Capítulo 1 - Origens

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    Diário de Viagem
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           [ Localização - Lua   Europa   ]



Em 2040, uma grande catástrofe forçou a humanidade a abandonar a Terra. Europa, uma das luas de Júpiter, foi escolhida como refúgio devido às suas condições relativamente habitáveis. No início, a esperança floresceu entre os colonos. Eles imaginavam um novo começo, onde poderiam reconstruir a civilização em um ambiente diferente.

Os primeiros anos foram difíceis, mas não insuportáveis. Os colonos trouxeram consigo tecnologia avançada e conhecimento suficiente para criar estufas e sistemas de reciclagem de água. No entanto, conforme os recursos foram se esgotando e os sistemas começaram a falhar, a situação rapidamente se deteriorou.

 No ano de 2070, poucos dos que chegaram a Europa ainda estão vivos. As estufas estão vazias e secas, e os sistemas de reciclagem de água não funcionam mais. As temperaturas geladas da lua e a radiação aumentada tornaram a sobrevivência uma batalha constante. A cada dia que passa, o frio parece mais implacável e a esperança mais distante.

Os poucos sobreviventes vivem em pequenos grupos espalhados pela superfície da lua. Eles se abrigam em cavernas improvisadas ou em antigas estruturas de habitação, agora decadentes e desmoronando. A comunicação entre os grupos é rara, e as viagens entre as regiões são extremamente perigosas devido às condições severas.

As pessoas que restam são resilientes, mas o desespero é palpável. Eles caçam qualquer forma de vida que consigam encontrar, embora essas sejam poucas e raras. Muitos lembram dos dias na Terra com saudade, mas sabem que o retorno não é uma opção. A Terra está inabitável, e Europa, outrora uma esperança de nova vida, se tornou uma prisão gelada e sem recursos.

-É, depois que você contou isso, nossa situação parece terrível mesmo... Mas me diga, Nevara, você conheceu a Terra? - disse uma das garotas sobreviventes desse desastre, que estava ao seu lado, mesmo você estando de olhos fechados e contando sobre os acontecimentos.

Nevara abriu os olhos lentamente, revelando um olhar cansado, mas ainda brilhando com uma faísca de lembrança. As linhas de expressão em seu rosto contavam histórias de muitas lutas e perdas, mas também de momentos de beleza e paz. Ela suspirou antes de responder à jovem ao seu lado.

-Não, eu não conheci a Terra,- começou Nevara, sua voz baixa e rouca. -Mas ouvi muitas histórias sobre como era. Dizem que havia vastos campos verdes, florestas densas e oceanos que pareciam infinitos. Havia um céu azul claro, pássaros cantando e o calor do sol na pele. Era um lugar de maravilhas.

A garota olhou para Nevara com olhos arregalados, absorvendo cada palavra como se fosse uma história de um conto de fadas. Para ela, que só conhecia a frieza e a desolação de Europa, as descrições de Nevara pareciam quase mágicas.

-Na Terra, tinham tudo o que preciso. A natureza fornecia alimento e água, e havia lugares onde podíamos nos abrigar sem medo do frio extremo- continuou Nevara. -Era um lugar cheio de vida, diferente daqui.

A jovem suspirou, imaginando um mundo que nunca conhecera. -Parece um sonho distante- murmurou ela, olhando para a vastidão gelada de Europa.

A jovem então se voltou a olhar para Nevara.

-Posso tirar uma foto sua... no caso, de nós duas? Quero ter de recordação,- disse ela, pegando uma pequena câmera de uma bolsa que estava ao seu lado, um dos poucos dispositivos tecnológicos que ainda funcionavam.

Nevara sorriu suavemente, um sorriso que trazia tanto dor quanto ternura. Ela assentiu, percebendo o valor sentimental que a imagem teria em um mundo onde lembranças tangíveis eram raras.

2040Onde histórias criam vida. Descubra agora