O Lobisomem

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As asas negras de Anauel estavam abertas ao máximo às suas costas, carregando sua dona pelos céus das Terras das Colinas em um planar rasante através do ar noturno

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As asas negras de Anauel estavam abertas ao máximo às suas costas, carregando sua dona pelos céus das Terras das Colinas em um planar rasante através do ar noturno. Abaixo deslizavam colinas gramadas, pequenos bosques, aglomerados esparsos de árvores, riachos... As maria-chiquinhas prateadas e a saia curta se debatiam furiosas contra o vento, elas e a franja reta, que, nesse momento, de retas não tinham nada.

Os olhos carmim — naturalmente arregalados em uma suave e constante surpresa — vasculhavam os arredores em busca de um certo bando de criminosos, cujos pescoços seriam perfurados por seus caninos sedentos de sangue. Estava para sobrevoar um chalé ladeado por um bosque e algumas árvores isoladas quando um rugido selvagem a atingiu em cheio. Sua atenção voltou-se imediatamente na direção do som.

Assim que ultrapassou o chalé e o telhado saiu do caminho, Anauel avistou um imenso lobisomem assomar sobre um rapaz, a luz do chalé e a da lua cheia pintando-os de amarelo de um lado e prateado do outro.

A cabeça de lobo salivava e as garras estavam prontas para dilacerar o pobre rapaz quando a vampira desceu em um mergulho em direção aos dois. Uma nuvem negra suja de fuligem a envolveu e dali emergiu lacrada em uma armadura negra do pescoço aos pés.

O monstro de pelos e músculos avançou em um bote, a bocarra aberta pronta para arrancar a cabeça do rapaz, quando Anauel pousou entre os dois, sua couraça negra reluzindo sob o luar.

Esticou a mão na direção da criatura e o rapaz gritou no mesmo instante em que o focinho lupino deu de cara contra alguma superfície invisível.

Ouviu-se um ganido e espirros quando o monstro recuou imerso em dor.

Confuso, o garoto olhou em volta e notou que um domo vítreo o envolvia junto com a vampira baixinha. Baixou o rosto para ela — que aparentava ter a mesma idade que ele — e reparou que uma carta mágica levitava próximo de sua orelha, pintando de lilás metade de seu rosto branco-pálido e as maria-chiquinhas prateadas.

— Rapaz ficar para trás! — ordenou Anauel com seu sotaque estrangeiro, a mão esticada ilustrando o comando, um segundo antes de conjurar um machado de outra nuvem de fumaça. Estava para avançar e decapitar o monstro com um golpe limpo, quando o garoto gritou:

Não mata ele! É o meu pai!

Anauel estancou e o mirou por sobre o ombro, o rosto inteiro arregalado.

Foi um erro.

Uma garra afiada desceu e a vampira teve tempo apenas de tirar o corpo do caminho.

Seu braço com o machado foi para um lado e ela para o outro, sangue voando entre os dois.

As unhas afiadas atingiram-na exatamente no espaço entre a couraça do braço e a ombreira, em cheio na carne. A vampira berrou e suor frio brotou em sua testa, coberta pela franja.

Anjos e Vampiros - O LobisomemWhere stories live. Discover now