Cabeça em jogo.

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CLARA CORREIA ON

Até que dormi rápido depois do ocorrido da noite anterior. Acordei era mais ou menos 08h. Perdi o horário.

Nunca me arrumei tão rápido na minha vida, sai dirigindo como uma louca, e enfim estava no DP. Subi até meu escritório, com um semblante sério mas cabisbaixo. Alguma coisa me incomodava, não sabia o que.

Entrei em minha sala, e rapidamente fechei a porta. Tinha um buquê gigantesco na minha mesa. Um buquê de tulipas rosas. Um maldito buquê de flores. Eu me aproximei e peguei um cartão que estava junto, nada escrito além de "C.N", que significa? É, isso mesmo.

Delegada Correia - 21 99***-**** - 08h41
- Como soube do meu gosto para flores?

Capitão Nascimento - 21 99***-**** - 08h44
- Ainda não ficou evidente o quanto você mexeu comigo? Caralho.

Delegada Correia - 21 99***-**** - 08h47
- Obrigada pelo buquê. Ele é maravilhoso e perfumou muito minha sala.

Ele apenas visualizou a mensagem e não me respondeu, eu fiquei instigada com aquilo. Eu falei "Obrigada", eu nunca digo isso. Ele deveria valorizar.

Delegada Correia - 21 99***-**** - 09h03
- Vai subir na favela hoje?

Capitão Nascimento - 21 99***-**** - 09h08
- Não. A PM tem tudo controlado hoje.

Delegada Correia - 21 99***-**** - 09h15
- Estou colocando meu colete nesse exato momento.
- Podemos nos ver mais tarde?

Capitão Nascimento - 21 99***-**** - 09h21
- Vai subir por que?
- Passo aí quando seu turno acabar. 

Delegada Correia - 21 99***-**** - 09h27
- Preciso coletar alguns depoimentos de familiares de vítimas da chacina da semana passada.
- Acho que vou fazer dois turnos hoje, pouco pessoal. Talvez eu só saia as 06h, 
pensei que pudéssemos almoçar ou jantar juntos.

Capitão Nascimento - 21 99***-**** - 09h32
- Jantar as 21h. Não consigo sair para o almoço, tô com papelada atolada até o meu cu.
- Se cuida lá em cima, viu? 

Delegada Correia - 21 99***-**** - 09h37
- Combinado. Indo para a viatura. Nos falamos depois.
- 😘


Clara Correia OFF

[...]

Capitão Nascimento ON

Já passava de 14h, quando recebi a mensagem que fez meu estômago revirar e meu corpo estremecer.

Delegada Correia - 21 99***-**** - 14h37
- Tamo com sua delegadinha da civil, capitão
- É a sua cabeça ou a dela nessa porra 

*foto enviada do celular de Delegada Correia*

*foto enviada do celular de Delegada Correia*

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...

Eu congelei. Paralisei diante o celular. Como isso tinha acontecido? Eu me levantei, com o sangue fervendo e os olhos transbordando ódio.

– OPERAÇÃO DE URGÊNCIA CARALHO, MONTA O CAMBURÃO E BORA SUBIR AQUELA FAVELA DO CARALHO. FUZIL, BAZUCA, BOMBA, TODA A MERDA QUE VOCÊS TIVEREM. EU QUERO A DELEGADA VIVA NESSA DELEGACIA AINDA HOJE, TÃO ME ENTENDENDO?

Eu gritei, com a força que meu pulmão permitiu, 15 minutos depois, estava arrebentando as portas da favela, procurando por Clara.

Capitão Nascimento OFF

[...]

Clara Correia ON

Eu entrei na favela eram quase 10h, bati em algumas portas, coletei alguns depoimentos e outras drogas que meus homens abordaram. Estávamos descendo para almoçar, alguém me puxou pelo cabelo, me derrubando no chão e me acertando no rosto, e de repente, não vi mais nada.

Acordei atordoada. Tonta. Dolorida. Estava presa a uma cadeira de madeira, os nós meio frouxos sinalizavam falta de experiência em sequestros. Meu celular desbloqueado em cima do sofá rasgado do meu lado me chamou a atenção. Nascimento estava a caminho, e eu sabia disso.

Eles tiraram a minha arma do coldre, não tinha nada para brigar além dos punhos. Os machucados se estendiam pelo meu corpo. Sangue seco no meu nariz, e um corte aberto na testa, aparentemente seco também.

Ouvi vozes do lado de fora, não estava sozinha, e então, ouvi um disparo. Decorrente desse, outros muitos disparos. Estavam trocando. Nascimento estava ali.

...

Arrastei a cadeira para longe da janela, aumentando as minhas chances de sobreviver. Vi minha arma jogada atrás de um móvel de madeira velho, não havia sinal de movimentação ali comigo.

– Isso vai doer pra caralho, puta que pariu.

Eu resmunguei, me levantei e senti minha costela quase se partir, não era hora daquilo. Eu me joguei com tanta força no chão que a cadeira se despedaçou, e as cordas deslizaram pelo meu corpo. Corri até minha arma, agachando atrás do móvel de madeira.

– Não da pra subir porra, estamos muito separados, não dá capitão. – um soldado disse do lado de fora.

 – E eu quero saber se da, caralho? A delegada pode estar em qualquer canto desse terreno. Não me interessa se tem gente ou não.

Ele estava ali. A raiva era transparente e amedrontadora. Um chute na porta ecoa na casa, e pelo barulho do chinelo já deveria saber que não eram policiais. Dois homens, apenas um deles armado com um fuzil. Temi pela minha vida.

Eu temi ridiculamente pela minha vida. Senti meu peito doer cada vez mais pela respiração dificultada. Botei a cara e sentei o dedo na porra do gatilho.

Os dois homens caíram como um saco de bosta no chão, me fazendo respirar aliviada. Ouvi mais passos se aproximarem, e me recostei no móvel novamente, orando para que fossem policiais.

Clara Correia OFF

[...]

Capitão Nascimento ON

Chutei uma porta, e lá estava ela.

– Delegada.

Eu disse num suspiro, e corri até ela, deixando o fuzil nas costas. Ela parecia estar machucada, mas nada que fosse a matar. Ela reclamou de dor quando me aproximei, e sua respiração pesava cada vez mais.

– Preciso te tirar daqui.

[...] 

Continua...

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⏰ Última atualização: Jul 29 ⏰

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