Que calor parte 2

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Simon acordou cedo, antes mesmo do alarme tocar.

Seus olhos estavam pesados, não só pelo sono, mas também pelo cansaço emocional.

Levantou-se da cama com cuidado, tentando não fazer barulho.

Seu padrasto, Carlos, dormia no quarto ao lado e Simon sabia que qualquer ruído poderia acordá-lo e desencadear uma série de eventos indesejáveis.

Descendo as escadas, Simon podia sentir a tensão no ar.

Carlos já estava acordado, sentado na cozinha com uma xícara de café na mão.

Seus olhos escurecidos e o olhar fixo no garoto revelavam o que estava por vir.

-Já acordado, moleque?- Carlos rosnou, sem sequer olhar para Simon.

Simon engoliu em seco -Sim, senhor. Vou me preparar para a escola."

Antes que ele pudesse dar mais um passo, Carlos levantou-se abruptamente, derrubando a cadeira no processo.

-Acha que pode simplesmente ignorar as regras desta casa, não é?-

Sem aviso, Carlos agarrou Simon pelo braço, puxando-o violentamente.

A dor era intensa, mas Simon sabia que gritar só pioraria a situação.

Carlos o jogou contra a parede, a cabeça de Simon bateu com um som oco, e ele viu estrelas.

-Você é um inútil, um peso morto!-
Carlos gritou, seus olhos injetados de raiva.

Cada palavra era acompanhada de um golpe. Os socos eram brutais, direcionados às costelas e estômago, onde os hematomas não seriam visíveis para sua mãe.

Simon tentou proteger-se, mas seus braços eram fracos contra a fúria de Carlos.

Ele sabia que, assim que sua mãe saísse para o trabalho, ele se tornava um alvo fácil.

Carlos tinha o dia inteiro para descontar sua frustração.

Após o que pareceu uma eternidade, Carlos finalmente o soltou, respirando pesadamente.

-Vista-se e vá para a escola. E nem pense em dizer uma palavra para sua mãe. Entendeu?-

Simon apenas assentiu, incapaz de falar.

Com dificuldade, levantou-se do chão e subiu as escadas de volta ao seu quarto.

Cada movimento doía, mas ele precisava se preparar.

Abriu o guarda-roupa e pegou um moletom cinza com capuz.

Era um dia escaldante, mas ele sabia que o moletom era sua única proteção, escondendo os machucados que cobriam seu corpo.

Quando chegou à escola, o calor era quase insuportável.

Suas roupas estavam encharcadas de suor, mas ele manteve o capuz puxado sobre a cabeça, evitando olhares curiosos.

Sentou-se no fundo da sala de aula, tentando não chamar atenção.

-Simon, você está bem?- A voz preocupada de Ellen veio de repente.

-Sim, só estou com um pouco de frio- mentiu Simon, forçando um sorriso.

Ellen olhou para ele, claramente duvidando, mas não insistiu.

Simon sabia que não podia revelar a verdade.

Sua mãe já trabalhava demais, e ele não queria ser um fardo adicional.

O dia passou lentamente, cada minuto parecia uma hora.

No recreio seus amigos vieram lhe questionar. Debaixo da sombra de uma árvore

-Simon você não está com calor?- Perguntou Maya curiosa- Como você aguenta?-

Ele sorriu levemente- Eu me acostumei. Na verdade me sibto confortável assim. Além disso o moletom me protege do sol-

-Mas está tão quente...e você nem está suando!- Exclama Elói

Simon deu de ombros- Cada um tem seu jeito de lidar com o calor. E talvez eu tenha meus segredos

Os fez rir

No meio da manhã, Simon pediu para ir ao banheiro. Enquanto lavava o rosto, ele arregaçou as mangas do moletom, olhando as marcas roxas que cobriam seus braços.

A porta do banheiro se abriu, e Ellen, entrou para lavar as mãos.

Ela parou abruptamente ao ver as contusões nos braços de Simon, seu rosto se enchendo de preocupação

-Simon?- Sua voz estava trêmula

Ele Abaixou os olhos - Por favor Ellen, não diga a ninguém. É complicado...-

Se  aproximou  dele  cuidado, colocando a mão gentil no ombro dele-Simon, você quer me contar alguma coisa? Quem fez isso com você?-

Simon hesitou por um momento, lutando contra a mistura de vergonha e medo que o havia mantido em silêncio por tanto tempo

Finalmente ele negou lentamente

Não é nada Ellen- Tentou mudar de assunto

-Se precisar de ajuda pode falar comigo tá?-

-Tá bom, mas já disse que não é nada-

-Simon-

-Eu não posso contar- Saiu do banheiro nervoso

Quando finalmente voltou para casa, sua mãe ainda não havia chegado.

Simon foi direto para o seu quarto, fechando a porta atrás de si. Lá, ele deixou as lágrimas caírem, silenciosas e solitárias, sabendo que no dia seguinte tudo se repetiria.

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⏰ Última atualização: Jul 14 ⏰

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