Território inimigo

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Capitão Nascimento ON

FILHA DA PUTA.

Apenas isso que tenho a dizer. Uma completa cachorra. Como eu pude? Me permitir ficar sem palavras diante uma DELEGADA. Eu engasgo quando vejo sua aproximação intencionalmente provocante, e quase perco a cabeça com o andar dessa vadia. Como pode? 

Eu definitivamente a odeio. 

Queria poder odiá-la sem roupas, mas por enquanto vou me manter vestido, pelo próprio bem dessa vadiazinha.

[...]

Cheguei no escritório afobado. Nunca liguei tão rápido aquele computador. Entrei no site da polícia civil, rolei por páginas. Delegada Correia. Clara Correia. Delegada Clara Correia. Finalmente, o perfil da cachorra em minhas mãos. 

Adicionei o número de telefone, maldosamente. Não consigo pôr na minha cabeça que ela tenha saído daquela favela sequer com a calcinha molhada. Ela parecia uma GP maluca para vender seu corpo pra mim. 

capitão nascimento - 21 99***-**** - 13h42
- Fica esperta, delegada.

delegadinha infernal - 21 99***-**** - 13h57
- Desculpe? Quem é e como conseguiu esse número?

capitão nascimento - 21 99***-**** - 13h59

- Estava quase me dando no meio da favela e já se esqueceu?
Memória boa igual de prostituta. 

delegadinha infernal - 21 99***-**** - 13h57
- Que honra ser lembrada pelo tão desejado e aclamado
Capitão Nascimento. Mas essa história está errada... 
Quem estava me comendo com os olhos era o senhor, muito provocante, eu diria.

capitão nascimento - 21 99***-**** - 14h01
- Cachorra. Vou aparecer no teu DP. Espero encontrá-la em seu escritório, e espero que tenha abafadores de som, persianas escuras e uma tranca bem resistente.

delegadinha infernal - 21 99***-**** - 14h07
- HAHAHA
- O senhor só vai me foder em sonho. Nunca nessa vida eu permitiria sequer de você encostar sua mão em mim, Capitão. 

Eu joguei o celular em cima da mesa, bloqueando a tela. Depois que divorciei nunca mais tive pique pra sexo com ninguém, mas essa Delegadinha ta me fazendo perder as rédeas da minha vida.

[...]

CLARA CORREIA ON

Eu estou rindo. Gargalhando. Rachando o bico. Rindo pra caralho.

Ele tá comendo na minha mão, eu estaria comendo na dele também. Uma pena para ele que eu seja tão maluca quanto. 

...

Aquele dia terminou bem. Sai da DP por volta de 22h e passei num barzinho. Pedi uma garrafa de cerveja e tomava com um cansaço excessivo visível no meu rosto, até eu ver o maldito filho da puta.

– Bebendo sozinha, delegada? Que deprimente. – Nascimento disse, com um tom de deboche e um sorriso cínico nos lábios. 

– Capitão. –  eu disse com certo desprezo em ouvir sua voz. 

– Nem um convite para me juntar? – ele dizia já puxando a cadeira ao lado.

– Pelo visto já está bem acomodado sem eu ter que te convidar, não é? 

Ele me fazia perder o juízo, tanto sexualmente, quanto moralmente. Minha vontade é sair no soco com esse mirradinho com ego inflado, e ao mesmo tempo minha vontade é de dar até o dia amanhecer. Ele pede a mesma coisa que eu, e bebemos em silêncio.

– Vai me dizer como me achou e o porquê de estar aqui? 

Ele riu. Na minha cara. 

– Tenho meus meios, delegada. Você tem tirado o meu juízo desde cedo. Não pode sair assim como se fosse tudo voltar aos seus conformes.

– Sim, eu posso. 

Coloquei o sorriso mais cínico que pude, joguei qualquer nota de 20 na bancada, pagando pelas duas cervejas, e sai do estabelecimento. Com sorte, cheguei até meu carro sem ser seguida, mas fui surpreendida, novamente, pelo escroto do bar. 

O perfume do desgraçado impregnou meu nariz, enquanto o nariz dele cheirava meu pescoço como se eu fosse um tipo de droga. Nascimento me agarrou pelas costas, me apertando contra o carro enquanto prendia minhas mãos nas costas. 

– Ta fazendo o que porra? Ta louco? Quer ser preso é? – perguntei, no tom mais provocativo e odioso possível.

– Eu falei que você não ia sair daquele bar sem mais nem menos, não falei? – o hálito dele queimou na minha orelha, fazendo meu corpo todo entrar em colapso. –  Uma pena eu não poder te foder hoje como a cachorra que você é. 

Senti um arfo sair pesado da minha boca, e ele riu com certo deboche. Ele enfim me soltou, me segurando pelo braço e me virando para ele, e se aproximou de mim, novamente me prensando no meu carro.

– Nós dois sabemos que você não vai me prender, porque quer isso tanto como eu. Mas você não vai admitir, não é?

Ele me beijou. A pior coisa que poderia ter acontecido. Ele enfiou a língua na minha boca, como se a vida dele dependesse daquilo, mas não durou muito.

– Amanhã passo no seu DP, Delegada.  – ele sussurrou, limpando o canto da boca e me deixando parada, como uma estátua, do lado de fora do carro. 

Eu entrei no carro, ainda respirando pesado. Abri o espelho que deixava no tapa-sol e arrumei meu cabelo, limpei o batom borrado e segurei com força o volante. É um filho da puta mesmo. 

Delegada InfernalOnde histórias criam vida. Descubra agora