Capítulo 13

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Pisco, encarando o teto de madeira da mansão. Livro-me da sensação de algo fundo sobre meu corpo, que me fez acreditar que o sonho que tive segundos atrás, de mim caindo de um penhasco, foi real.

Quando percebo que foi apenas um sonho, minha respiração se torna lenta de alívio, distanciando o medo.

Mas sinto que não estou sozinha. Ainda que eu não me lembre da metade da viagem após o carro dirigir até um bosque, e algo atingir minha coxa por baixo do tecido vermelho em que ainda estou usando, a dor parecia uma agulha adentrando minha pele.

Desvio o olhar lentamente para o local onde a luz do sol mal chega. Quanto tempo dormi?

Isso não é o que me preocupa; o que me assombra é o fato de que alguém esteve me observando a noite inteira. Tenho quase certeza disso, embora não tenha tido forças suficientes para ver claramente os sapatos masculinos antes de adormecer novamente.

Por fim, decido encarar o ambiente obscuro, e me deparo com ele.

Camisa social preta, com três botões abertos, mostrando algumas de suas tatuagens, calça social, e o sapato da noite anterior.

Como se a cicatriz fina em seu olho e a deficiência visual no olho esquerdo não fossem suficientes para o seu visual sombrio, ele ainda está acariciando uma enorme anaconda verde, como se fosse um animal doméstico de estimação.

Diferente do seu visual drástico da noite anterior, ele parece bem mais confiante agora, ou talvez esteja tentando transparecer isso.

Não é qualquer um que tem uma lâmina encravada em sua pele, por poucos centímetros que seja, e consegue se manter consciente por tanto tempo assim.

Além disso, uma anaconda verde possui cerca de 7 metros, sei disso por conta de uma pesquisa inútil que fiz no colégio. Ele deveria se sentir incomodado com o peso dela, além de ser um ser carnívoro perigoso.

Eu odeio cobras, sejam em forma humana, ou como essas. Não suporto.

— Pretende me matar? — Em um ato de desespero, as palavras deslizam entre meus lábios, e me esforço para conter o medo, não dele, da anaconda verde que envolve o seu pescoço, coberto por uma cobra semelhante a ela.

— Por que eu faria isso? — Ele retruca, com a voz suave como lã, mas firme o suficiente como uma lâmina encravada em sua garganta. O visual sombrio dele é apenas um pedaço de sua presença dominante, a voz dele é o complemento.

— Porque me odeia. — O rosto repleto pela sombra das folhas das árvores parece me observar, na verdade ele não retirou os olhos de mim, nem por um segundo. — Porque acredita que eu matei os seus irmãos. — E provavelmente quer me fazer sofrer de todas as maneiras possíveis. Como não pensei nisso desde o começo? É o raciocínio mais lógico.

— Eu não te odeio.— Então, por que me trouxe até aqui? Por que as cartas? — Tento me conter da anaconda, ainda envolta do seu pescoço.

— Acha que foi eu quem te enviou as cartas e o presente? — Ele bufa, e se inclina contra a poltrona roxa, e a anaconda se afasta um pouco dele. — Ele gastou cento e cinquenta mil com você, se fosse eu quem estivesse te enviando as cartas, não acha que eu te daria bem mais do que a porra de um salto e um vestido que qualquer um usaria por menos de vinte reais? Achei que fosse inteligente.

— Estou usando um vestido vermelho simples, me parece algo do seu estilo. — Retrucou.

— Era da minha mãe, não é uma peça qualquer, assim como você também não é. — A porta branca de madeira se abre, e um homem alto de aparência forte, e barba rala, com alguns fios brancos presentes, aparece. Ele adentra o quarto.

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