Sexta: 08/07/2019
Ouço sons - talvez gritos - vindo de algum lugar próximo. São estridentes ao ponto de jurar que poderiam me deixar surdo. Escuto também um zumbido horrível, sinto que os meus ouvidos estão prestes a explodir.
Minha garganta arde. É como chamas acessas em palha, dissolvendo os meus ossos com minha saliva. Não consigo engolir.
Minha pele parece rasgar sobre os meus ossos, os quais doem como jamais havia acontecido. É como se estivessem cortadando-os com uma faca minúscula e cega.
Mesmo me desmanchando de dor, tento levantar, mas não consigo. Abro os olhos.
Há pessoas aqui. Pessoas que eu nunca vi. Não sei onde estou.
Tento observar o lugar, mas não consigo mexer o pescoço.
- Ah, ele acordou! - A voz de uma mulher desconhecida exala na sala.
Fecho os olhos.
- Calma, Sr. Amélia. Precisamos saber se ele está bem antes de enchê-lo de perguntas.
Ouço passos vindo em minha direção.
- Christopher? Se estiver me ouvindo, pisque os olhos.
Tento mexer o pescoço. Sinto minha cabeça rodar e os meus ossos chacoalharem.
- Não, não. Por favor, não se mexa por enquanto. Há possibilidade de algum osso estar quebrado. Precisamos de cautela. Vamos fazer uma avaliação clínica primeiro. Vou chamar o médico. - Ouço seus passos se afastarem. - Não toquem e nem falem com ele. Mantenham distância, por favor, se não terei que retirá-los daqui.
Ouço lamentações vindo da mulher.
Quem está aqui? Quem são esses? O que aconteceu? Onde estão os meus pais?
- Boa noite, Chritopher. Como está se sentindo?
Ba noite? por quanto tempo eu dormi?
Ele ri.
- Prazer, sou Thomas. Sou o médico que fará os exames em você.
Engulo seco ao tentar falar.
- Pegue um copo de água para ele, Sr. Jonny, por gentileza.
Tento me sentar, mas ele me impede.
- Por favor, não se mexa ainda.
Um homem me entrega um copo de água.
Ao beber, minha garganta se fecha, doendo tanto ao ponto dos meus olhos lacrimejarem.
- O-onde es... - Minha voz falha e eu desisto, me sentindo envergonhado.
- Vamos falar sobre eles, fique tranquilo. Mas primeiro precisamos saber se você está bem. Consegue dizer como está?
Respiro fundo.
- Mi-minha gargan... - Não consigo terminar.
- Sua garganta está doendo. - Deduz. - Há mais algum lugar que dói? Por favor, tente dizer, não encoste.
- O-o...
- Vou perguntar onde dói e você responde com sim e não, OK? - Pega um caderno e uma caneta. - A perna direita, dói? - Assinto. - A esquerda? - Assinto. - As costas? - Assinto. - O peito ou qualquer parte da frente, incluindo o estômago? - Nego. - O pescoço? - Assinto.
Ele olha para a enfermeira.
- Ele tomou algum medicamento?
- Ainda não. Estava esperando ele acordar.
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Cartas na Manga
Mystery / ThrillerApós perder os pais em um trágico acidente de carro, Christopher, um adolescente de 17 anos, é obrigado a se mudar para a casa de seus tios desconhecidos. Lá, ele é apresentado a uma tradição peculiar da família: toda sexta-feira, às oito horas da...