incondicional, richard ríos

03

𝗥𝗶𝗰𝗵𝗮𝗿𝗱 𝗥𝗶𝗼𝘀

— Ih, que animação é essa, Ríos? Parece que foi atropelado por um caminhão. — A voz de Dudu ecoa no vestiário quando entro, ajustando meu uniforme. Teríamos um jogo em cerca de quatro horas, mas cheguei cedo para treinar mais.

— Culpa do Piquerez, arrombado. Me arrastou para uma festa ontem e me deu perdido. Ficou com uma menina lá e só fomos embora umas cinco da manhã. — Termino de calçar minha chuteira, sentindo o peso da noite anterior.

Dudu ri, um som cheio de incredulidade. — Taporra, irmão! Mas vem cá, ficou com alguém?

Encaro ele com uma expressão séria e de deboche. Nunca fui do tipo de sair para festas, então quase nunca fico com ninguém. Isso sempre foi uma vantagem, nunca saí em página de fofoca por engravidar duas mulheres em nove meses.

— Não. Conheci uma menina morena, só sei o sobrenome, Duarte. Ela estava com uma amiga loira que também deu perdido nela. Só sei que torce pro Grêmio.

— E já caçou no Instagram, TikTok ou Google? — Dudu me olha com seriedade, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

— Como, caralhos, eu descubro o nome de alguém assim? — retruco, irritado.

— Ué, que perguntasse: "Procuro a morena gremista com o sobrenome Duarte que tava na festa tal ontem em São Paulo."

— Eu não, mó mico, fiote. — Coloco minha blusa de treino e pego minha garrafa de água. — Vai vir? — Dudu nega com a cabeça, se sentando na cadeira dele e puxando o celular do bolso. — Beleza, to na academia qualquer coisa.

Hoje teríamos um jogo importante e eu queria muito ser destaque. Seria Derby, um dos clássicos mais importantes do Palmeiras, ou seja, temos que ganhar.

Enquanto caminho para a academia, sinto meu celular vibrar no bolso. Vejo uma notificação de Endrick avisando que chegou. Respondo rapidamente dizendo que estou na academia e guardo o celular novamente.

No caminho, meus pensamentos voltam para a morena misteriosa. Duarte. Torcedora do Grêmio. Será que um dia a encontraria de novo? A vida de jogador era imprevisível, cheia de altos e baixos, e eu não podia me dar ao luxo de me distrair agora.

Chego à academia e começo meu aquecimento, cada movimento pensado e calculado. Hoje, mais do que nunca, precisava estar no meu melhor. O Derby não espera por ninguém, e eu não podia deixar o time na mão.

Enquanto faço os primeiros alongamentos, meus músculos ainda um pouco tensos da noite anterior, tento afastar os pensamentos sobre a festa. Preciso me concentrar no jogo. A academia está relativamente vazia, apenas alguns jogadores fazendo seus próprios aquecimentos. A paz do ambiente é quebrada quando Endrick entra, trazendo consigo uma energia contagiante.

— Fala, Ríos! Pronto para o Derby? — ele pergunta, jogando sua mochila em um canto.

— Sempre. — Sorrio, embora o cansaço ainda pese em meus olhos. — E tu fiote?

— Ansioso pra caramba, irmão. Esse jogo é nosso. — Ele começa a fazer polichinelos, se aquecendo com entusiasmo.

Continuamos nosso aquecimento em silêncio por alguns minutos, o som das máquinas e dos nossos movimentos preenchendo o espaço. Enquanto levanto pesos, minha mente volta para a conversa com Dudu. Será que deveria ter tentado encontrar a tal morena nas redes sociais? Duarte não era um sobrenome tão incomum assim, mas talvez valesse a pena procurar.

— Ei, Endrick, você já encontrou alguém que conheceu em uma festa pelas redes sociais? — pergunto, tentando parecer casual. Ele ri, sem parar seu exercício.

— Já, várias vezes. Hoje em dia é fácil, mano. Só jogar o nome e algumas palavras-chave no Insta ou TikTok que você encontra. Por quê? — Dou de ombros, tentando não parecer muito interessado.

— Ah, só conheci alguém ontem e fiquei curioso.

— Alguém especial? — Ele arqueia uma sobrancelha, divertido.

— Talvez. Só sei que o sobrenome é Duarte e que ela torce pro Grêmio. — Endrick ri de novo.

— Boa sorte com isso, Ríos. Vai precisar.

O treino continua, a intensidade aumentando conforme nos aproximamos da hora do jogo. Cada gota de suor, cada repetição, é um passo mais perto de estar preparado. Após um tempo, decido fazer uma pausa e checar meu celular. Nada de novo, apenas algumas notificações de redes sociais e uma mensagem de minha mãe desejando boa sorte.

Ainda faltam algumas horas para o jogo, então decido seguir o conselho de Dudu e Endrick. Abro o Instagram e começo a busca: "Duarte Grêmio São Paulo". Os resultados são muitos, mas nenhum parece ser a garota da festa. Sinto um misto de frustração e alívio. Talvez seja melhor assim, focar no jogo e esquecer a festa.

Saindo da academia, encontro com o resto do time no vestiário. A atmosfera está elétrica, cada jogador concentrado em sua própria preparação. Coloco meus fones de ouvido e deixo a música me levar, tentando encontrar aquele estado mental perfeito para o jogo.

À medida que a hora se aproxima, a tensão no vestiário aumenta. Abel entra, começando sua preleção com a seriedade que o Derby exige. Cada palavra é um lembrete do que está em jogo, da importância de cada passe, cada chute, cada decisão em campo.

Finalmente, é hora de entrar em campo. Os gritos da torcida nos recebem como uma onda, a energia pulsante de milhares de palmeirenses nos empurrando para frente. Este é o momento pelo qual treinamos, o momento pelo qual vivemos. Olho para meus companheiros de time, cada um com a mesma determinação nos olhos. Hoje, mais do que nunca, somos um só.

Com um último ajuste nas chuteiras, levanto a cabeça e olho para o campo. Este é o nosso território, e hoje, vamos defendê-lo com tudo o que temos.