Demorei, não é? Dessa vez foi um pouco mais complicado porque havia dados que eu precisava pesquisar antes de postar o capítulo. Eu nem vou enrolar muito, vou só agradecer demais por todos os comentários e favoritos que me deram. Vocês são incríveis! O capítulo é na visão do Luke.
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Dois dias após a minha conversa com a Nic por telefone, eu já estava em Londres.
Depois que voltei para o hotel tentei convencer a Tonya que eu precisava mesmo saber de onde eram aquelas fotos e ela por sua vez, continuou evitando a resposta, e mesmo que esse comportamento dela me irrite profundamente, tenho plena consciência que a culpa também é minha.
Eu nunca deveria ter alimentado essa relação com ela.
Muito menos quando eu não tinha certeza sobre o que realmente sinto em relação a Nicola. Quanto mais perto eu acredito que estou chegando a entender, mas para longe eu a afasto e nessa trajetória acabei carregando uma terceira pessoa que nessa idade não deveria está perdendo tempo com um homem que não sabe o que quer.
Tenho maturidade o suficiente para entender que errei e venho errando todo dia.
Maturidade...
É claro que não era isso. Eu só tinha senso sobre minha falta de responsabilidade afetiva. Toda vez que eu olho para ela, toco ou sou tocado por ela, tenho seus lábios sobre os meus... A única coisa que me vem à cabeça é que com a Nicola é melhor.
Eu sei, eu sou um babaca. Não há desculpas, explicações ou teorias para explicar o meu comportamento.
Meu celular tocou e acabei de receber as informações para o evento da GQ e como sempre, eu posso dar nomes de pessoas que eu quero que vá comigo. Eu chamaria a Nic é claro, mas não nos falamos desde aquela vez e temos esse acordo não verbal sobre estarmos supostamente de férias, exceto pelo fato que ainda estou cumprindo minha agenda programada e ela é claro, deve está se preparando para as gravações do seu próximo filme.
Resolvo não levar ninguém. Não preciso levar ninguém que eu não quero ou que não me faça sentir confortável nos lugares. Ultimamente sinto que em alguns ambientes ocorre um tipo de distanciamento entre as demais pessoas e eu, principalmente se eu estiver acompanhado. Não estou surpreso, é claro, que algumas pessoas tomariam dores sobre algo que não as convém, mas daí a se comportar de certa maneira que digamos possa chamar no mínimo de duvidosa, para um ambiente profissional, chega a ser o cúmulo para dizer o mínimo.
Vou até a cafeteira elétrica, pego uma caneca que ganhei da Nic quando começamos a nos preparar para nossa temporada. Nela estava escrito: “Sua melhor amiga mandou tomar café”, e uma foto dela mandando um beijo, enchi ela e fui para a sala.
Segurando o controle, liguei a TV e fui tentar encontrar algo para ocupar minha cabeça, mas eu continuava passando muitas vezes pelo símbolo da Netflix e é claro eu voltava a encarar o cartaz de Bridgerton. E essa não era a primeira vez que eu me pegava fazendo justamente o que a maioria dos fãs faziam. Rever algumas cenas. E a que coloquei agora, me fazia lembrar de um dos momentos mais memoráveis como a Nicola.
No final do segundo episódio, em meados dos últimos 4 minutos e 48 segundos para acabar, marca a cena do primeiro beijo de Colin e Penélope, mas até aquela cena acontecer, muita coisa aconteceu antes e o que aconteceria posteriormente tinha se desencadeado ali, por conta daquela cena.
FLASHBACK ON
Tínhamos acabado de receber a prévia do roteiro sobre a terceira temporada e uma das primeiras cenas que seriam gravadas, seria a do beijo tão esperado do casal principal. Aquela cena tinha sido uma das que tanto eu quanto Nic queríamos muito que fosse o mais próxima possível do que ocorreu no livro para agradar os fãs. A gente trabalhou forte lado a lado com a equipe para que ficasse do jeito que todos esperavam.
Quando eu li a cena do beijo, olhei para Nic e sorri sem graça. Ela, por outro lado, estava radiante. Ela adorou o fato da cena ter saído como nós imaginávamos e como a partir dali haveria uma mudança na vida de nossos personagens.
Tudo estava perfeito durante a pré-leitura, mas na minha cabeça só havia uma coisa martelando.
Eu beijaria a minha melhor amiga.
E isso não era ruim. Aquela altura do campeonato, parte do meu coração já tinha entendido que havia um clima muito estranho entre a gente. Eu estava comprometido, as coisas não eram ruins entre minha ex e eu e ela também tinha um ótimo convívio com a Nic, mas mesmo assim, algo em mim sempre sentiu que havia mais, tinha que haver mais.
Como falei antes, em uma noite de conversa e bebedeira, eu falei sobre treinarmos beijos e ironicamente ou não, ela entrou na minha onda concordando e agora eu teria que lembrá-la sobre aquela conversa.
Quando a leitura terminou, todos saíram da sala ficando somente Jess, ela e eu, a encarei gesticulando para a saída, ela entendeu o recado, me despedi da Jess e esperei a Nicola na porta enquanto ela se despedia também.
Enquanto Nicola vinha na minha direção, percebi o sorriso leve e divertido que a Jess possuía nos lábios. Hoje tenho certeza que não era só ela que suspeitasse de algo ou até mesmo já tinha entendido primeiro até mesmo que Nicola e eu, o que havia entre a gente.
Do lado de fora, dei meu braço para a minha amiga e ela o envolveu colocando sua cabeça apoiada abaixo do meu ombro.
—Vai para casa? –ela me perguntou.
—Ainda não sei.
Demos mais alguns passos, cumprimentamos um grupo de pessoas que julguei serem responsáveis pela parte técnica dado os equipamentos que eles carregavam, e logo voltamos a andar da mesma maneira que antes.
—Até agora não tenho o que reclamar do que está sendo feito no roteiro. Acredito que na hora da produção podemos ver a dinâmica da cena e caso a gente ache que precisa melhorar algo, a gente fala. Concorda? –me perguntou apertando um pouco meu braço com a sua mão pequena.
—Sim.
—Eu estou tão empolgada Lukey! –ela deu um daqueles lindos sorrisos que iluminam tudo a sua volta –Eu achei que a essa hora estaríamos enchendo a paciência do Luke.
—Realmente. –eu ainda não sabia como chegar no assunto e por isso estava respondendo quase que de maneira automática.
Quase próximo a saída que dava em direção ao estacionamento, parei e segurei a mão dela para que ela me olhasse.
—Nic -chamei.
—Aconteceu alguma coisa? –falou baixo como se eu fosse contar algum segredo. Os belos olhos azuis tão claros me encarando como se lesse minha alma e por um segundo perdi o rumo.
Aquilo aconteceria algumas vezes. Muitas vezes na verdade e as vistas de muitas pessoas que perceberiam o óbvio.
—Lukey? Você está bem? –tocou a pontas de seus dedos no meu rosto me despertando – está sentindo algo? Está ansioso?
Ela disparou perguntas ficando alarmada e eu só consegui sorrir. Sorri feito um bobo.
—Não é isso Nic.
—Então, o que houve?
—Você viu sobre a cena do beijo.
Ela endireitou a coluna, se afastou um pouco e fez o que eu julgo ser o ataque mais covarde dela.
Em pleno corredor nos interiores da Shondaland, Nicola Coughlan, corou. ELA COROU!
Eu não podia acreditar que a mulher que eu mais via ser abertamente tranquila com todo tipo de situação, simplesmente corou quando falei sobre a cena do beijo, e essa não era a primeira vez que falei, mas talvez essa era a primeira vez que a situação era algo concreto e com data marcada.
—Lukey eu... –ela colocou a mecha solta do cabelo atrás da orelha, deu um sorriso sem graça. Ela é o ser humano mais imune a vergonha que eu já conheci na vida e simplesmente estava acanhada olhando para mim.
—Nic lembra que eu falei sobre testar o beijo antes de gravar?
—Eu lembro, mas...
—Relaxa, se você está insegura em fazer isso, não precisa se preocupar. Eu converso com a coordenadora e a gente vê o melhor método para acontecer sem você ficar tensa.
—Não Luke, na verdade eu queria conversar com você pra gente realmente fazer isso.
—Ótimo! Eu converso com o diretor e a coordenadora para a gente tentar antes de um jeito sem muita gente perto no set...
—Eu pensei de outro jeito. –ela desviou um pouco o olhar e depois ficou o olhar no meu.
Eu sei que os fãs possuem uma visão minha e da Nic bem diferente. Eu sou introspectivo, quieto, sutil. Ela é atrevida, descontraída, desinibida. E durante algumas entrevistas pós a primeira parte, fizeram perguntas sobre quem de nós dois era o mais atrevido e ela sempre achou que era ela, mas depois desse momento em que ela nitidamente estava tímida sobre o beijo, percebi que eu com certeza era o mais atrevido de nós dois.
—Que jeito você pensou?
—Eu não sei... Achei que você poderia dar uma ideia.
—O que você tem medo? –toquei seu ombro para que ela voltasse a olhar nos meus olhos novamente o que ela fez no ato.
—Eu não quero ninguém analisando se temos ou não química nisso. Não sei dizer, mas fico insegura de como vamos passar a emoção certa para o telespectador, se parecermos duas estátuas se beijando...
—Ei, respira. -pedi –aposto que vamos conseguir.
Eu levantei o meu olhar e encarei o topo da cabeça dela, não era difícil dado ao tamanho dela, de qualquer maneira, meu olhar se fixou no letreiro pequeno e luminoso em vermelho, escrito SAIDA. Logo voltei a olhar para ela e continuei.
—Quais os seus planos para hoje?
—À tarde vou fazer teste de figurino para uma sessão de fotos e a noite estou livre.
—Eu vou a um jantar de família. Na volta posso passar na sua casa para conversarmos sobre isso? Acho que precisamos trocar ideia sobre, vê o que funciona pra gente.
—Por mim tudo bem. –ela sorriu divertida e pegou no meu braço novamente e abriu a porta com a outra mão. Nos despedimos no estacionamento, o motorista dela a levou junto com a sua assistente e eu saí com o meu.
Mais tarde naquele dia, tudo ocorreu normal. Eu não estava ansioso nem nada do tipo. Conversei muito com a minha família, troquei ideia com amigos e conversei muito com a minha namorada da época sobre essa insegurança que querendo ou não eu também tinha igual a Nic.
Por ser atriz ela também entendia tudo o que a gente estava passando, mas principalmente parecia compreender que no nosso caso, havia a tal “expectativa” vinda de terceiros e que isso influenciava muito no nosso trabalho. Uma parte de mim suspeita que já naquela época, ela também era uma das pessoas que via o que eu não via, principalmente que no nosso final de relacionamento, ela disse a seguinte frase:
“—Eu errei, mas você erra todo dia por não ver a própria felicidade estampada em sua cara. E ela não está mais nas minhas mãos.”
Enfim, o dia correu incrivelmente normal.
O jantar não durou muito e logo que deixei minha ex em casa, eu fui até o apartamento da Nic. Eu tinha preparado uma surpresa para ela, pra que ela pudesse ficar mais tranquila.
Assim que cheguei e bati na porta, ela me recebeu com um sorriso simpático, daqueles que só ela sabe dar. Lembro perfeitamente da roupa que ela usava, pois destacava muito o tom da pele dela. Era um moletom de lã vermelho com uma calça preta um pouco justa no corpo e nos pés ela usava uma pantufa de gato que dava um ar infantil. Não era nada que me surpreendesse, era o jeito mais normal dela de estar em casa, só que naquele dia ela estava estranhamente linda!
Eu não sei dizer se ali fora a primeira vez que eu realmente olhei para Nicola, mas o tom do vermelho sobre a pele dela, o ombro esquerdo de fora da gola mais largar e caída mostrando a alça do sutiã preto, o rosto limpo sem maquiagem ou coque de cabelo desalinhado propositalmente, tudo nela teve um brilho aos meus olhos naquele dia, que eu mais uma vez me sentia aéreo sobre o olhar dela.
—Desculpa Lukey, não consegui preparar nada pra gente comer. –ela me deu passagem e eu despertei do torpor para entrar.
—Eu acabei de comer Nic, não vou sentir fome tão cedo.
—Ah esqueci que você ia para um jantar em família. Como foi? –ela fechou a porta, baixou o olhar e passou por mim indo sentar no sofá. Colocou os pés para cima e abraçou uma almofada, enquanto me encarava esperando eu sentar.
—Foi normal. Um pouco barulhento, mas você sabe como é família reunida... –ela me lançou um sorriso triste e eu me condenei por falar aquilo.
Ela não morava perto da família e sente saudades da mãe quase constantemente.
Era outro fato que me fazia admira-la mais ainda.
Enfrentar um país novo a procura de realizar um sonho e fazer tudo isso longe da família, era realmente algo de se admirar.
Tirei meu casaco e coloquei no suporte, segurando a pasta que tinha nas mãos, sentei na outra ponta.
—Trouxe algo para a gente analisar e pensar junto.
—O que é? –me olhou curiosa, quase que instantaneamente mudando o olhar.
—Conversei com a Jess. Expliquei por cima como estávamos sobre a situação e pedi um favor para ela. –abri a pasta e retirei os papéis que eu trouxe e a entreguei.
Ela leu o enunciado e sorriu novamente.
—Você pegou o pré-roteiro? Como isso vai nos ajudar?
—Eu conversei com algumas pessoas, queria um jeito da gente não se sentir travado e me aconselharam a ler o roteiro com você, tentarmos entrar nos personagens, trabalhar na cena antes de receber instruções da equipe.
—Tipo, fazer nós por nós mesmos?
—Sim, nós dois fazermos a nossa maneira o que a gente espera dessa cena. Você acha que consegue?
—Claro! Eu consigo. Admito que estou mais nervosa com o primeiro beijo do que com as cenas íntimas, mas acredito que com você, nós dois fazendo isso junto, vai dá certo. –me olhou da maneira singela e doce e eu não pude evitar de sorrir.
—Eu jamais conseguiria fazer isso se não fosse com você Nic. –peguei na mão livre dela passando o máximo de segurança que eu poderia passar naquele momento. Talvez fosse ali que se consolidou um dos nossos maiores gestos públicos um com o outro.
—Fico feliz Lukey, mas iai, por onde começamos?
—Eu estava pensando se a gente não poderia reescrever a cena como imaginamos, você tem o livro não é?
—Sim.
—Sabe a página que tem o primeiro beijo?
Ela sorriu tímida, ganhando um leve tom de rosado nas bochechas.
—Eu deixo marcada as partes importantes para quando começar as gravações, a gente ter um pouco da obra original.
—Isso é ótimo Nic! Andei vendo algumas daquelas postagens que você me mandou, com pedidos para a terceira temporada, e acho que se partirmos daí, teremos um ótimo resultado.
—Também acho. –Ela pediu licença e saiu rumo ao quarto dela e voltou com o pequeno livro na mão.
Eu me lembro da primeira vez que ela me mostrou o livro. Ela tinha um cuidado enorme com ele, e quando uma vez eu quase dobrei a ponta da capa, ela ficou muito estressada.
Ela sentou do meu lado e procurou a página marcada. Ela começou a ler toda a cena, passando pelo capítulo 8 onde a cena ainda está sendo construída em que Colin e Penélope conversam na sala da Massão Featherigton, até o momento em que meu personagem explica o porque havia um grande problema em Eloise ser Lady Whistledown e para isso ele descreve uma situação em suposição em que ele espalha um boato sobre tentar seduzir Penélope, personagem da Nic.
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Our Story Didn't Happen
FanfictionA nossa história não aconteceu. Não aconteceu porque não era o momento, não aconteceu, pois estávamos em páginas diferentes. Talvez não tenha acontecido porque não era para acontecer. Não aconteceu porque nos amamos, mas não soubemos viver esse amor...