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ROBERTO GUIMARÃES MONTENEGRO ☠️

Roberto, desce com o batalhão, já tá amanhecendo, hoje não dá pra fazer mais nada — o capitão diz pelo walkie talk e eu bufo.

— Nem fodendo. A gente já se fodeu aqui a madrugada inteira. Só saímos daqui com a droga — digo, agachado.

— Porra, Montenegro. Por que você não consegue seguir uma ordem? Que caralho! — ele diz puto e eu guardo o walkie talkie, que se foda.

— Não vamos voltar. Só saio com o carregamento. Os viadinhos que tiverem cansados podem se retirar — grito pra minha equipe, felizmente ninguém se move, então volto pra posição de espreita e espero.

Espero horas.
Já não sentia mais frio, fome ou dor. Já não sentia mais nada.

Quando o caminhão com a placa marcada finalmente passou o caos começou.

Foi tiro pra todo lado. Eles atacaram primeiro. Não se deram nem o trabalho de tentar esconder.

Minha perna sangrava, minha barriga também, mas foda-se. A adrenalina era maior que a dor.

Quando os quatro caras estavam mortos, recolhemos o carregamento de quase 60 quilos de droga, sem peso nenhum na consciência.

———

— Capitão Castelo Branco quer ver você — Bruno diz, aparecendo na porta do alojamento. Respiro fundo cansado, encarando minha perna recém enfaixada.

Levanto com mais dificuldade do que gostaria e vou em direção a sala do capitão.

— Você ficou todo fodido hein Montenegro — é a primeira coisa que ele diz quando eu entro em sua sala, fazendo posição de respeito.

— Ninguém dos meus morreu, senhor — digo.

— Você matou quatro porra, quatro — ele diz e eu dou de ombros.

— E resgatei 60 quilos de cocaína que agora estariam no nariz de uma porrada de adolescente — afirmo e agora é a vez dele de dar de ombros.

— Quando você vai aprender a me ouvir, porra? Quando? Eu mandei você recuar — ele diz.

— A operação foi um sucesso. Se eu tivesse recuado não teríamos pego a droga —

— A operação foi um fracasso! Como eu explico pro direitos humanos que um policial matou quatro homens numa apreensão de drogas? —

— Porra de direitos humanos! — grito.

— É bom você abaixar o tom Montenegro — ele diz se levantando — Mas eu já sei como você vai aprender a obedecer, por bem ou por mal — ele disse me jogando uma papelada.

Abro os documentos, confuso.

— Essa operação é em Ponta Porã. É longe pra caralho — digo e ele assente, e então eu entendo — Você tá me transferindo —

— Você e o Bruno. Os dois vão passar um tempinho lá pra aprender a seguir regras. E se eu souber que um de vocês saiu um dedo da linha nessa operação, estão fora, fora da porra toda — ele diz, meu primeiro instinto é de quebrar o velho na porrada, puta covarde, mas apenas engulo em seco e assinto.

— Sim, senhor — digo, virando de costas e saindo sem mais nada a dizer.

———

LUARA CASTRO MOREIRA 🌊

Acordei cedo, como sempre.
Hoje era segunda e parece que tinha trabalho dobrado pra fazer.

Tomei um banho e coloquei um vestido leve, deixando os cabelos molhados soltos.

— Bom dia, mami — disse quando a vi na cozinha, já começando a cozinhar.

Minha mãe tinha um restaurante-bar aqui na estrada, até que ia bem, os policiais do posto sempre almoçavam, jantavam e bebiam aqui entre os plantões, então não faltava cliente.

Eu ajudava ela a servir as mesas e anotar os pedidos, mas só Deus sabe como ultimamente tava tudo uma loucura. Tentar conciliar a faculdade com esse trabalho e as coisas de casa ia me deixar maluca, ainda mais agora que estava correndo atrás de um trabalho na área.

— Bom dia, filha. Pedro já veio aí atrás de você — ela diz e eu sorrio.

Pedro eu e Flavinha fomos praticamente criados juntos aqui, tínhamos uma amizade muito forte, uma conexão de outras vidas mesmo.

Estudávamos juntos e todo dia Pedro me buscava aqui em casa pra me levar pra faculdade. Sem falta.

— Bom dia — digo e ele sorri de orelha a orelha ao me ver.

— Bom dia, Lua — ele responde, me entregando o capacete da moto — Sobe aí — subo na sua traseira e ele dá a partida.

Chegamos rapidinho no campus e Flavinha tomava um café com bolinho na porta da facul.

— Oi, bebês — ela diz dando um gole grande no copo de café.

— Tenho aluno da academia agora, vim só deixar a Lua mesmo. Bom dia pra vocês, lindas — ele diz dando um beijo na testa da Flávia e um no canto da minha boca antes de subir na moto e sair.

— Eita, Lua. Vocês dormiram juntos? — ela me pergunta e eu nego na hora.

— Não mesmo. Já basta os vacilos que eu dou quando a gente se pega. Se dormimos juntos aí que tudo complica mesmo — explico e ela sorri.

— E ele é doido pra complicar as coisas com você — ela diz e eu nego.

— Tá doida, Flavinha. Não tô afim de mais problema pra minha cabeça — digo e é a vez dela de negar.

Eu e Pedro ficamos pela primeira vez quando eu tinha quinze anos, e desde de então foi um vai e vem sem parar.
Até tentamos ter algo sério por um tempo, mas isso quase acabou com nossa amizade, então decidi impor limites e nunca mais tentamos nada.
Se eu dissesse que não bate uma vontade de vez em quando e a gente dá uns beijos estaria mentindo, mas coloquei na minha cabeça que não podemos mais ultrapassar um certo limite.

— Tenho que voltar cedo hoje, segunda feira o pessoal dá PRF dá plantão e minha mãe fica cheia de trabalho — digo cansada, só de imaginar.

— Se quiser dou um pulinho pra te ajudar, tô fraca de encomenda da confeitaria — ela diz — Mas acho que não vai estar tão cheio assim, Lua. Andei ouvindo que uma galera do batalhão vai ser transferida, vão entrar uns novos — ela diz e eu arqueio as sobrancelhas.

— Sério? O que será que rolou? — pergunto e ela dá de ombros.

— Não sei, mas já já dou um jeito de descobrir — ela diz mordendo os lábios, já animada com a fofoca.

LUZ DO LUAROnde histórias criam vida. Descubra agora