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Narrado por Anna Gabriella

Estava tranquila e confiante do que precisava fazer, mas, mesmo que o Lucca tenha me deixado completamente confortável durante o almoço, assim que nos aproximamos do batalhão, senti meu corpo travar. Aquela foi a mesma sensação que senti quando visitei meu pai pela primeira vez na penitenciária.

- Está tudo bem? - Me olhou preocupado.
- Sim, acho que acabei comendo demais. - Menti e dei o sorriso mais falso do mundo.
- Acho que tenho um antiácido no meu armário, depois que você conversar com o delegado, pego o remédio para você. Pode ser? - Assenti e desci do carro. Por onde íamos passando, os soldados batiam continência para o Lucca, pelo pouco que entendi ele estava em um cargo hierárquico maior.
- Bom dia, cabo. O primeiro tenente já chegou?
- Sim, senhor! - Respondeu após bater continência.

- Não precisa ficar com medo, Anna. - Falou em meu ouvido, após sentar ao meu lado na sala de espera. Fechei meus olhos e senti meu corpo se arrepiar por causa da proximidade - Vai dar tudo certo e quando sairmos daqui, vou te levar para jantar! - Foi inevitável não sorrir - Seu sorriso é lindo, Anna, e você fica ainda mais linda com ele nos lábios! - Juro que se pudesse cavaria um buraco no chão e enfiaria minha cara ali. Uma tosse forçada fez Lucca se afastar, ele ficou de pé e bateu continência.

- Pode descansar, segundo tenente. - Ele se aproximou de nós - Essa é a moça que veio prestar queixa contra o cabo Muniz?
- Sim, senhor. Essa é Anna Gabriella. Anna, esse é Diogo Linhares, delegado.
- Prazer! - Apertei sua mão.
- Vamos até minha sala? - Ele apontou e eu o segui, ali sozinha com aquele homem me senti pequena demais - Então, senhorita, o cabo Muniz deu a versão dele sobre o ocorrido, assim como o tenente Bonaparte, agora quero ouvir o que a senhorita tem a dizer.
- Eu não conhecia o Paulo até aquela noite, fui para a festa a convite da irmã do Lucca. O Paulo deu em cima de mim, mas logo dei um fora e deixei claro que não estava interessada... - Contei em detalhes tudo que havia acontecido, mesmo não querendo revisitar aquela noite.

- Deixe-me ver se entendi direito, não houve agressão? - Me olhou por cima dos óculos, de uma forma que deixou claro que não estava nos planos dele seguir em frente com aquela denúncia - Olha, senhorita, suas acusações são muito sérias. Entendo que você e o tenente Bonaparte têm algum tipo de relacionamento e talvez ele esteja pressionando a senhorita a estar aqui. Mas, isso não pode ser feito de forma leviana. Essas acusações podem arruinar a carreira de um excelente profissional.

- A não ser que o senhor tenha um conceito da justiça sobre o que é violência, a rigor da lei houve violência física e psicológica, além de assédio moral e sexual. - Disse já nervosa.

- Se acalme, senhorita. Estamos aqui para investigar o ocorrido. - Ri debochada, sentindo minha paciência indo pelo ralo.
- Investigar? - Arqueei a sobrancelha - Trouxeram o Paulo algemado para cá, existem várias testemunhas do que aconteceu, mas você não quer acreditar e eu não vou ficar aqui sentada gastando minhas verdades com alguém que não quer ouvir. Está nítido no seu olhar que você não acredita em mim, não preciso passar por isso. - Levantei da cadeira e saí da sala batendo a porta atrás de mim. Passei direto pelo Lucca e sai dali sem rumo.

- Espera, Anna! - Parou na minha frente.
- Lucca, me deixe em paz, por favor! - Tentei passar por ele, mas seu braço forte envolveu minha cintura mantendo-me ali.
- Não vou deixar você sair daqui nesse estado. Me fale o que houve! - Sua mão livre foi parar em meu rosto, olhei em seus olhos castanhos - Fala comigo, Anna! - Sua voz calma quebrou algo em mim, as lágrimas que antes enchiam meus olhos rolaram por meu rosto.

Lucca soltou meu rosto e puxou meu corpo para mais perto do seu, enlaçando-me em um abraço apertado. Desmontei naquele abraço enquanto ele acariciava minha lombar. Não sei quanto tempo aquele abraço durou, mas levou tempo suficiente para eu me sentir calma a ponto de ser capaz de corresponder aquele abraço tão bom. Ele beijou minha testa e se afastou o suficiente para ver meu rosto.

- Vamos sair daqui agora? - Apenas assenti.

Ele desfez o abraço, passou o braço em meus ombros e me guiou até seu carro, ao contrário do que eu esperava, ele dirigiu por uns três minutos e estacionou numa parte mais calma, onde havia uma espécie de mirante. Sentamos num banquinho e ele respeitou meu silêncio.

- Eu não quero mais fazer isso, nem sei porque deixei você me convencer a fazer essa denúncia. - Ri irônica ao lembrar de como aquele homem havia me tratado - Ele nem ao menos quis me ouvir, disse que não havia acontecido agressão e que eu deveria pensar bem antes de arruinar a carreira do Paulo! - Passei a mão no rosto e olhei para o céu - Foda-se a carreira daquele estúpido. As coisas que o Paulo disse acabaram com algo muito mais importante... - Olhei para ele que me olhava atentamente - Acabou comigo. - Lucca suspirou.

- Por mais que eu me esforce, não dá pra imaginar como tudo isso mexeu com você. - Acariciou minha bochecha - Você está cansada e eu não vou insistir mais nessa situação. Eu mesmo vou cuidar dessa situação!
- Lucca, você não tem que criar nenhuma confusão no seu trabalho por minha causa. - Virei mais para ele - Olha, já notei que você é um bom homem e um policial honesto, mas a polícia já deixou de ser um órgão honesto há muito tempo. Não quero mais saber de nada disso, entende? - Segurei sua mão - Promete pra mim que você não vai se meter em nenhuma confusão por causa disso? - Ele apenas me olhou e assentiu.

Ele ficou me olhando por alguns segundos, mas pra mim parecia uma eternidade, então automaticamente como se houvesse um imã entre nós, nos aproximamos. Quando nossos lábios estavam prestes a se tocar, o celular dele tocou e ele se afastou para atender.

Traiçoeiro DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora