Capítulo 1

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Eu odeio o Miguel Lombardi.

Sério! É impossível uma pessoa ser tão insuportável como ele – ou até ganhar dele. Ele pega tudo o que há de bom no mundo e destrói.

Ok. Ok. Ok.

Pense friamente, Lia!

A voz da minha cabeça tenta me acalmar enquanto eu olho para o senhor Moreira, diretor da Universidade.

Meu sonho sempre foi ser publicitária, mas os estudos são bem caros – e eu realmente não tinha condições para arcar com uma faculdade. Por isso me candidatei a uma bolsa da Lombardi e Co., um dos melhores programas de bolsistas do Brasil, porque além da bolsa de estudos, ainda têm um programa que leva os estudantes para fazer um intercâmbio nos Estados Unidos.

Um sonho, não é mesmo?!

Seria, se o babaca do presidente da empresa, vulgo Miguel Lombardi, não estivesse cortando as bolsas como alguém que decide cortar gramas.

Ele podia cortar gastos com o jatinho particular, com o helicóptero ou até com os ternos que ele usa todos os dias. Mas não, prefere cortar sonhos!

Respiro pela enésima vez ao encarar o senhor Moreira que continua falando como se eu estivesse prestando atenção.

Realmente estamos de mãos atadas, senhorita Ferrari – ele diz com aquela cara de pesar que eu tanto odeio.

Ok. Ok. Ok.

Não vamos nos humilhar, não vamos nos humilhar.

Olho para baixo e fecho os olhos, inspirando profundamente. Tento controlar a minha respiração. As lágrimas queimam nos meus olhos quando eu vejo ruir todos os meus sonhos. Dramática?! Talvez, mas essa era a minha chance de conquistar os meus sonhos!

Volto a olhar para o senhor barrigudo e narigudo que realmente tem cara de ser um diretor de escola.

Eu sei que devo estar pedindo muito e que talvez esteja sendo muito repetitiva, mas não tem outro jeito? - pergunto aflita.

Ele me olha com piedade – eu realmente não gosto desse homem.

Ele abre a gaveta e me entrega um folder com todas as informações de valores e formas de pagamentos dos cursos que a faculdade oferece.

Senhorita Ferrari, eu sei como é difícil cursar uma faculdade hoje em dia, mas na nossa instituição, não oferecemos nenhum outro tipo de bolsa que não seja a de empresas que são pré-selecionadas pelos seus programas. - Ele cruza as mãos sobre a mesa, me encarando. - Por mais difícil que seja e até doloroso pois além de ser uma ótima aluna, já estava concluindo os seus estudos e se candidatando a vaga nos Estados Unidos.

Eu respiro fundo e sei que tem um "mas" aí. Sempre tem.

Mas - não disse?! Sinto minhas lágrimas se formando. - Se não tiver como pagar ou de fazer um empréstimo, não podemos fazer nada a não ser trancar os seus estudos.

Assinto com a cabeça incapaz de proferir qualquer coisa nesse momento. Apertamos as mãos e ele balbucia um "sinto muito" e eu saio da sala derrotada.

Claro que um empréstimo me salvaria, mas eu não tenho um emprego – apenas ajudo a minha tia na floricultura dela sem carteira assinada. E não poderia pedir a minha tia que se sacrificasse tanto por mim. Ela já fez isso a vida toda.

Moro com ela desde os meus 5 anos, quando os meus pais sofreram um acidente de carro. Um motorista bêbado avançou o sinal vermelho e atingiu o carro em que eles estavam. Os dois morreram na hora, não tiveram nem chance.

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