Ríamos desconcertadas no oscilar das cortinas enquanto apreciávamos a sinfonia de um Lúcifer caricato. Traz-me nas mãos o pacote da bala mais azeda do mundo, deslizando o sabor cítrico por entre as pontas de meus dedos, a poucos passos de um repentino paroxismo.Os buracos de seus sapatos vermelhos são como sementes de morangos azedos, ridículos, ultrajantes, intragáveis. Confesso que demos risadas, nos engasgando com milho em frangalhos, sujando a colcha alva. Ele foi de uma apoteose à graça da piada. Meu olho de deus grudou a pálpebra, porque anjos caídos não têm anjos da guarda.
Palavras tropeçadas são como mil gaguejos. letras tortas em linhas — até então — retas é o resultado do devaneio deixado de lado se transmutando ao longo do tempo.
Pensei que pudéssemos nos levar por sua comicidade, mas barganhar com o diabo nunca é a melhor das opções. Nem sei como estava vestido, se usando seu pingente de lágrima de virgem, aproveitando seu álibi, se era o demo ou sua cupincha.
Seria possível sair de um local sem que saísse de dentro de você? Ninguém se lembra do adeus, e ele não se lembra de ninguém. Seria uma urgência em absquatular ou o esquecimento? Ninguém sabe se fora recebido por uma enxurrada de lamúrias a bordo do aeroporto. Sobrevoou a abóboda terrestre rumo à decadência. Testemunhamos o decaimento do anjo que desembarcou ao sul, mas ele resolveu não testemunhar nossa lembrança.
Sob o véu da noite, nós esperávamos, confiantes na conexão que transcende espaço e tempo. Paciente é a noite, ou costumava ser. As estrelas estão derretidas e o que resta delas ensopa os buracos de seus sapatos intensamente rubros e desidrata, ferve.
Ansiávamos o porvir, que talvez nunca sequer cogite vir. Talvez a sincronicidade seja uma ilusão lapidada por fios dourados, uma pseudociência agridoce para subjugar os tolos. Algo que o diabo gosta.Avisaram-me sobre falsos profetas, nunca que imaginara: a falsa profetisa que eu costumava ser.
Nós te eternizamos como aquela criaturinha dócil com cara de paisagem.
Foi tragicômico, confesso.Talvez o anticristo use sapatos furados com escapamento lateral, fumaça infernal atravessando os buraquinhos: devotos leigos se deixam passar por este versículo.
oi, gente!tô meio enferrujada pra escrever pq recentemente só tô postando rascunho, akakajjk, enfim, é isso :D
funfact: esse texto é sobre uma crocs do relâmpago marquinhos.
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os sapatos vermelhos de lúcifer.
Poetrytestemunhamos o decaimento do anjo que desembarcou ao sul, mas ele resolveu não testemunhar nossa lembrança. 🦇 [ prosa poética | original ] ☆ sollarstein, 14/07/2024.