Surya
Os jardins sagrados da Corte Diurna eram um paraíso de cores e fragrâncias.
Rosas douradas e lírios de um branco puro espalhavam-se por todo o lado, enquanto fontes de mármore despejavam água cristalina em pequenos lagos onde peixes de cores vibrantes nadavam serenamente. Caminhando por entre as flores, eu sentia a brisa suave acariciar meu rosto, trazendo consigo o perfume das pétalas. Este era o meu refúgio, o único lugar onde eu podia escapar, mesmo que por alguns momentos, da constante vigilância de Helion e Maxon.
Homens não eram permitidos ali. Os jardins da mãe. Como as sacerdotisas o chamava, era um lugar puro para o culto do sagrado feminino. Precisávamos entrar sem calçados ali, e sempre com roupas claras. Eu costumava rezar pedindo ajuda para a mãe, em meus dias como prisioneira. Desde que eu havia chegado a Hybern eu sempre clamei por ela.
Passei mais de cem anos presa naquele lugar. Mas eu sabia que ela me atendia. Os horrores que presenciamos naquele lugar eram indescritíveis. Feéricas e grã-feéricas eram violadas dia após dia, e nunca submeteram a mim ou a Lyana tal atrocidade. Por isso eu ainda acreditava nos deuses.
O véu e a castidade era um símbolo de devoção em minha corte. Quando cheguei em segurança prometi que faria seu uso. Desde então eu frequentava os jardins sagrados quase todos os dias. Algumas vezes para rezar em gratidão, mas ultimamente era pra fugir de tudo aquilo.
Eu me sentei à beira de uma fonte, observando os peixes nadando preguiçosamente. A paz do jardim contrastava fortemente com a inquietação que sentia por dentro. Não era apenas a superproteção que me irritava, mas a sensação de que algo estava sempre fora do meu alcance, algo que eu não conseguia identificar. Eu suspirei, fechando os olhos e deixando a brisa levar embora, mesmo que por um momento, as minhas preocupações.
Uma brisa forte soprou, fazendo meu corpo se arrepiar. Foi então que senti uma presença, algo que não pertencia à tranquilidade do jardim. Abri os olhos lentamente e olhei ao redor, tentando identificar a fonte da sensação. Não vi nada de imediato, apenas as flores e as árvores balançando suavemente. Mas eu sabia que estava sendo observada.
Era como se o ar ao meu redor estivesse carregado de desejo, uma energia palpável que me envolvia. Fechei os olhos por um momento, tentando entender essa sensação. Não era desconfortável, mas sim intrigante, excitante até.
Havia algo familiar naquela presença. Eu podia sentir o calor de um olhar que não conseguia ver, um calor que despertava uma resposta em mim. Era como se meu corpo reconhecesse algo que minha mente ainda não havia compreendido.
Respirei fundo, deixando o perfume das flores preencher meus sentidos, mas a sensação de ser observada permanecia. Abri os olhos e olhei ao redor mais uma vez, sem encontrar nada. No entanto, sabia que ele estava lá, escondido nas sombras, seus olhos fixos em mim. A identidade desse observador era um mistério, mas a intensidade de sua atenção era inegável.
Fechei os olhos, uma sensação de expectativa crescendo dentro de mim. Havia algo entre nós, algo que eu não podia nomear, mas que me atraía irresistivelmente. Eu sabia que ele estava lá, esperando, desejando. E embora não pudesse vê-lo, eu o sentia tão claramente como se ele estivesse ao meu lado.
Talvez ele se revelasse, talvez não. Mas a presença dele, quente e insistente, ficaria comigo, uma promessa não dita, um desejo não saciado. Havia alguém nas sombras, alguém cujo olhar me queimava e cujos pensamentos se entrelaçavam com os meus, mesmo na distância invisível que nos separava.
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Corte de Luz e Sombras - Livro 1 - Fanfic ACOTAR
FanfictionApós anos sobrevivendo nos calabouços de Hybern, duas amigas conseguem escapar por um triz, retornando a Prythian. Lutando por seu lugar de direito na Corte Diurna e se estabelecendo dentro do círculo íntimo, Surya e Lyana tentam unir aliados para d...