Ellie não gostava da maioria das pessoas, porque elas nunca entendiam nada, mas fingiam que sim, nunca sabiam de fato, apenas viviam de achismos e isso a irritava profundamente, Ellie sempre achou que verdades e saberes absolutos não existiam, e tinha a plena consciência de que morreria sem compreender o mundo, sem compreender dez por cento de tudo aquilo que achava importante saber e isso a frustrava um pouco.
Suzie Bonnie, sua chefe, era uma dessas mulheres perversamente mimadas que só olham para o próprio umbigo, Suzie cresceu em uma família rica, se tornou herdeira antes do tempo, visto que seus pais decidiram deixar os negócios da família para curtirem a "aposentadoria", conhecendo o máximo de praias possíveis espalhadas pelo mundo, quando a senhorita Bonnie contou esse fato na cozinha da cafeteria Ellie se sentiu incomodada, ela amava praias, o mar, a brisa dos oceanos e achava completamente injusto não ter a oportunidade de passar um bom tempo conectada com a natureza.
Ellie também achava que Suzie Bonnie, apesar de ser vista com bons olhares, tinha uma vida pacata e uma existência pequena e sem sentido, ela não media palavras para profanar contra Suzie acerca da fútil vida que ela levava. Fútil porque Suzie tinha três carros, cada um de uma cor, e modelos diferenciados que chegavam a custar mais do que uma boa mansão no centro de São francisco (Ellie sempre quis morar em São Francisco, e não na pequena cidade chamada de Old Stone).
— Old mesmo, tudo por aqui é velho e ultrapassado, incluindo a mentalidade da população - Dizia Ellie para si mesma.
Suzie tinha um quarto apenas para suas maquiagens, e um closet onde guardava roupas de marca e uma coleção de sapatos de salto fino, estranhos, dos quais ninguém se atreveria a comprar mas que por algum motivo ela comprou. Não era uma mulher simpática, e nem inteligente, sua ignorância com as pessoas e seu modo de querer se ausentar da verdade de ser apenas mais uma em meio a oito bilhões de pessoas, mostrava que ela não era uma mulher sábia, todas as pessoas que verdadeiramente se entregam ao conhecimento do mundo exterior e da busca constante por si mesmas, compreendem em algum momento de suas vidas de que são pequenas, nada além de poeira cósmica, sopradas por um universo sem fim, invisíveis a olho nu.
As pessoas que frequentavam a cafeteria faziam de tudo para agradar Suzie Bonnie, até lhe compravam flores e perfumes caros de vez em quando, os empresários e advogados que frequentavam o local sempre a deixavam pequenas barras de chocolates suíços, como forma de agradecimento ao bom atendimento e ótima qualidade dos doces, pães e cafés servidos a eles todas as manhãs. Ellie ficava observando o quanto a sociedade era hipócrita e fragmentada, distinta entre classes sociais, afinal as meninas da cozinha eram as verdadeiras heroínas desses caras que utilizavam as notas de cem dólares ao invés do cérebro para pensar, eram elas que acordavam cedo todos os dias e colocavam a mão na massa, literalmente, para que o donut de creme de chocolate branco com geléia de morango e pedaços de frutas vermelhas, fosse considerado o melhor de toda a cidade. Mas as boas meninas, as esforçadas, trabalhadoras e por fim e mais importante, as "pobres", como Ellie, nunca eram de fato notadas.
Mas para o universo Suzie Bonnie também não era notada, nem mesmo para o mundo, sua existência pequena e singela, nunca significou nada para ninguém e nem contribuiu para o planeta coisa alguma, quando Suzie se deitar nos braços da eternidade ou da finitude, seus irmãos mais novos ou chorarão ou agradecerão, assim como suas amigas e amigos mais próximos, quem sabe? Talvez seus primos e seus colegas do golfe também se sintam chateados, mas no outro dia pós sua morte, as flores do outono continuarão a cair, e no final de semana seus colegas irão jogar golfe novamente, seus primos irão num rodízio de comida japonesa e seus irmãos estarão assistindo a shows de rock em pubs noturnos, tudo terá acabado para a senhorita Bonnie, mas o ciclo da vida e da natureza ainda estará ocorrendo normalmente e sem nenhuma interrupção ou interferência.
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A Indomável
ChickLitA história de Ellie Watson, uma mulher de apenas 25 anos, que já fora chamada de Perversa, Rebelde, Louca, Imatura, Mentirosa, Interesseira, Bruxa, Malvada, Cruel e Escória social. Ellie passou a gostar de si, depois de odiar-se, seguiu seus sonhos...