À Primeira Vista

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POV. Camila

Definitivamente minha mãe não brincava em serviço.

Mal havia chego de viagem e já teria que zerar minha bateria social em um jantar de boas vindas.

Não a culpo, Dona Sinu sempre fora uma mulher espirituosa e comunicativa e dava seu melhor por quem amava, mas eu realmente, só queria descansar depois de tantas horas presa em um avião.

Parei frente a escada que dava acesso à sala de jantar, respirando fundo e ajustando uma última vez as ondas que caiam sobre meus ombros.

O vestido vinho realçava o dourado da minha pele e contrastava com o sorriso no meu rosto, dando a falsa impressão de que eu estava maravilhosamente plena e não com um mau humor terrível.

Me permiti perder mais alguns segundos antes de descer e encarar todas as pessoas que já se faziam presentes na sala.

Lentamente segui até lá, carregando minha melhor e mais falsa cara de felicidade.

Reconheci alguns amigos da família que vieram me dar boas vindas, iniciando uma breve conversa sobre Nova York.

Os assuntos eram sempre previsíveis:
"Como você cresceu!"
"Como estão os negócios?"
"Não sente falta na vida no Texas?"

Respondia brevemente todas elas. Não gostava de expor minha vida dessa forma.Quem deveria saber sobre ela, saberia.

Tudo estava tranquilo e arrisco dizer agradável, até meus olhos a encontrarem.

A moça que vi mais cedo no campo...
Ela estava aqui.

Com o mesmo olhar duro e imponente que havia direcionado à mim.

Ela estava adentrando a casa, acompanhada de um mulher alta e loira, que carregava um sorriso divertido nos lábios.

Vejo minha mãe seguindo ao encontro das duas e as recebendo com um sorriso e um caloroso abraço.

Não consigo ouvir a conversa, mas de repente vejo minha mãe varrer seus olhos pela sala, até encontrar o que tanto procurava ou melhor, quem.

A vejo acenar alegremente e caminhar em minha direção acompanhada das duas garotas.

"Mi hija! Até que enfim te encontrei. Quero te apresentar nossas vizinhas"

Minha mãe sorria enquanto mantinha as mãos apoiadas nas costas de ambas as mulheres.

"Essa é Lauren, dona do rancho ao lado", disse se referindo a morena dos olhos verdes que tinha tomado conta dos meus pensamentos. Lauren era ainda mais bonita de perto e tinha uma expressão difícil de decifrar.

"E essa é Dinah, prima de Lauren", agora falando sobre a loira ao seu lado, que sorria abertamente pra mim.

Devolvi o sorriso caloroso de Dinah.

"É um prazer conhecê-las! Eu sou a Camila" Disse pela vigésima vez naquela noite, só que dessa vez era de verdade.

Estendi a mão para Dinah que agarrou meu pulso me puxando para um abraço repentino.

"Sem essa gata, a gente tá no Texas", disse ela.

Ri de sua ação repentina e retribui o abraço apertado.

Logo em seguida, me viro para Lauren ainda com um enorme sorriso nos lábios, que foi desfeito imediatamente ao me deparar com sua feição séria.

Lauren apenas acenou com a cabeça, evitando qualquer tipo de contato.

Nem dava pra acreditar que as duas eram da mesma família.

"Meninas, vamos para a mesa o jantar já deve estar pronto", minha mãe pareceu notar a mudança no clima.

Seguimos até os fundos da casa, onde Dona Sinu posicionou a grande mesa de madeira no gramado.

Um varal de luzes iluminava a mesa posta com diversos pratos típicos.

Dinah e minha mãe conversavam alegremente sobre algum assunto que não sabia qual era, enquanto Lauren permanecia em silêncio, observando tudo ao redor.

Sentamos todos ao redor na mesa, Dinah, Lauren, eu, mamãe e papai nos sentamos lado a lado e começamos a nos servir.

A conversa ao redor estava animada e calorosa, tudo corria muito bem, até Lauren se levantar para ir ao banheiro e minha mãe se virar com um olhar cúmplice, que me deixou confusa.

"Hija, esqueci uma garrafa de vinho na cozinha, poderia buscar pra mim?"

"Mãe, mas já tem umas 5 garrafas na mesa", comentei analisando a mesa.

"Mas aquele vinho é especial, por favor ", ela fez sua melhor cara de chantagista até que eu cedesse ao pedido.

Me levantei relutante e fui até a cozinha, atrás do tal vinho.

Procurei a garrafa por todos os lugares da cozinha e nada, até que a vi na última prateleira do armário, acima das taças de cristal da minha mãe.

Pensei na logística para tirá-la de lá, considerando que pelo meu tamanho não seria tão fácil assim.

Arrastei uma cadeira próxima ao armário, retirei os saltos e subi no encosto da cadeira, ficando na ponta dos pés para alcançar o vinho.

Estava tão concentrada na minha missão que não notei quando a cadeira começou a bambear e pendeu para a direita.

Só senti o estalar da cadeira e fechei os olhos, esperando meu corpo encontrar o piso da cozinha, mas para minha surpresa, senti dois braços fortes me segurarem, impedindo a queda.

Abri os olhos assustada, me deparando com Lauren, que me segurava firme em seu colo, me observando com uma expressão assustada e levemente... Irritada?

Antes que pudesse pensar em pronunciar uma palavra, escuto sua voz rouca.

"Tá ficando maluca garota? Qual o seu problema?", ela disse com certa irritação na voz.

"O que? Mas eu...", tentei responder, sendo cortada imediatamente.

"Tá tentando se matar? Você podia ter se quebrado inteira nesse piso menina"

Nesse momento Lauren já tinha me colocado no chão, de frente pra ela.

"Espera aí, quem você pensa que é pra falar comigo desse jeito?", retruquei irritada, me aproximando.

"Alguém com mais bom senso que você"

"Escuta aqui sua caipira, eu não...", e mais uma vez fui interrompida naquela noite, mas agora por minha mãe que adentrara a cozinha preocupada, vendo a cadeira no chão.

"Meninas, o que aconteceu por aqui?"

Naquele momento reparei o quanto eu e Lauren estávamos próximas e me afastei com o rosto já vermelho de raiva e vergonha.

"Mama, foi só um acidente. Fui tentar pegar o vinho e não vi que a cadeira estava quebrada", resumi a confusão calorosa que estava acontecendo na cozinha antes de minha mãe chegar, ela não precisava que uma discussão estragasse o jantar que ela preparou com tanto carinho.

"Meu Deus, você tá bem? Se machucou?", ela veio em minha direção, me analisando.

"Não senhora, consegui chegar a tempo de segurá-la antes que caísse", foi a vez de Lauren se pronunciar, me encarando com uma expressão divertida, ela estava achando engraçado.

"Oh Lauren! Graças a Deus.", minha mãe suspirou aliviada e voltou a nos guiar de volta à mesa onde todos estavam.

Mas antes de chegar à mesa, sinto Lauren se aproximar, enquanto minha mãe estava mais a frente.

Ela se aproxima do meu ouvido e consigo sentir o ar quente bater no meu pescoço, me fazendo arrepiar.

"Boa garota, esconde bem as garrinhas perto da mamãe"

Sinto um choque percorrer todo o meu corpo e minha mão se fecha em punho.
Meu olhar se cruza com o dela, mergulhado em raiva.

Quem essa mulher pensa que é?

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Vejo vocês no próximo capítulo 😉

_Débzzz



Dear Texas - CAMRENOnde histórias criam vida. Descubra agora