Sagrado Profano (Hyunlix)

Monstros

Capítulo baseado nas músicas:

• "Falling, Harry Styles"
• "Memories, Conan Grey"
• "Monstros, Jão".

(...)

Desde que era criança Félix sempre soube que havia algo errado consigo mesmo. O vazio em seu peito nunca era preenchido por nada. Ele sempre foi quieto e sozinho, até conhecer Lino, Binnie, Innie, Chan e Min. A liberdade custou algumas amizades, por isso estava sempre tão sozinho. No ônibus de volta para casa depois da faculdade, Félix encostava sua cabeça na janela e olhava o mundo por ela. A sensação de algo perdido o atormentava todos os dias. Os olhos sempre vagavam por algum lugar e procuravam algo desconhecido. Seu corpo tinha sensações de que alguém o observava e arrepios constantes ao passar por algum lugar ou por alguém, geralmente pela sua antiga casa.

Félix era um adolescente diferente dos outros. Encontrava alivio e descanso em seu quarto, com seus livros, filmes, séries e seus amigos. Quando não era necessário sair do quarto ele não saía e apenas ficava preso em seu mundo e em seus pensamentos. O mundo o deixava cansado e ele sempre tinha que lidar com as vozes chatas e incenssantes de sua cabeça, que não parava um segundo. Uma mente turbulenta nunca consegue descansar completamente, e isso é frustrante. Ele nunca conseguiu entender o que lhe faltava, nunca conseguiu lembrar com clareza os detalhes de sua infância depois daquele acidente, ele tinha apenas flashs de memória. Algo dentro de nós nos chama o tempo todo, seja algo bom ou ruim.

- Me deixa entrar, Félix... Me deixa te mostrar o motivo de você sentir que falta algo. Me deixa mostrar o porquê de seus olhos arderem como se tivessem em chamas... Me deixa mostrar o porquê de você sentir necessidade de estar no escuro quando tudo da errado... Então, me deixa entrar... Não deixe a escuridão entrar, mas me deixe mostrar ela para você...

Aqueles olhos atravessavam o de Hyunjin como se esperassem que ele fizesse algo, então ele fez. Suas mãos frias tocaram o rosto de Félix, que não tirou seus olhos daquela pessoa. Os olhos de Hyun eram o espelho para a alma de Félix, para o lugar que ele tinha tanto medo de estar, para o lugar que ele tinha medo de encarar. Tudo voltou como uma tempestade devastadora antes de um tornado devastador. Todas as memórias que apareciam apenas como flashs estavam ali, tão vívidas quanto a própria realidade.

Sua primeira queda de bicicleta;

A primeira vez em que comeu vegetais;

Seu primeiro acampamento;

Seu primeiro amigo;

Primeira namoradinha do colégio;

Primeira briga de seus pais;

Primeira viagem de avião;

Trém;

Clube de futebol;

Primeira cartinha;

Caderno de desenhos;

Carros de corrida;

Primeiro anime;

Primeiro poster;

A primeira vez que viu o fogo em seu pior estado;

A primeira vez que viu Hyun...

Tudo voltou, voltou de vez. O fogo, as memórias estavam todas ali. Todos os sentimentos puderam ser sentidos, todas as dores. Doeu quando ele caiu da bicicleta. Sua garganta queimou com o gosto dos vegetais. Seu corpo arrepiou com o frio do acampamento. Seus lábios se curvaram num sorriso doce ao conhecer seu primeiro amigo. Seu coração acelerou quando descobriu que estava namorando com uma garotinha de sua idade. O nó em sua garganta a fez fechar quando o choro saiu ao ver seus pais brigando. A emoção ao ver a cidade por cima das nuvens. A adrenalina em seu corpo ao sentir a velocidade do trém. O vento em seu rosto ao correr atrás da bola no campo. O jeito que escreveu no papel carta que comprou escondido de seus pais para dar um presente. A felicidade ao ver que a pilha de cadernos de desenho aumentava conforme melhorava seus dons. Sua empolgação com a coleção de carrinhos de corrida. O brilho em seus olhos ao descobrir que gostava de personagens em 2D. O choro ao ganhar seu primeiro poster do seu primeiro anime. O medo que sentiu ao ver o fogo queimar todos os seus sonhos. O calor e alivio que sentiu ao ver Hyunjin. Todos esses sentimentos e lembranças voltaram e ele chorou, chorou porque seu corpo doía depois da queda. Chorou porque o nó em sua garganta estava deixando-o sem ar. Chorou porque o calor do fogo aquela noite estava queimando sua pele. Chorou porque lembrava daquele homem que o protegeu o máximo que pôde. Seus olhos estavam cravados, mas Félix estava em outro mundo, estava no mundo em que Hyun o levou e por isso não via a pessoa a sua frente. O mais velho sequer piscou, pois sabia que se Lix tivesse complicações nas lembranças ele poderia simplesmente tirá-lo de lá.

Quando Hyunjin retirou suas mãos do rosto extremamente quente de Lix, ele desabou, como se o que estivesse lhe mantendo de pé fossem as mãos frias que o tocavam. Seu corpo estava sentindo a dor dos machucados esquecidos como se fosse uma maldição ou um feitiço doloroso. Hyun o segurou em seus braços e o sentou no chão. Ele chorava como uma criança, como a criança que havia passado por tais coisas. Seu corpo estava quente como naquela noite e sua perna doía como se tivesse acabado de cair, mas ele ainda estava ali.

- Por que dói tanto, huh?! Por que está queimando tanto?!

- Você precisa sentir... Eu sinto muito que tenha que ser dessa forma... - Félix chorava e a segunda pessoa o abraçou com cuidado. Ele o protegeu uma vez e faria isso quantas vezes fosse necessário. Félix iria encontrar o que estava faltando em seu peito e iria entender sua frequente atração pelo escuro de seu quarto. O tempo em que ficou com suas memórias soltas o deixou confuso. Almas gêmeas realmente existem, certo? Ainda podem ficar juntos mesmo que um deles seja algo o qual não conseguimos explicar? - Shi... tudo bem sentir dor, não é pra sempre. Isso vai passar em alguns minutos...

Algumas dores podem nos deixar atordoados e sobrecarregados. Algumas pessoas dizem que dor é psicológico, e nesse caso de fato era. Eram só lembranças, mas Lix não aguentou e adormeceu nos braços de Hyunjin. O frio das roupas e do corpo de Hyun faziam a temperatura corporal de Félix voltar ao normal e assim ele dormiu mais um pouco.

- Han Jisung - chama ao ter sua ligação atendida -, eu te ajudo com o Lino se você me ajudar com algo...

- Fechado. Mas, o que é?

- Você vai entrar em um lugar, e talvez não seja bonito.

- Onde?!

- Minhas memórias com o Félix...