Ondas sombrias me cercam, como se fossem um reflexo daquilo que carrego dentro de mim. Há um peso, uma profundidade nesse estado, que me faz enfrentar o pior de mim mesma. Sei o que preciso, mas ao mesmo tempo, não desejo nada. Esse paradoxo entre querer e não querer, entre buscar e evitar é tão pesado quanto incompreensível. Quem entende o peso disso sabe que é um fardo, um constante lembrar de que nem sempre temos controle sobre nosso próprio ser. Seria estranho pensar assim? Talvez. Mas essa estranheza é um eco da minha verdade.
Afundo nesse mar sombrio, e por um instante, encontro um conforto estranho na descida. Não, não é conforto, é engano. É minha mente tentando normalizar um ciclo repetitivo, como se aceitar a queda fosse o bastante para aliviar sua dor. Mas as ondas que me arrastam para o fundo não são apenas destrutivas, elas contêm algo que transforma, que renova, mesmo que eu não consiga enxergar isso agora. Talvez o fundo do mar seja o solo para o renascimento.
O buraco escuro da solidão parece me chamar, mas ele não me define. Passar por ele é parte do processo, não meu destino final. Tiago 1:2-4 ressoa em meu espírito, como um lembrete constante: "Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança. E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros e íntegros, sem que falte a vocês coisa alguma." Essas palavras me mostram que a escuridão, embora terrível, também é uma oportunidade. Não é uma interrupção, mas uma passagem.
A luta entre saber e sentir é como as ondas: constante, avassaladora. Saber a lógica fria e racional que analisa, pesa, mas nunca consola. Sentir a emoção crua que transborda, mas nunca é suficiente. Estar preso entre esses dois extremos é se ver dividido, partido, como se cada parte de mim estivesse em um lado oposto do mar. E, ainda assim, o paradoxo de existir é esse: aceitar a luta para descobrir quem realmente sou.
Será que busco o perfeito, o inalcançável? Em Apocalipse, há uma visão que aquece meu espírito: "Eles serão os seus povos; o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus. Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a ordem antiga já passou." Seria isso o destino final, ou apenas o reflexo do que meu coração deseja?
E então, surge uma verdade profunda: as ondas não são apenas destruição, elas são movimento. Mesmo nas emoções mais turvas, há um fluxo, um impulso que me conduz. Provérbios 3:5-6 sussurra: "Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apoie no seu próprio entendimento; reconheça-o em todos os seus caminhos, e ele endireitará as suas veredas." É nesse movimento que a confiança se constrói, mesmo quando parece que estou à deriva.
A dúvida, por mais angustiante que seja, é um espaço para o crescimento. É estranho confiar em nossa incerteza, mas é nela que buscamos a verdade mais sincera. Fugir seria negar minha própria humanidade, então me permito confrontar a dúvida e encontrar respostas nela. Porque, no fim, o "não" me dá certeza, enquanto o "sim" me leva a infinitas possibilidades. Essa ambiguidade é uma dança entre quem sou e quem quero ser.
Apesar de sentir que não pertenço a este lugar, também não quero pertencer. É como andar na linha tênue entre o sonho e a realidade, onde a existência parece frágil, mas cheia de significados ocultos. As ondas me convidam a buscar respostas, seja na quietude da reflexão ou nos sinais que ainda não percebo. E no final, sei que o melhor caminho será revelado.
Porque, assim como as ondas podem me afundar, elas também podem me levar à superfície. A escuridão que me envolve agora não é o fim, mas uma transformação. E talvez, ao emergir, eu descubra que o que parecia perda era, na verdade, renascimento.
E talvez, no fim, seja isso que as sombras ensinam. Não se trata apenas de cair, mas de aprender a se levantar. As águas turvas não são apenas confusão; elas são movimento. E mesmo nas profundezas mais escuras, há correntes que nos conduzem, nos moldam e nos preparam para algo maior. O que parece ser um fim é, na verdade, um ponto de transição, o intervalo entre quem fomos e quem podemos nos tornar.
É preciso coragem para atravessar essas correntes, aceitar nossas dúvidas e nossos medos, e enxergar além delas. Porque, no paradoxo da escuridão, encontra-se o início da luz. E, assim, cada queda, cada momento de incerteza, cada provação, nos aproxima de um entendimento mais sincero de nós mesmos.
No final, a jornada não é sobre escapar das ondas ou rejeitar a sombra. É sobre permitir que elas nos transformem. O mar revolto pode tentar nos afundar, mas também é ele que nos dá a força para nadar. E talvez, ao emergir, possamos olhar para trás e reconhecer que as mesmas forças que pareciam nos destruir foram aquelas que nos ensinaram a viver.

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Estigmas Invisíveis
SpiritualUma realidade vislumbre da imaginação... Ela captura a espiritualidade, as emoções e a complexidade das reflexões humanas com intensidade e profundidade. As metáforas, as conexões com as escrituras e a introspecção criam uma narrativa que toca o cor...