Caótica Infância

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Sempre fui uma garota comportada, seguindo as regras, obedecendo meus pais, nunca dei trabalho por confusões na escola ou na sociedade, era uma criancinha alegre e adorava explorar, tinha olhos brilhantes, um sorriso lindo, adorava os animais e tudo era perfeito, tinha os brinquedos que amava, um pai que ensinava a ler e escrever, nada de ruim poderia acontecer.

Exceto...

Por isso.



Meus pais não estavam bem já a algum tempo, mas eu era nova de mais pra entender, uma criancinha ingênua no meio da confusão de duas pessoas que não podiam mais habitar a mesma casa, mas eles tinham algo que unia eles: Eu
Meu pai sempre quis continuar, não queria que o casamento dele acabasse, queria a qualquer custo a mulher que ele amava de volta, ele levava presentes pra ela, até ela se recusar a ver ele, aí os ‘’presentes’’ começaram a ser entregues por mim, ele também me pedia pra levar DVD’s de casamentos, e varias outras coisas que pudessem amolecer o coração dela, mas ela mandava tudo de volta pra ele, as vezes até jogava fora. Ele continuou tentando convencê-la de voltar, mas a cada vez ele perdia um pouco mais as esperanças. Só para deixar claro, eu não entendia de inicio que eles tinham terminado, nem se quer tinha capacidade de entender a dimensão do que de fato significava o casamento, e o amor, mas com o passar das semanas e meses eu fui me tocando de que meu pai não foi cuidar dos meus avos, ele só tinha saído de casa porque minha mãe não queria mais ficar com ele.
Como podem imaginar é um saco quando você quer seguir sua vida e a pessoa de persegue pra onde quer que você vá, então é claro que minha mãe não aguentava mais, com isso além dela brigar com meu pai, a família dela também foi junto, não digo como uma luta de MMA ou uma confusão de escola, mas vários bate bocas e ameaças que aconteciam de vez em quando, as vezes quando ele me buscava pra passar o fim de semana com ele, ou quando conversavam sobre mim em relação a eles, ou ate mesmo quando se ‘’esbarravam’’ em algum evento da cidade, poucas vezes eu estava no meio dessas confusões, e me lembro de algumas onde foi mais grave, com arranhões, xingamentos, tapas, mas meu pai não fazia nada, ele sabia que se fizesse ele não me veria mais.
Tudo piorou quando minha mãe arrumou um namorado, como a maioria das crianças eu fiquei meio receosa e com vergonha. como minha mãe planejava se mudar nós dormimos lá, e levei meu gato, que era meu companheiro, estava comigo desde meus 3 anos ate onde me lembro, ou seja, desde antes da separação, lá o meu gato não se sentiu confortável, talvez pela mudança ele ficou meio quieto e irritado, mas parecia que tinha algo de errado. Em um tempo teve uma festa lá, com muita gente, meu gato novamente ficou estressado, eu queria ficar com ele para que nada acontecesse, já que estavam saindo e entrando na casa, o portão as vezes ficava aberto, não queria que ele fugisse e se machucasse, pois já havia acontecido isso a muito tempo. Infelizmente eu não consegui vigiar ele o tempo todo, e ele sumiu, não achávamos ele em lugar nenhum, eu era criança e qualquer coisa que eu fizesse deveria ser autorizada por um responsável, pois como disse no começo, eu era obediente, minha mãe disse que ele voltaria no outro dia como sempre acontecia quando ele fugia. No outro dia tínhamos uma viagem marcada, e eu estava muito preocupada com meu gato. Saímos de carro e antes de chegar ao final da rua...



Não podia acreditar no que estava vendo, e pelo que eu me lembro foi a primeira vez na vida que eu tive uma perda consciente, com isso quero dizer que foi quando eu tive noção de que aquele gato que me acompanhou durante uns 8 anos da minha vida, que estava comigo na hora de dormir, quando eu chorava, sorria ou brincava, nunca mais ia estar lá, foi quando eu percebi o quão cruel é a perda, meus olhos se enchiam de lagrima enquanto o desespero tomava conta de mim, nem tive muito tempo pra digerir aquilo tudo, enterramos ele e viajamos.
Depois disso eu nunca mais quis estar na casa daquele homem, mas eu não tinha escolha. Além disso ele também participava das discussões que meu pai e minha mãe tinham, que foram ficando cada vez piores, os xingamentos, as ameaças, os socos. Tudo isso foi pra justiça é claro, mas se pensa que isso acabou bem está enganado, continuou cada vez pior e pior, ouvi aquele homem com quem eu morava ameaçar atirar no meu pai e também na minha mãe, ele não era um cara legal, era um rico que queria ser o rei do mundo, ele nunca fez nada de ruim diretamente a mim, a não ser pela vez que me envergonhou na frente dos meus amigos falando sobre uma característica em mim, pois é ele é um cuzao mesmo.
Nessa época não ficamos muito tempo, nós saímos da casa daquele homem, ele e minha mãe deram um tempo, e eu ganhei outro gatinho. Depois de algum tempo eles dois voltaram e fomos morar de vez na casa dele, me trocaram de escola e perdi o contato total com todas as minhas amigas, como eu morava muito longe acabei ficando sem ninguém mesmo, dai pra frente eu entrei em uma depressão que só piorava, eu fazia tratamento desde os 4 anos com psicólogos por causa da separação dos meus pais, mas acabei piorando pela situação que estava, nada fazia sentido, como se minhas vontades, sonhos tudo que já fui na vida tivesse sido roubado, estava presa num corpo que eu não conhecia mais, um corpo que não me respeitava, cada vez mais desanimada e cansada sem fazer nada, meus pais tentavam ajudar do jeito deles e minha mãe me levava a psicólogas e psiquiatras mas tudo que eu desejava era deixar de existir.
Um dia eu estava no meu quarto, pois dormia sozinha, com uns 9 ou 10 anos, eu dormi, e acordei assustada, a TV estava cheia de risquinhos cinzas, como se estivesse sem sinal, e eu estava assustada porque ouvi uma respiração, e aquela silhueta masculina estava em pé, ao lado da TV, seus olhos e dentes eram brancos e brilhavam, fiquei completamente apavorada e paralisada, minha respiração estava descontrolada, coração disparado, ate que ele sumiu, e desde aquele dia ele continuou aparecendo em meus pesadelos e pensamentos.
Nesse período foi tudo bem complicado, mas acabei conhecendo a Sara, que era minha vizinha, viramos melhores amigas, com o tempo tudo foi melhorando, fui fazendo amizades, poucas, mas pra quem estava sozinha isso já é muito. Depois de alguns anos conheci um garoto e também me mudei de novo, minha mãe terminou de vez com aquele cara. Um tempo depois comecei a namorar, não era lá bem saudável, afinal eu tinha quase 14 anos, não tinha maturidade, tanto que acabei tendo um relacionamento bem difícil, com brigas e desentendimentos, no fundo eu sabia que não iria pra frente mas eu estava sega pela obsessão, eu sentia que a minha alegria dependia dele, mas na verdade eu só não queria aceitar que ele havia terminado depois de tantos anos, eu chorei, implorei, me humilhei e tanta coisa mais que tenho até vergonha de citar, mas eu estava sofrendo, até planejei um suicídio, o que foi patético por que quem é que planeja morrer com 4 comprimidos? Com o conhecimento que eu tinha e pesquisas no google eu acabei achando que se misturasse remédios de dor poderia morrer, mas só tive pesadelos, depois disso mergulhei em uma vida de festas e bebida, ficava com varias pessoas com a intenção de superar ele, mas não resolveu, a bebida era incrível no começo, era algo que eu demonizava por ser prejudicial a saúde, mas quando provei entendi... as pessoas só querem poder aproveitar a sensação de não estar naquela realidade, você pode ser uma pessoa fodida, com uma vida ruim, mas quando bebe é como se entrasse em outro mundo, isso é uma fuga incrível, mas quando se torna constante perde a graça, e vira um vício. Eu era mais retraída depois da separação dos meus pais, vergonhosa, e com a bebida me tornei sociável, isso foi incrível e eu consegui fazer mais amizades, consegui superar meus medos. Nessa época fiquei com algumas pessoas, tive alguns crush’s, mas não queria sentir aquela sensação do termino de novo, foi horrível. Comecei a fazer academia e isso ajudou muito em tudo, mas um dia aquele garoto se aproximou, deixou claro que queria namorar comigo e teve paciência mesmo quando eu disse que não queria nada com ele pois tinha terminado a pouco tempo e tinha medo de me dar mal, mas acabei me apaixonando, eu vi que algumas coisas que ele fazia depois de um tempo que não eram muito legais, mas no começo ele foi a pessoa mais compreensiva do mundo, e me conquistou, mas quando eu finalmente queria algo com ele, não deu certo, fiquei me perguntando o que fiz de errado ou o que não fiz, o que eu não tinha? Ele não queria nada desde o começo? Eu estava decepcionada e de coração partido, mas não precisava dele, ele não era tão bom assim, então fiz o que fiz da ultima vez, voltei para bebidas e tudo mais, mas nada daquilo fazia mais sentido, tentei beber menos e achar um novo sentido na vida, consegui por um tempo, mas depois tive aquela sensação de estar perdida, fiquei assim por um tempo. Um dia meus amigos me chamaram pra uma festa da cidade, eu não estava muito bem então pensei que pudesse me divertir lá, mas infelizmente fiquei pilhada a noite toda mesmo sem beber um pingo de álcool, estávamos lá quando um conhecido apareceu, eu nunca tinha conversado com ele mas me lembrava dele, nem pensei, as palavras so começaram a sair, cumprimentei ele e disse que lembrava dele de uma antiga escola, ele era amigo do namorado da Anna, ele disse que lembrava e conversamos um pouco, depois ele foi pro grupo de amigos dele, estavam fumando muita maconha, eu nunca experimentei mas eu tinha muita curiosidade. Minha amiga disse pra eu ficar com ele, realmente achei ele muito bonito, mas ele já estava muito bêbado e chapado, sabe-se lá o que ele já não tinha feito aquela noite, mas acabaram juntando nos dois, ficamos, ele conversou mais comigo e pediu meu número. No outro dia eu pensei que nunca mais o veria, mas ele me mandou mensagem, pelo visto ele salvou certo...

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⏰ Última atualização: Jul 17 ⏰

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