Capítulo 2

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Chegou um novo carregamento de adubos e estou aqui na floricultura com as mãos na cintura, pensando em um milagre que faça com que os sacos saiam da frente do portão e fiquem dentro do estoque.

Uff!

Começo levantando os sacos e vou levando para dentro, cada um pesa cinco kilos e parecem 100 quando eu já estou no penúltimo.

O calor do Brasil me sufoca. Ainda mais se estiver levando sacos de adubo de um lado para outro. Quando estou no meu último saco, ele escapa da minha mão e cai no chão estourando e levando adubo para tudo o que é lado. E para piorar, eu tropecei nisso tudo e cai de cara no chão. O adubo entrou em tudo quando é poro do meu corpo.

Argh, que nojo!

Podia estar estudando para ir para os Estados Unidos, mas não, estou aqui toda suada e fedendo a CC.

E agora com um toque de adubo!

É não pode piorar.

- Ai, meu bem! Você se machucou? - Tia Diana surge e me ajuda a levantar.

 - Não tia, tudo bem. Só me atrapalhei um pouco aqui com esses sacos...

- Faz assim, deixa que eu termino aqui e você vai para casa e toma um banho. Deixei um pouco de chá numa garrafa, pode tomar que vai te ajudar a relaxar.

Dou um sorriso para ela. É a melhor tia do mundo!

- Obrigada tia, eu vou lá sim.

Pego as chaves do carro, passo as mãos pela minha roupa para tentar deixar um pouco do adubo no chão antes de me voltar para a minha tia e pedir benção.

Saio dali e vou direto para o carro.

Vou ouvindo a rádio enquanto não chego em casa. Deixo o carro na garagem e subo para o meu quarto. Tomo um longo banho e uso tudo o que tenho direito, a água quente me ajuda a clarear as ideias – e sim, mesmo no verão, eu tomo banho de água quente.

Saio enrolada na toalha e visto um conjunto azul turquesa de calça e camisa.

Desço até a cozinha e coloco o chá em uma xícara e vou até a sala. Ligo para a Méli. Ela é minha vizinha e está sempre desempregada.

"As pessoas não reconhecem o meu valor" - é isso o que ela sempre me diz.

Na primeira tentativa, ela desliga na minha cara. Que estranho!

Ligo novamente e ela finalmente atende. E está estranha.

Ela veste um vestido vermelho e tem um batom também vermelho nos lábios, o cabelo está preso em um rabo de cavalo alto. Está muito bonita, porém ela está no campus da faculdade, então o visual não combina muito nem com ela ou com o lugar.

     - Ah, oi Lia, como você está amiga?!

     - Bem e você? - Franzo a testa e observo onde ela está. Parece um evento da faculdade. Que estranho.

   - Bem, muito bem. Por que não estaria? - Ela me fala e começa a olhar pelos lados. As meninas surgem ao lado dela, como se escondessem alguma coisa.

 - Oi Lia!! - elas dizem em uníssono e tudo vira uma confusão de vozes e cabeças.

Eu até teria rido se um detalhe não tivesse me chamado a atenção.

Cabelos ruivos muito bem penteados e elegantes, um terno de três peças bem passado e um cara que parecia ser o rei do mundo. Adivinhem?! O próprio Miguel Lombardi estava a alguns passos de onde as meninas estavam.

Enquanto elas falavam, eu só prestava atenção naquele homem prepotente passando e acenando com a cabeça para algumas pessoas.

Franzo o cenho observando a cena.

- O que o cretino do Miguel Lombardi está fazendo aí?!

- Olha, é que assim... - Méli começa a pensar em desculpas e as meninas tentam se intrometer, mas nada sai muito bem.

- Não dá para esconder isso dela. - Mari olha para as outras e depois fixa o olhar em mim. - Essa é a semana das profissões e hoje, a profissão escolhida é Publicidade e Marketing e o escolhido para palestrar é o Miguel.

Minha cabeça gira e eu me sinto tonta. De raiva. Muita raiva. Me levanto e começo a andar de um lado para o outro.

- Tá vendo, Mari?! Agora ela vai furar o chão! - Méli diz enquanto a reprova com o olhar.

Mari cruza os braços e revira os olhos no seu melhor estilo gótica.

Eu vou respirando fundo e me acalmando, mas não funciona. Lágrimas ardem nos meus olhos.

- Amiga, olha. Nós não queremos ouvir a palestra dele, vamos para a sua casa e fazermos um brigadeiro bem grande para te ouvir reclamar dele. - Martha fala tentando amenizar a situação.

Vejo no olhar das outras que elas querem estar lá. Miguel pode ser um cretino de marca maior, mas ainda sim, é um dos maiores empresários brasileiros. O cara é uma lenda.

É um idiota também, mas isso é detalhe.

- Eu tenho uma ideia melhor. - digo isso e desligo o telefone.

Não dou tempo que elas falem ou que a minha razão grite na minha cabeça. Pego o tênis branco, minha mochila e vou até o carro.

Vou até lá falar para esse idiota o quanto ele é idiota!

******

As meninas estão na frente do campus quando eu chego, buzino e sigo para o estacionamento. Vejo pelo retrovisor Mari rindo da minha audácia, Méli nervosa e Martha entre brigar com Mari e rir da Méli.

Nenhuma de nós é muita certa da cabeça.

Chego no estacionamento e dou um suspiro de alívio ao ver três vagas livres. Me preparo para estacionar quando noto aquela máquina.

A prata da lataria brilha sob a luz do sol, o Porsche 718 Boxster pequeno e esportivo é o sonho de consumo de toda a população masculina. Conversível e de dois lugares, é perfeito para uma corrida. Como eu sei de tudo isso? Meu pai era um apaixonado por carros e eu sigo o mesmo caminho que ele.

Quando estou manobrando, o segurança do estacionamento me para.

 - Senhorita me perdoe, mas não pode estacionar aqui. - Ele é alto e bem magro, tem os cabelos e olhos castanhos.

- Eu posso saber por que não?!

- Porque essas vagas, são para o senhor Lombardi. O carro dele – e apontou para aquela belezinha - está ali, mas ele ainda pode ter alguém que vá ver ou simplesmente não quer que ninguém bata no carro. - Ele olha para o carro e dá de ombros.

Bufo irritada. Esse cara é um narcisista pé no saco.

Atravesso o estacionamento e acho uma vaga, quando passo pelo carro – ao invés de admirar como a pouco tempo, faço cara feia e sigo até onde as meninas estão.

Elas nem tentam me persuadir a não ir, simplesmente engancham os braços nos meus e vamos até o auditório.

Sentamos bem no meio e aguardamos começar. A sala é bem típica de toda faculdade, cadeiras com aquele braço maior para simular uma mesa, carpete pelo chão azul marinho (da mesma cor que a parte de tecido da cadeira), um palco bem na frente, luzes e projetores, poltronas bem posicionadas.

Tudo azul, cinza e branco, bem monótono.

A secretária começa a fazer as saudações, ela é muito bonita. Tem os cabelos castanhos bem presos em um coque e um vestido azul marinho bem justo. Não esconde e não revela nada. Usa uma maquiagem bem leve.

Sinceramente, não consigo ouvir nada do que ela fala.

Meus olhos se concentram em um certo ruivo entrando na sala.

Agora vai começar! 

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