Extra 1 - Narrado por Carrick Grey.
Eu acho que se tivesse uma palavra que pudesse me definir, seria sem sombra de dúvidas, a fraqueza.
Isso mesmo, eu sou um fraco.
Mas não estou falando de algo físico, pois sempre tive um físico invejável. Pelo menos até três anos atrás, eu realmente tinha mesmo. Estou me referindo a uma fraqueza mental, carnal, que fez eu me tornar uma criatura asquerosa, da qual tenho vergonha e nojo. Mas mesmo assim, não consigo evoluir, não consigo sair do fundo do poço em que me encontro há tantos e tantos anos.
Quando eu nasci, meu pai havia acabado de iniciar o negócio da nossa família, que já dura mais de cinquenta anos. A princípio, era um pequeno negócio de tecidos nos fundos da nossa casa, nos becos de Chicago. Na adolescência, após a morte de Beth, minha mãe, comecei a ajudar meu pai na nossa pequena fábrica têxtil e aos dezoito anos, conheci o amor da minha vida, Grace.
Nunca vi mulher mais linda do que ela e tenho certeza que jamais conhecerei outra igual.
Foi com ela que tive a minha primeira vez e me casei aos dezenove anos. Aos vinte, me tornei pai de Christian e cinco anos depois, da minha adorada Katherine. Meu pai faleceu quando eu tinha vinte e um anos e a partir daí, eu passei a administrar sozinho a fábrica da família. Com muito suor e esforço, fiz aquela fábrica crescer e se tornar a mais importante indústria têxtil de Chicago, figurando também entre as maiores fornecedoras de tecidos do país.
Na vida pessoal, tudo também ia muito bem. Meus filhos estavam crescendo saudáveis e tratava Esme como a rainha que ela é, que sempre foi. É claro que tínhamos algumas brigas, geralmente causadas pelas minhas saídas com amigos nos fins de semana, a cada quinze dias, uma bobagem. Depois de uma partidinha de basquete com os amigos, acabava tomando um uísque aqui, uma cerveja ali, nada de mais.
Voltava bêbado e levava uns bons petelecos de Grace, que irritada, ainda me obrigava a tomar banho frio. Mas nada disso atrapalhava nosso amor, que era a coisa mais importante da minha vida.
Além de adorar trabalhar a fim de manter o império que construí ao longo da minha vida para meus filhos, um dos meus passatempos favoritos era viajar e praticar esportes radicais. Nas férias de verão eu saltava de paraquedas, ultraleve, esquiava... Sempre fui muito ativo e também gostava de frequentar a academia três vezes por semana. Não só por vaidade, mas também porque Esme dizia que adorava muito meu corpo todo malhado.
O tempo passou, alguns conflitos familiares surgiram como a prisão de um ex-namorado de Katherine e a morte da minha nora, esposa de Christian. Mas o maior baque da minha vida foi um acidente de moto que sofri, quando voltava do trabalho, há cerca de sete anos.
Naquela noite chuvosa, lembro que Grace me ligou, perguntando se eu queria que nosso motorista me buscasse na empresa, mas como eu já estava de moto, eu disse não. Grace odiava que eu pilotasse motos. Ela sempre ficava com o coração na mão quando eu subia em uma. E deu no que deu, no meio do caminho um carro surgiu na contramão e a partir daí, não lembro de mais nada.
Só quando acordei atordoado na cama do hospital e os médicos disseram que eu estava paraplégico após eu comentar que não estava mais conseguindo sentir minhas pernas.
Nada foi mais difícil do que ouvir aquelas palavras.
Nada.
De um minuto para outro, me tornei um imprestável.
Não podia mais trabalhar, não podia mais viajar com minha família, não podia dar prazer a minha mulher, não podia mais nada. Eu era simplesmente um farrapo humano, que não servia para absolutamente nada.
Os médicos deram algumas esperanças, mas eu já estava destruído, não tinha forças para lutar.
E sabe por quê? Porque como disse antes, eu sou um fraco.
E como o fraco que sou, busquei consolo na bebida.
Toda vez que deixava o uísque escorrer pela minha garganta, esquecia que era um imprestável, que não servia mais para nada nesta vida.
E foi assim que fui me deixando envolver pela bebida.
Foi gradualmente, de gole em gole, sem eu sequer perceber.
Entre fisioterapias e visitas dos médicos, comecei depois de cerca de três anos, a sentir o dedo do pé. Animado, comecei a me dedicar mais e depois de um ano e meio de tratamento, recuperei o movimento das pernas.
Foi o melhor momento de toda a minha vida.
Poder andar, me sentir útil de novo.
Viajei, fiz amor com Grace após anos e saltei de paraquedas pela quarta vez na vida. Estava tão feliz, mas tão feliz. Me sentia o homem mais feliz da face da terra. Mas depois, com o tempo, passei a ter vontade de beber de novo. Às vezes sem motivo, mas mesmo assim eu bebia.
Preocupados comigo, minha família tentou me internar em uma clínica de reabilitação, mas recusei. E desde então, vivo recluso, como um verdadeiro prisioneiro em minha própria casa.
Não trabalho mais, não tenho mais tanto convívio familiar com meus filhos e netos. Meu porto seguro mesmo é minha nora, Anastasia. Quando peço, ela me dá algumas garrafas de uísque escondido e me divirto demais. Às vezes, ela também me ajuda a fugir para dar uma escapada para o bar. Enfim, Ana parece ser a única que realmente me entende nesta casa.
A única que entende que eu não tenho mais saída.
Que não há mais como eu me recuperar do que tenho.
Que sou um fraco e que preciso da bebida para tentar ser um pouco mais feliz, antes de partir e enfim, me juntar aos meus pais do outro lado da vida.***************
Olá, quantas saudades!!
Sobre esse capítulo extra, de vez em quando vou postar aqui alguns capítulos extras, que serão narrados por outros personagens, para vocês conhecerem mais deles. O que acham?
Amanhã teremos mais um capítulo!
Amo vocês 🩷
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Castelo De Areia
ФанфикQuando Anastasia despertou naquela ensolarada manhã de domingo e não reconheceu nada ao seu redor, se deu conta que tinha perdido a memória por causa do grave acidente que sofrera semanas antes. No começo, pensou então estar diante de um simples r...