Um dia qualquer

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O vento levava as folhas secas para longe, o clima estava frio porém aconchegante e o sino badalava e ecoava por toda a pequena cidade.

Era o fim de mais um dia de aula para o pequenino Gus, todas as crianças se encontravam na saída com seus respectivos pais, para o mesmo não era diferente.

Todo aquele ar tranquilo fora da escola era realmente nostálgico com o moço do algodão na porta, gargalhadas para todos os lados e inclusive seus pais lhe esperando na porta como todos os dias.

-PAPAI! MAMÃE!- falou o menino de forma animada correndo em direção aos mesmos e dando um longo abraço em seguida

-Que saudades filho!,como foi seu dia na escola?-Indagou a mulher de cabelos brancos enquanto segurava seu filho pela mão e se deslocava para o caminho de casa.

-Foi muito bem mamãe!-afirmou o menino num espanto

-O que aprendeu hoje?- perguntou o curioso pai segurando a mão do menor do outro lado.

-Aprendi a multiplicar, foi muito legal-Conta Gus animado com a própria conquista.

-Puxa, que bacana!-exclamou o maior

-Papai, posso brincar de carcunda porfavozinho?- Implora o menor

-Filho...o que a mamãe já disse sobre fazer seu papai te carregar?, ele tá muito dodoí, senão ele não estaria usando uma bengala.- A mãe diz com cuidado

Seus olhos velozes exergaram de relance a bengala de madeira do homem,que pelo visto também andava mancado.

-Só achei que ele queria brincar de cavalinho com a bengala...-Assumiu com vergonha a criança

Ambos os adultos riram, realmente era de se admirar a inocência de uma criança.

-Não tem problema querida, vem cá sobe no papai.- Fala o pai se rendendo ao menino

Depois do pai entregar a bengala à sua esposa,o mesmo agachou de costas para o menino, que sem demora escalou e já se encontrava em seu devido lugar.

Na subida, ele sempre sentia um frio na barriga porém sempre valia a pena, ver tudo dali do alto sempre era uma experiência incrível, era como se estivesse no pico de uma montanha, apenas admirando tudo lá de cima.

Ter o sol brilhando seu rosto e poder ver o balanço lento das árvores todos os dias na volta da escola era reconfortante, apesar de ser um pouco monótono, parecia ser novo e especial a cada dia que passa.

Suas reflexões eram bem profundas, até mesmo em coisas pequenas da vida, apreciava cada detalhe e sempre tinha perguntas de que, alguma forma procurava as respostas e era facilmente pego se distraindo em seus próprios pensamentos e perguntas, como agora.

-Gus!, que tal irmos comer algodão doce?-O pai ofereceu

-Sim pai, vamos!- exclamou o pequenino

Seu pensamento é rapidamente interrompido pelo maior, que logo depois de comprarem o doce para todos, puderam seguir um longo caminho até em casa, os adultos ficaram conversando como sempre, porém Gus nem prestou muita atenção no bate-papo, não perdeu a oportunidade de poder pensar e conversar consigo mesmo mais uma vez.

Logo em casa sua mãe lhe chama discremente e sussura em seu ouvido:

-Sabe que dia é amanhã?- pergunta a moça com as mãos paralelas na boca para abafar o sussurro - É um dia muito importante.

- É o aniversário do papai, né?- confirma o garoto.

-Sim!, muito bem, que tal amanhã irmos ao centro comprar um presente bem bonito?- A mamãe oferece com vigor

O menino apenas consente com a cabeça e sem demora vai até seu quarto para descansar após a mesma estalar um beijo em sua testa, com certeza seria um longo dia amanhã.

[...]

E assim se fez,no dia seguinte ambos chegaram acompanhados do sol e logo se encontravam no centro, que antes cheio, agora quase vazio por conta de seu horário.

Uma grande nuvem densa parecida com um bafo de dragão, abracaçava todo o a ambiente fazendo com os olhos dos pouco presentes dali se recusassem à enxergar

O seu clima frio andava junto ao mesmo, brincando de pintar o nariz da criança de vermelho de tanto frio.

Seus passos apressados deslizavam e aqueciam a calçada gelada e aos poucos as lojas acendiam suas luzes elegantes prontos para aconchegar novos clientes igual a todos os dias.

- Então, já sabe que presente dar ao seu pai?- questiona a mamãe dedilhando o cabelo ouriçado do menino dorminhoco em uma oportunidade de tentar arruma-los.

- Que tal um equipamento novo tecnologia, igual aqueles que o papai tem no escritório?- sugeriu o menor com um sorriso de lado após falar sua ideia brilhante.

Seu pai era programador e era muito bem conhecido por todos da região, pois naquela época realmente tecnologia era algo que não se via todo dia, principalmente conforme Nichollas Montenegro fazia, o mesmo parecia estar sempre dois passos à frente da tecnologia e sempre foi visto com muito prestígio por todos, sobretudo pelo seu filho, mas talvez esse seu problema de saúde que adquiriu com o tempo, não iria lhe favorecer nenhum pouco...

- Acho melhor não, seu pai vive trancado naquele quarto trabalhando no computador, teríamos que dar um presente que pudesse combinar com o nosso piquenique de hoje- diz a mulher soprando a resposta com um sorriso fraco no rosto.

A cabeça da pequena criança martelava cada vez mais, porém parecia de que nada adiantava, pois nada saía.

Até que no meio no silêncio de ambos, uma faísca se ascendeu sobre a cabeça de Gus, como se uma lâmpada tivesse sido ligada ao  mesmo tempo que uma ideia repentina penetrou sua mente.

- O papai gosta muito de relógios antigos, que tal a gente comprar mais um pra sua coleção?-tenta de novo o mais novo

Os lábios da mãe torceram como resposta e foram precisos alguns segundos para refletir em sua sugestão que de fato não era uma ideia ruim, o pai era fascinado em artefatos antigos, principalmente relógios ,desde que ela o conhecia, contudo a mesma fez que sim com a cabeça aprovando a proposta brilhante de seu filho.

- Olha mãe! - exclamou o menino disparando a solução do presente, seu indicador atendo apontava a uma relojoaria logo a diante que acabara de abrir no mesmo momento que o menino freiou bruscamente para chamar a atenção.

A loja era iluminada e muito bem enfeitada igual a uma árvore de natal, do lado de fora já podia se ver vários relógios de formas, cores e tamanhos peculiares, se o papai visse isso com certeza ele estaria no céu.

Logo na entrada o coração agitado do pequenino se acalmou após suas batidas terem sido sincronizadas com o ritmo da ópera de fundo, ele não parecia o único aproveitando a música, as pinturas nas paredes também pareciam dançar junto e a lareira esfomeada devorava de boca aberta a lenha ao redor, ocasionalmente aquecendo o ambiente como um abraço de um boneco de neve

Distraído com o ambiente, seus olhos azuis foram hipnotizados e forçados a pousar sobre um relógio de bolso anil, que parecia sugar a beleza do lugar.

O relógio tinha o ponteiro fino, talvez mais do que seus cílios, de números romanos e um brilho metálico que era mais brilhante que o próprio fogo.

O menino se perdeu por alguns segundos admirando o objeto a sua frente, e tinha certeza que esse seria o presente perfeito para seu pai.

Um mais a outra saíram e com seus pés ligeiros que batucavam sobre a calçada de gelo fazendo todo o caminho de casa, numa corrida para chegar em casa antes que o sol pudesse toca-lo.

Relógio de cor anilOnde histórias criam vida. Descubra agora