antes.

Ninguém jamais me tocou assim. Sempre fui o guerreiro, a sombra, a arma afiada na escuridão. O toque de Surya é diferente; é cuidadoso, gentil, como se ela estivesse explorando um território desconhecido e sagrado. Suas mãos trabalham lentamente, massageando meu couro cabeludo com delicadeza, e eu me permito relaxar, algo que não faço há anos.

Enquanto ela lava meu cabelo, minha mente vagueia. Penso nas batalhas, nas feridas, no peso que carrego há tanto tempo. Mas aqui, neste momento, tudo isso parece distante, quase irrelevante. A presença de Surya, seu toque, é uma ancoragem ao presente, uma lembrança de que ainda há beleza e suavidade no mundo.

Sinto suas mãos descerem pelo meu pescoço, limpando cada cicatriz, cada marca que carrego como um mapa do meu passado. Quando ela alcança minhas asas, a sensação é diferente, mais intensa. Mesmo insensíveis, ainda são uma extensão de mim, e seu toque é reverente, quase como se ela estivesse cuidando de algo precioso. Surya é meticulosa, passando os dedos pelas membranas com uma delicadeza que me faz estremecer.

Corte de Luz e Sombras - Livro 1 - Fanfic ACOTAROnde histórias criam vida. Descubra agora