Lyana
O vento fresco de outono roçava meu rosto enquanto cavalgava pelo bosque.
Sombra movia-se com graça sob mim, suas crinas negras flutuando como chamas ao vento. A lembrança de Eris entregando-me Sombra ainda era vívida, o sorriso em seus lábios, a faísca de orgulho em seus olhos. Desde a consumação do nosso casamento, dois dias atrás, a realidade do nosso vínculo parecia cada vez mais palpável.
Os bosques da Corte Outonal estavam mais vibrantes do que nunca. As folhas, em tons de vermelho, dourado e laranja, caíam suavemente, criando um tapete natural sob os cascos de Sombra. O castelo que antes parecia tão vazio, agora parecia pulsar com vida. Eu via movimento pelos corredores, ouvi risos e murmúrios. Tudo parecia ter ganhado um novo significado. Eu parecia finalmente estar gostando daquele lugar.
Meus pensamentos vagavam para o casamento consumado. Eris e eu havíamos finalmente cruzado aquela linha. As memórias daquela noite, o calor e a paixão, ainda estavam frescas na minha mente. Mas também havia algo mais. Um peso, uma responsabilidade que parecia crescer a cada dia. E com isso, vieram encontros inesperados e desconfortáveis.
Lembrei-me do encontro com Beron nos corredores do castelo, onde palavras se cruzaram brevemente, mas o suficiente para eu sentir a intensidade de seu escrutínio. Era como se ele estivesse avaliando cada movimento meu, cada palavra que eu dizia. Um lembrete constante da política e das intrigas que permeavam nosso mundo.
Senti a ligação entre Eris e eu pulsar suavemente, como um fio de prata que nos conectava. Fechei os olhos por um momento, buscando-o através dessa ligação mágica. Encontrei-o sentado à beira de um lago semi-congelado, pensativo, a água refletindo fragmentos do céu outonal. Sem perder tempo, guiei Sombra até lá.
Eris estava vestido com uma túnica de veludo verde escuro que realçava seus olhos da mesma cor. O cabelo ruivo, sempre tão vibrante, caía-lhe sobre os ombros em ondas soltas. Havia uma melancolia em seu semblante, um peso que parecia lhe curvar os ombros. Desci de Sombra e caminhei até ele, sentando-me ao seu lado no tronco caído:
— O que está acontecendo? — perguntei, minha voz suave no silêncio do bosque.
Ele suspirou, sem desviar o olhar do lago semi-congelado:
— Meu pai... — começou ele, a voz grave e pensativa. — Ele quer trazer a guerra para nossa corte. Beron acredita que a única maneira de fortalecer nossa posição é através do conflito.
Observei a tatuagem em seu pescoço, um símbolo que ambos compartilhávamos, representando nosso acordo e nossa união. Era uma lembrança constante do compromisso que tínhamos um com o outro.
Respirei fundo, sabendo as pesadas palavras que sairiam de minha boca:
— Está na hora de agirmos, Eris.
Ele finalmente desviou o olhar do lago, encontrando meus olhos. Havia uma mistura de curiosidade e esperança em sua expressão:
— E o que pretende fazer? — Perguntou ele.
Olhei ao redor. O bosque silencioso a não ser pela brisa que sussurrava entre as árvores. Estendi a mão para ele:
— Vamos, para a minha casa.
☽ ☾ ☽ ☾ ☽ ☾
O vento gélido cortava como facas enquanto avançávamos pela neve espessa. Cada passo de Sombra afundava nas camadas brancas e imaculadas, criando um rastro que logo se perdia sob os flocos incessantes que caíam. Ao meu lado, Eris montava um robusto cavalo marrom, ambos envoltos em pesadas capas de lã e pele que mal conseguiam conter o frio cortante.
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Corte de Luz e Sombras - Livro 1 - Fanfic ACOTAR
FanfictionApós anos sobrevivendo nos calabouços de Hybern, duas amigas conseguem escapar por um triz, retornando a Prythian. Lutando por seu lugar de direito na Corte Diurna e se estabelecendo dentro do círculo íntimo, Surya e Lyana tentam unir aliados para d...