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Daniel 🔥

7 anos atrás;
📍Rocinha.

Márcia- COMO VOCÊS ENTRAM NA CASA DE UMA CIDADÃ DE BEM DESSA FORMA? - Colocou-me atrás dela juntamente com meu irmão.

PM- Senhora, por favor, se acalme! Estamos apenas fazendo o nosso trabalho! - Apontou o fuzil na nossa direção.

Márcia- O SEU TRABALHO? SENHOR, O CORPO DO MEU MARIDO ESTÁ ESTIRADO NO CHÃO, VOCÊS MATARAM MEU MARIDO! - Virei para o meu irmão e abracei ele apertado. Ele retribuiu tampando os meus ouvidos.

PM FEM- EU JÁ MANDEI TU SAIR DA FRENTE, PORRA! TU TA QUERENDO PEITAR AUTORIDADE? - Ficou apontando o fuzil na nossa direção. - BORA NEGUINHO, PASSA PRA CÁ, PORRA!

Nilton- Eu não fiz nada, senhora! Eu sou inocente! - Falou assim que o policial puxou ele com brutalidade me empurrando para o lado. - Eu sou trabalhador, senhor!

Eles algemaram ele e puxaram meu irmão à força para fora de casa.

Minha mãe correu atrás deles totalmente desesperada e eu fui atrás dela, era apenas uma criança que não estava entendendo totalmente a gravidade da situação.

Márcia- Leva ele para uma delegacia pelo menos. Esse é o direito dele!

PM- Que direito, porra? - Segurou o rosto dela. - QUE DIREITO, FAVELADO TEM DIREITO? VOCÊS AMAM PEDIR DIREITO PRA BANDIDO, MAS PRA QUEM SALVA A VIDA DE VOCÊS, VOCÊS NÃO ESTÃO NEM AI!

Ele soltou o rosto dela bruscamente fazendo ela tropeçar e bater com as costas na parede.

Porque o policial está agredindo minha mãe?

Márcia- Meu filho, não fala nada, eu vou te encontrar lá. Não se preocupe! - Foi até a janela do carro e falou em meio aos prantos. Nunca vi minha mãe tão desesperada igual estou vendo hoje.

Nilton- Mãe eu juro, não fiz nada, eu não fiz nada, mãe! - Colocou a cabeça para fora da viatura. - Você acredita em mim, Daniel? EU NÃO FIZ NADA, MÃE!

Ele gritou quando o carro da polícia foi arrancado para longe da gente.

Olhei para a minha mãe que se jogou no chão em prantos. Fui até na direção dela e puxei ela para a mesma levantar, mas foi em vão. Agora, só agora estou entendendo a gravidade de tudo o que está acontecendo.

O ódio subiu em minha mente, um bolo de ar ficou preso na minha garganta e meu olhar ficou contaminado pela raiva. Olhei para o nosso redor e tinha várias pessoas cochichando e falando umas com as outras enquanto olhavam pra gente, essas atitudes estavam me irritando ainda mais. Uns olhavam com pena e outros não esboçavam nenhum tipo de sentimento.

Meu Deus, como uma criança consegue armazenar tanta raiva? Olhei na direção daquelas pessoas e explodi.

Daniel- ESTÃO OLHANDO O QUE? NÃO TEM NADA PARA VOCÊS AQUI! - Gritei enquanto as lágrimas desciam o meu rosto. - Vem mãe, por favor, levanta!

Por sorte consegui levantar ela e levá-la para dentro de casa.

O corpo do meu pai estava estirado no chão do quintal, as pessoas que antes estavam olhando a gente lá fora, agora estavam quase entrando na minha casa.

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