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! ATENÇÃO !
Esse capítulo pode conter gatilhos, pois possui narração indireta (sem detalhes) de violência extrema.

Major

Acordei amassado e já cacei logo um gatorade pra dar um levante no corpo. Tomei um banho gelado e em seguida, fui agir minha vida no morro.

Não me envolvo muito no movimento do tráfico, faço só a segurança de algumas lojas. É como se eu fosse o fiscal, tá ligado? Porque meu negócio de verdade, é cobrança.

O Pit que é o dono daqui, além de ser um dos caras mais respeitados do comando, também empresta dinheiro a prazo. E eu, sou o responsável pelas sentenças dos caloteiros. Quando iniciei nessa vida, eu fiz de tudo, fui avião, endola, vapor, financeiro, tudo... Até o dia da morte do Major.

Eu tinha uns 18, 19 anos, por aí. Tava puro de sangue ainda, sem uma ocorrências nas costas, quando rolou um caô aqui em cima: a filha de um Major adorava frenquentar os bailes, e era uma das consumidoras mais ativas do pó de bruxo. Cês tão ligado, né?

Volta e meia era invasão, e nós começamos a achar que tudo isso, era por culpa dela. Numa dessas, um dos nossos grandes morreu, e como sangue se paga com sangue, alguém ia precisar quitar essa dívida.

Fizemos tudo nas ordens, como manda o figurino. Pagamos um cu azul corrupto e ele nos dava as coordenadas das invasões, e de fato, estávamos certos: era por causa dela.

Na última, ele estava preparando algo maior, afinal, a patrícia já tava aqui pra cima papo de 2 meses, sem descer. E eu, como, novinho, cara de playboy, era a melhor solução para esse problema.

Eu sabia tudo da vida da patrícia, ela ficava horas trocando ideia com nós na lojinha, contava do pai dela, do dinheiro, das influências, de como ela odiava a vida que levava, dos programas que fazia, da rotina do velhote, enfim... Ela nos deu, sem querer, o mapa do tesouro.

A missão era: encontrar com o pai dela pelas redondezas do prédio, fingir ser um dos amigos dela, que também estava desesperado com o seu sumiço, tentar fazer com que ele me levasse pro prédio em um dia de compras de mercado e subir pelo elevador de serviço, que não tinha câmeras. E assim, eu fiz.

Por umas duas ou três semanas, eu dei umas incertas nele pela área, perguntava por ela e se tinha notícias. Isso rolava pelo menos umas duas vezes por semana, em horários diferentes.

Na última vez que trombei com ele, ofereci ajuda pra ele conseguir ir direto a ela aqui no morro, disse que tinha informações valiosas e até uma foto dela recente, mostrando que estava viva e bem.

Sem pensar duas vezes, ele me ofereceu pra ir em casa e eu o ajudei com as compras. Sim, a primeira parte do plano havia dado certo e dali pra frente, era tudo ou nada, vida ou morte. Caso o bagulho desse errado pra mim, eu não estaria aqui pra contar essa história, afinal, o cara tinha contatos muito fortes, era o Major Aquino, já estava reformado, mas ainda tinha sua moral.

Lá de cima, uma das nossas meninas, conseguiu convencaer a Mônica, filha dele, de que ela precisava ir em casa, buscar algumas coisas e conversar com o pai, se não, os meninos da loja, parariam de vender pra ela e assim ela fez.

A primeira parte, foi coisa rápida, uma pistola, um silenciador e um tiro. Sem suspeitas!

Quando ela chegou, também não tinha muito o que fazer. Por alguns segundos, ela me olhou nos olhos, me reconheceu e quis gritar, mas não deu tempo. Trabalho executado bom sucesso.

A parte mais difícil foi o pós: o Pit queria que e eu levasse a cabeça do Major pro morro. Então, era eu, uma serrinha e uma ordem.

Demorei algum tempo pra conseguir, mas fiz. Troquei de roupa, embrulhei a cabeça nas roupas, joguei numa saca de lixo grossa, botei na mochila e, pelo mesmo lugar que entrei, eu saí.

É porque eu não acredito em Deus, nem em nada divino ou macabro, mas com certeza, naquele dia, eu fui invisível.

Cheguei no Judão por volta de 1h da manhã, o Pit me esperava sentado, na porta da loja central do morro. De um lado, um fuzil em pé, apoiado no chão. Do outro, um copo de whisky caubói. E eu lembro perfeitamente de tudo...

FLASHBACK ON

Pit: Qual foi, Ricardin? — levantou quando me viu chegando perto. — Fala tu, demorou pra caralho. Já tava achando que quem tinha rodado era tu.

Ricardinho: Tá aí. — deixei a mochila na calçada.

Pit: Abre essa porra, caralho. Faz o trabalho completo!

Minha consciência já estava pesada, eu tinha vindo do condomínio até o morro apé, revivendo mil vezes a cena, sentindo o cheiro do sangue, o cheiro da morte...

Abri a mochila, peguei a cabeça, desembrulhei e ele pegou a mesma. Pegou com um gosto que eu nunca vi, tá ligado? Parecia um troféu (e era) na mão dele.

Pit: Tu é brabo, menorzin. — seus olhos brilhavam. — ATENÇÃO! — gritou e fez com que geral do plantão olhasse pra nós, deixou a cabeça em cima de uma mesa de alumínio, onde seu whisky estava apoiado e pegou o fuzil. — Ricardinho não existe mais, a partir de agora, esse moleque aqui é o Major. — em seguida, deu uma rajada e os moleques também.

Eu não tinha reação, não conseguia nem sorrir. A adrenalina já tinha abaixado e eu só queria deitar na minha cama.

FLASHBACK OF

Até hoje, ninguém sabe como aconteceu. E durante muito tempo, o caso passou na televisão, a polícia buscava informações, era o assunto mais falado em todos os lugares.

Tá ligado que hoje em dia, nada disso me incomoda, conto isso com tranquilidade, mas depois do serviço feito, quando ainda era recente, eu fiquei algum tempo sem dormir e diria que até um pouco assombrado.

Hoje, já perdi as contas de quanto sangue eu carrego na bagagem, sem contar que nunca descobriram sobre esse homicídio, mas sobre outros... Por isso que é muito difícil me ver na pista, só em último caso. Aqui eu tô em casa, aqui eu tô seguro.

Fiz a fiscalização das suas lojas que eu sou responsável e fui pegar qualquer boia na casa da minha mãe, que apesar de odiar a vida que nos leva, trata a gente como se nós tivesse 5 anos de idade, falta pouco colocar comida na boca.

Aline: Lembrou que tem mãe, né filho da puta? — disse ao abrir a porta pra mim.

Major: Precisa agredir não, véia.

Aline: Véia é a puta que te pariu. — me empurrou pra dentro de casa. — Vai, vai lavar essa mão suja de dinheiro sujo, mulher e trabalho sujo que você faz, vai logo e vem almoçar que são três horas da tarde e eu duvido que você tenha comido alguma coisa hoje.

POR UM FIOOnde histórias criam vida. Descubra agora