[0.1] Ponto de Ruptura

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𝓞 homem observa discretamente a mulher a uma distância segura.

Seus sapatos com o salto fino e comprido rangiam fortemente cada vez que pisava no chão, com certa pressa. Eram vermelhos e revestidos com a pele de algum animal; mesmo de longe, era possível perceber o preço alto do produto sofisticado. Assim como todas as outras peças de sua roupa. E era exatamente por isso que a seguia.

Desencostou-se da parede onde fingia estar entretido pelo celular e começou a andar em passos curtos, aparentemente despreocupados, desde que a viu se afastar na companhia de duas amigas. Colocou as mãos no bolso e a seguiu com cautela, admirando algumas das vitrines daquele shopping imenso. Era tudo tão colorido e extravagante. Isso o incomodava um pouco.

— Ei, Aeri! Vamos naquela loja, vi uma coleção nova de roupas tão linda! — falou uma das amigas, sua voz saindo alta e animada, apontando para o estabelecimento notoriamente seleto.

— Acho uma ideia ótima, estou precisando de umas saias novas! — A mais baixa concordou, e a mais alta suspirou em aceitação.

— Tá bom, mas não vamos demorar muito! Ainda tenho que passar em outros lugares — Aeri respondeu as duas com um tom autoritário.

Seguiram numa conversa estridente cheia de risadas. O homem franziu as sobrancelhas, esforçando-se para compreender tantas palavras por segundo em um idioma que não era seu de nascença. Seus olhos acompanharam as três japonesas adentrando a referida loja, e silenciosamente ele foi até alguns bancos que haviam logo a frente e se sentou.

Não era a primeira vez que a seguia. Já estava cumprindo essa rotina há algumas semanas, cronometrando cada momento de seu dia até visualizar um padrão claro na vida daquela jovem. Seu nome é Uchinaga Aeri e ela é absurdamente rica, herdeira de um império imenso de shoppings espalhados por todo o Japão — inclusive estavam em um deles agora —, ela os frequentava todos os dias à tarde para comprar mais uma pilha de coisas irrelevantes e costumava ganhar desconto na maioria das lojas pela parceria comercial que tinham com os pais dela, o que era engraçado porque desconto era exatamente uma coisa que Aeri não precisava.

Quase no mesmo momento seu celular vibrou no bolso da jaqueta de couro preta que usava. Enfiou a mão no espaço pequeno e retirou o aparelho de lá, desbloqueando a tela e vendo a notificação de uma mensagem bem simples e direta.



Tudo certo?


Até agora, sim.


E ali ficou pela próxima meia hora aguardando pacientemente as três garotas retornarem, embora seu interesse se encontrasse apenas em uma delas. O tédio quase o consumiu por completo durante todos aqueles minutos, mas se atentou rapidamente quando avistou Aeri saindo da loja em meio aos risos, sendo acompanhada fielmente pelas outras.

— Juria, quer ajuda com as sacolas?

— Não precisa, Chisa!

— Vocês vão ficar pra trás! — Aeri gritou já na frente enquanto as duas conversavam ainda na entrada da loja.

Elas riram e correram atrás da amiga.

Logo depois, o homem se levantou do banco e silenciosamente rumou para a mesma direção.

O trio permaneceu unido por mais quarenta e cinco minutos, conforme já imaginado pelo homem. De tanto observar Aeri, ele sabia que ela gostava de ir até o jardim botânico de Nagai sozinha no final da tarde e se sentar em um dos bancos enquanto fuma um cigarro. Só depois de algumas horas ela ligava para que seu motorista viesse buscá-la. Então, antecipando isso, quando a viu se despedir das amigas, ele decidiu deixar o shopping e ir até o próximo destino dela. Estacionou sua moto Icon Sheene uma esquina antes do Parque Nagai, em uma rua com boa visibilidade para ver o carro no qual a garota seria trazida.

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⏰ Última atualização: Oct 11 ⏰

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