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Toto

3 anos depois

Mais um dia nesse mundo cinza. Acordo como sempre, seguindo a mesma rotina, as mesmas manias, o mesmo humor cansado. A mesma tristeza e a mesma saudade me cercam.
Faço minha higiene matinal me troco, antes de sair solto um longo suspiro e deixo um beijo na minha aliança que ainda carrego no dedo. O dia promete ser longo, repleto de reuniões intermináveis que se acumulam na minha agenda. A pressão na Mercedes só aumenta, e sinto o peso nos meus ombros.
Ao chegar na sede, o burburinho habitual parece mais intenso do que o normal. Os olhares dos funcionários, antes de respeito e admiração, agora carregam uma ponta de desconforto e desconfiança. Sigo pelo corredor principal, cumprimentando alguns membros da equipe com um aceno rápido, mas percebo que o clima está tenso. Já deixei claro antes: quem não aguenta a pressão, pode pedir para sair. Mesmo assim, sei que muitos ainda questionam minha liderança e os rumos que tomamos nos últimos anos.
Ao entrar na sala de reuniões, percebo o circo armado. Petter está no centro, cercado pelos membros do Conselho, contando várias piadas. O riso forçado ecoa na sala, uma tentativa clara de aliviar a tensão. No entanto, sinto que a atmosfera muda assim que eles notam minha presença. Me sento na ponta da mesa e peço para Louis começar a reunião. Confesso que minha cabeça não prestou atenção em todas as pautas que estavam sendo discutidas. Eu pensava na Susie e no Jack, na felicidade e na vida que eu tinha antes. Sou tirado do meu mundo de lembranças quando ouço Petter falar.
- Entendemos que esta não é uma decisão fácil de aceitar, Toto, começou o ele com aquela voz carregada de simpatia calculada.
- Mas após cuidadosa deliberação, acreditamos que Serena é a pessoa certa para liderar a equipe neste novo capítulo. Escuto cada palavra como um golpe no meu ego já ferido. Até que ponto meu luto me levou? A sensação de não ter conseguido proteger o legado da Susie me abala profundamente e me deixa sem palavras. Olho ao redor da sala, tentando disfarçar a dor que sinto.
- Eu vou aceitá-la como minha assistente, mas não vou entregar minha equipe a ela. digo de maneira firme, olhando diretamente para Petter, que me encara perplexo.
- Essa jovem terá que provar que merece ser chefe de equipe.
- Mas, Toto, Petter tenta argumentar.
- Mas nada, Petter. Esta ainda é minha equipe e outra coisa chega, Reunião encerrada. Me levanto com uma certa brutalidade, sentindo alguns olhares de pena  me fuzilar pelas costas. Não sabia o que era, mas o nome dessa Serena me trazia ódio. Queria descontar toda a raiva, toda dor, toda frustração nela. Saio da sala e caminho rapidamente pelo corredor, minha mente estava uma bagunça. Cada passo é pesado, carregado de frustração. Meus punhos estão cerrados, e sinto o calor da raiva subir pelo meu corpo. A cada rosto que encontro pelo caminho, vejo expressões de pena e desapontamento, o que só alimenta minha fúria. Chego ao meu escritório e bato a porta com força, precisando de um momento para respirar e organizar meus pensamentos. A raiva se mistura com a tristeza e a sensação de perda, criando um nó apertado no meu peito. Olho para a foto de Susie na minha mesa e tento encontrar algum consolo, alguma força na lembrança dela.
- Eu não vou deixar isso acontecer, murmuro para mim mesmo, - Vou mostrar a todos que ainda sou o líder desta equipe.

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