Pesadelos lúcidos

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"Por que tem pensado tanto em mim? - sua voz angelical pergunta rente ao ouvido de Félix e seu corpo inteiro se alarma num medo e arrepio aparente - Quais desejos você esconde por trás desses olhos escuros?..."

- Lix... - como um sussurro baixo e inaudível, a voz de Lee Know soa em alguma parte vazia da mente de Félix, mas ele parece estar perdido em alguma lugar do qual não consegue sair. Está preso na memória que seu subconsciente o proibiu de esquecer, preso em uma memória que parece tão viva. Deitados lado a lado no meio da noite, Lino percebe certa inquietação ao seu lado, e como na noite anterior, Félix sua como se estivesse com febre, mas seu corpo não está quente, pelo contrário, está gelado como se seu sangue tivesse sido drenado... Ele está com medo - medo de algo que não pode tocar, mas que pode toca-lo.

Aqueles cabelos vermelho-sangue estavam lá de novo. O anjo de pele clara insiste em aparecer para Félix e ele pode ver claramente seu rosto e os seus traços, e tudo em nitidez máxima. É o mesmo sonho; o mesmo cénario; o mesmo elevador e a mesma pessoa, mas desta vez ele o cerca por trás. Seus corpos são separados por apenas alguns centímetros insignificantes e sua presença se torna perceptível como quando sentimos que alguém está nos observando. Sua respiração quente sopra sutilmente no pescoço pálido e trêmulo. Os olhos castanhos revelam seu medo. Eles tremem como pequenos sinos de vento acima da porta ou diamantes de uma joalheria no meio de um terremoto de alta magnitude. Está tão perto, tão perto... Ele quase pode sentir o cheiro de seu perfume, mas tudo simplesmente muda como a água e o vinho, de uma hora para a outra. O ar é erradicado completamente, e num piscar de olhos, Hyunjin está parado em sua frente e suas mãos firmes o seguram pelo pescoço, tirando-o do chão por alguns segundos.

- Lix! - chama, mas Félix não consegue ouvi-lo e isso o preocupa. Estava preso numa espécie de pesadelo ou paralisia do sono do qual não conseguia se soltar. Ele queria correr, mas seu corpo não se mexia, ou será que ele apenas não queria ser solto? - Lee Félix! - grita, ao mesmo tempo em que balança o corpo inquieto de um lado para o outro até que tenha aberto os olhos.

- Lino...

Olhares cravados em puro desespero mostravam a guerra para tentar acordar. Ele estava sem ar enquanto Lee Know massageava seu peito. Ele estava ficando louco. Depois de ter sonhado apenas uma vez com o personagem da sua história atual, Félix se viu perdido ao vê-lo pela segunda vez em seu sonho. Graças a família religiosa do estudante, Lee pensava estar ficando louco e delirando. Nada poderia explicar aqueles sonhos. Anjo ou demônio? Que tipo de entidade estaria aparecendo em seus sonhos para impedi-lo de dormir?

- Isso tá me deixando preocupado. Por que não pede a sua mãe que - Félix o olha enquanto senta com as pernas cruzadas na cama e passa sua camisa no suor de sua testa -, sei lá, ore em você...

- Acha mesmo que isso é um demônio?

- Não sei, eu não acredito muito nisso...

- Vai dormir, Lee Know.

- E você? - pergunta ao deitar novamente e passar a coberta por cima de seu corpo.

- Não se preocupe, eu não vou conseguir dormir agora...

Naquela noite em que Lino decidiu dormir na casa de Félix, o dono do quarto não conseguiu fechar os olhos. Aquela imagem aparecia em sua mente como uma obsessão pesada e possessiva. Ele sentia como aquela figura mexia consigo e não saber o que fazer o deixava louco. Ao apagar a luz, Félix se viu novamente na página da história na qual havia parado. A curiosidade gritando como banda de rock sem letra. Sua respiração estava ofegante  e errada, mas não dava para aguentar e ficar sem saber o final de tudo e o que aquele homem era de verdade.

- Eu vou enlouquecer se isso continuar acontecendo...

Sua respiração sai pesada e ele levanta devagar enquanto via Lino fechar os olhos e adormecer lentamente. Já era tarde, então provavelmente o outro estava dormindo quando seu pesadelo começou. Sonhar repetidas vezes com a mesma pessoa pode apenas ser por você ter pensado demais nela, mas e quando aquela noite fora a primeira vez que Lix havia lido sobre o vilão? Como explicar seus sonhos e sentimentos tão reais? Com o casaco sendo passado pelos seus braços, Félix sai para correr naquela madrugada e tentar organizar os pensamentos que atormentavam sua cabeça, mas como uma boa pessoa esquecida, ele levava consigo sua caderneta e uma caneta de tinta preta.

Gotas de chuva caem em sequência dos fios de energia dos postes e fazem um som de gotejamento ao bater nas poças de água da rua. Ruas vazias como em um domingo. Os ventos são fortes e fazem barulho nas árvores da rua. Depois de acordar na madrugada, Félix sentiu-se intimidado à voltar para casa e dormir, mas sua vida tinha que seguir, tendo dormido ou não. O tempo não espera só porque não estamos prontos ou só porque estamos com medo, não adianta, é a vida, por mais dolorosa que ela seja.

Seus pensamentos vagavam para à noite anterior e para a pessoa que cercava seus sonhos. Não conseguir lembrar nítidamente dos detalhes era uma tortura miserável. A ideia de correr não é para se exercitar, ele tentava limpar sua mente, mas não parece funcionar, então para abaixo de uma árvore na rua e pega seu fiel bloco de notas e sua caneta. Ela gira de um lado para o outro, entre seus dedos, as vezes cai, mas ele não consegue se concentrar por mais de 5 minutos sem que fosse arrastado para aquela noite ou para aquele homem. Seu corpo arrepiou num calafrio assustador, assim ele encolheu-se no meio-fio da calçada. É impossível fazer algo quando sua mente está em guerra com alguma coisa e era isso que não deixava Félix em paz - saber que algo dentro dele estava uma bagunça.

- Argh! Que droga! - grita, frustrado consigo mesmo - Quem é você e por que insiste em aparecer para mim?!

Em comparação a seus outros pensamentos, isso não importava muito, mas, quando descobrisse sobre a verdadeira pessoa, ele sequer iria querer saber de qualquer coisa relacionada a ele. Félix passava parte de seu dia dormindo nas férias, mas sua noite era em claro, com suas histórias e filmes, e o Lino. Com seu amigo sua vida parecia mais leve e menos cansativa. Eles estavam sempre juntos e isso não permitia que Félix afundasse nos seus mais profundos pensamentos. Era ali que ele se sentia livre para ser ele. Livre de obrigações e de pensamentos futuros. Era ali que ele sentia a liberdade e a adrenalina percorrer o sangue em suas veias.

Naquela mente turbulenta, a imagem daquele Deus era persistente e sua face era vista onde quer que Félix olhasse. Ao lembrar do rosto tão próximo ao seu pescoço, Félix umedece o lábio inferior e vira um pouco seu rosto, como se estivesse sentindo que aquele homem estava ali. Pensamentos guardam os mais impuros desejos, desejos de uma mente barulhenta e inquieta.

"Não consigo dizer o porquê, mas eu não quero acordar quando o vejo. Ele é um Deus, um demônio, ou um anjo? Está prendendo minha atenção, me fazendo querer não escapar... Essa história destruiu minhas noites e ele... ele tá me deixando cansado."

"Por que tem pensado tanto em mim?..."

Sagrado Profano (Hyunlix)Onde histórias criam vida. Descubra agora