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A mãe começou A soluçar, baixinho no início, e depois mais alto. A menina olhava para ela, atordoada. Em todos os seus 10 anos de idade, Ela jamais vira a mãe chorar. Horrorizada, observava as lágrimas desligarem pelo rosto pálido e amarrotado da mãe. Queria dizer à mãe para parar de chorar. Não conseguia aguentar a vergonha de ver sua mãe naquela choradeira na frente desses estranhos. Mas os homens não estavam prestando atenção às lágrimas da mãe. Eles disseram a ela que se apressasse. Não havia tempo a perder.
No quarto, o menino continuava a dormir.
- Mas para onde vocês vão nos levar? - suplicou sua mãe. - Minha filha é francesa, Ela nasceu em Paris, por que vocês a querem também? Para onde estão nos levando?
Os homens não disseram mais nada. Eles eram vultos assomando-a enormes, ameaçadores. Os olhos da mãe estava Branco de terror. Ela foi para o quarto e afundou na cama. Depois de alguns segundos, endireitou as costas e se virou para a menina. Sua voz era um sussurro, seu rosto uma máscara de tensão.
- Acorde seu irmão. Vistam-se, os dois. Pegue algumas roupas para ele e para você. Depressa! Depressa, agora!
Seu irmão ficou mudo de terror quando espiou pela porta e viu os homens. Ele viu sua mãe despenteado, soluçando, tentando arrumar a mala. Reuniu toda a força que seu corpo de 4 anos de idade possuía. Recusou-se a se mover. A menina tentou persuadi-lo. Ele não ouvia. Ficou ali, sem se mover, com seus bracinhos dobrados sobre o peito.
A menina tirou a camisola, apanhou uma blusa de algodão e uma saia. Enfiou os pés dentro dos sapatos. Seu irmão a observava. Eles podiam ouvir a mãe chorando em seu quarto.
- Vou para o nosso lugar secreto - ele sussurrou.
- Não! - ela respondeu num ímpeto. - você vai conosco, você tem que ir.
Ela o agarrou, mas ele conseguiu escapar do aperto e se esgueirou para dentro do armário longo e profundo escondido na superfície da parede do quarto. Aquele dentro do qual eles brincavam de esconde-esconde. Eles se escondiam ali a toda hora, como se fosse a própria casinha deles. Mamam e Papa sabiam sobre ele, mas sempre fingiam que não. Eles os chamavam pelos nomes. Falavam alto, com suas vozes alegres: " Mas aonde foram essas crianças? Que estranho, elas estavam aqui agora mesmo! " E ela e o irmão davam risadinhas divertidas.
Eles tinham uma lanterna lá dentro e algumas almofadas, brinquedos e livros, e até mesmo uma garrafa d'agua que Mamam enchia todos os dias. Seu irmão ainda não sabia ler, então a menina lia alto para ele Um Bom Diabrete. Ele amava o conto do órfão Charles e a aterrorizante Madame Mac' miche, e como Charles se vingou dela por toda sua crueldade. Ela lia para ele repetidamente.
A menina podia ver o rostinho do irmão espreitando-a através da escuridão. Ele estava agarrado a seu ursinho favorito, e não tinha mais medo. Talvez ficasse a salvo lá, no fim das contas. Tinha água e a lanterna. Ele podia ver as figuras no livro da Condessa de Ségur. Sua preferida era a da magnífica vingança de Charles. Talvez ela devesse deixá-lo lá por enquanto. Os homens jamais o encontrariam. Ela voltaria para pegá-lo mais tarde quando eles tivessem autorização para ir para casa novamente. E Papa, ainda no porão, saberia onde o menino estava escondido, caso subisse.
- Você está com medo ai dentro? - perguntou baixinho, ao mesmo tempo que os homens as chamavam.
- Não - ele respondeu. - Não estou com medo. Você me tranca aqui dentro. Eles não vão me pegar.
Ela fechou a porta diante do rostinho pálido do irmão e girou a chave na fechadura. Depois, colocou a chave no bolso. A fechadura fucava escondida por um dispositivo em forma de um interruptor de luz que girava em torno de si mesmo. Era impossível vê o contorno do armário no apainelamento da parede. Sim, ele estaria seguro ali. Ela tinha certeza.
A menina murmurou o nome dele e encostou a Palma da mão sobre o painel de madeira.
- Volto mais tarde para buscar você. Prometo.