𝐓𝐇𝐄 𝐁𝐄𝐆𝐆𝐍𝐈𝐍𝐆 𝐎𝐅 𝐓𝐇𝐄 𝐄𝐍𝐃
O MUNDO ESTAVA DE CABEÇA PARA BAIXO. Ninguém sabia ao certo o que estava acontecendo, nem como estava acontecendo. Haviam espécies de canibais por boa parte das cidades – corpos que se reerguiam após a morte e atacavam, sedentos de fome, qualquer coisa que se movesse.
As pessoas estavam apavoradas, e buscavam insaciavelmente por respostas. Os jornais pediam para que tivessem calma e que confiassem no Governo, pois as autoridades já estavam tomando as devidas medidas de segurança. Mas não era isso que parecia.
Ayla e seus irmãos moravam numa cidadezinha pequena, mais para o interior, e acompanharam atentos todas as notícias. Merle, no começo, não acreditou muito que tudo aquilo fosse verdade, até ver um colega ser devorado vivo por uma daquelas coisas, num passeio em uma cachoeira.
A situação começou a ficar tão crítica que as famílias, desesperadas, começaram a sair às pressas das cidades, criando tumultos e grandes engarrafamentos. Mas, numa tarde específica em que as autoridades finalmente pararam de pedir calma, foi que a grande rodovia de Atlanta virou um verdadeiro caos.
Daryl e Merle, assim como milhares de outras pessoas, decidiram que o melhor a se fazer era ir para Atlanta, onde supostamente havia uma base militar segura para todos. Queriam garantir, principalmente, a segurança de Ayla.
Sentada no banco da moto de Daryl, Ayla observava seus irmãos conversarem encostados numa pedra ao acostamento da rodovia. Pessoas gritando e discutindo podiam ser ouvidas por todos os lados, sem contar as inúmeras buzinas e até crianças chorando.
– Está anoitecendo – ela comentou, vendo o sol se por.
Seus irmãos, que estavam imersos em uma conversa que parecia séria – tão séria que estavam falando baixo para que Ayla não pudesse ouvir –, pareceram acordar de um transe.
– Não precisa se preocupar, Loira – Merle a respondeu. – Daqui a pouco vamos continuar andando.
– Deve ter acontecido alguma coisa lá na frente que atrapalhou o trânsito – Daryl completou.
Ayla concordou e eles voltaram a conversar. Tentava se convencer de que não estava completamente apavorada. Eram só algumas pessoas loucas tentando comer outras pessoas. E pânico.
Deus. As pessoas estavam comendo umas as outras! Vivas ou mortas? Como? Por quê? Tudo bem, aquilo era extremamente assustador para Ayla. E ela estava sim apavorada.
Apesar de tentar ser durona como seus irmãos, era apenas uma criança e só tinha dez anos. Aquilo tudo era surreal.
– Não podemos ficar mais – Merle disse. – A gente não tem nem o que comer, cara...
Daryl o encarou impaciente, e então olhou para Ayla. A prioridade dos dois era ela.
– Tem razão. Vamos cair fora daqui.
Ele pegou a grande mochila de acampamento da família no chão e entregou a Merle. Assim que se aproximaram da moto, um enorme impacto foi sentido por todos ali presentes. Ayla caiu da moto, e assim que seus irmãos se levantaram, logo correram até ela.
– Que droga... – ela murmurou, vendo o joelho sangrar.
– Vai logo! – Daryl disse a Merle, que levantava Ayla. Ele olhava assustado a enorme explosão de fogo subindo ao céu.
– Depois a gente cuida disso Loirinha, sobe, vai....
Ayla subiu na moto novamente, com ajuda de seu irmão, e se agarrou em Daryl. Merle subiu atrás dela, e naquele exato momento grandes estrondos foram ouvidos.
– Que porra é essa?! - Merle gritou.
Um enorme caminhão do exército estava passando pela rodovia, empurrando carros, pessoas e tudo que estivesse em seu caminho. Aquilo era uma guerra?
Daryl rapidamente ligou a moto e acelerou o mais rápido que pôde. A vantagem era que conseguiam passar entre os carros parados com facilidade, e a desvantagem, era que haviam muitas pessoas correndo para todos os lados em completo desespero.
Contra sua vontade, Ayla acabou vendo uma mulher gritando por socorro enquanto era devorada por uma daquelas coisas. Ela gritou e fechou os olhos, segurando firme em seu irmão e sentindo o vento bater em seu rosto.
– Freia! - Merle gritou, ao ver um bando de canibais bem na frente deles.
Daryl freiou, mas fez a moto derrapar com força no chão e deitar. Os três caíram, e no meio da confusão Ayla nem teve tempo de raciocinar que tinha acabado de sofrer um acidente.
Merle a pegou no colo e começou a correr na direção contrária, atrás de Daryl. Ele correu o mais rápido que pôde com a pequena nos braços e a mochila nas costas. Ayla gritava apavorada, com a cabeça enterrada no pescoço de seu irmão, sentindo os tremores do chão e os passos largos que ele dava enquanto corria.
– Calma Loira! Calma! – ele falou.
– Vem, por aqui! – Daryl os guiava no meio do caos, empurrando as pessoas.
Ouvindo os gritos desesperados das pessoas, a voz de Daryl falando para Merle correr mais rápido, e torcendo para que escapassem, Ayla começou sua jornada no Apocalipse. Aquilo era um verdadeiro filme de terror.
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Estava escuro, e o vento frio soprava os fios loiros do cabelo de Ayla. Sentada em uma pedra, abraçada aos próprios joelhos, ela observava seus irmãos conversarem com algumas pessoas. Daryl e Merle haviam corrido o máximo que puderam, e até tentaram entrar na mata ao redor da rodovia, mas não conseguiram e foram obrigados a seguir pela estrada.
Até que, depois de muito correrem, finalmente pararam numa entrada de fazenda à beira da rodovia onde haviam algumas pessoas. Ninguém ali tinha a mínima ideia do que fazer.
– Ei – Daryl chamou a atenção de Ayla. – Tudo bem?
Ela apenas concordou com a cabeça e ele lhe deu um pequeno sorriso encorajador, voltando para perto de Merle e Shane, um policial. Sabia que eles estavam tentando encontrar um lugar para ficarem, afinal, em grupo teriam mais chances de sobreviverem.
Só depois de finalmente saírem de todo aquele tumulto, Ayla pôde ver as consequências do acidente. Suas pernas estavam bem raladas, e em alguns lugares ainda saía sangue, sem contar as palmas de suas mãos, que ardiam.
– Está doendo muito? – um garotinho chegou perguntando.
– Não te interessa – Ayla respondeu, irritada. – Idiota.
Ele a olhou assustado e saiu de perto, indo para perto de sua mãe. Ayla ficou o olhando, e notou que aparentava ter mais ou menos sua idade, cabelos castanhos e bem cortados, e olhos azuis tão acesos e chamativos que brilhavam sob a luz da lua.
Bom, ela o olhou até que ele a olhasse de volta. No mesmo instante ela fechou a cara e voltou a prestar atenção em seus irmãos. Odiava admitir, mas queria conhecê-lo melhor.
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𝐁𝐎𝐑𝐍 𝐓𝐎 𝐃𝐈𝐄
FanfictionAyla Dixon teve sua infância roubada muito antes do fim do mundo. Criada por seus irmãos, Daryl e Merle, ela cresceu nesse mundo morto e se tornou uma assassina nata, um monstro. Mas, para Carl Grimes, ela era apenas um Anjo caído ao acaso na Terra.