A vida é feita de escolhas.
Enquanto estou na fila da filial do Starbucks mais famosa da Avenida Paulista, ás oito da manhã, percebo que essa foi uma das piores que já fiz em meus vinte e oito anos.
Pior do que cortar minha própria franja seguindo um tutorial do Youtube na véspera da minha colação de grau.
Pior do que deixar de me mudar para João Pessoa quando passei no vestibular no curso de Direito da UFPB.
São Paulo está sempre lotada em todos os lugares, mas a Avenida Paulista durante as manhã de dias úteis, desafia a lei da física de que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço. A sensação é de que pelo menos metade dos doze milhões de habitantes da cidade resolveram passar por aqui.
Vir tomar café da manhã aqui antes de ir para uma audiência foi uma péssima decisão.
Depois de uma espera que parece infinita, finalmente sou a próxima da fila a ser atendida. Meu estômago ronca, mas ao ver a pessoa da minha frente mudar o pedido cerca de três vezes e pedir para o atendente explicar o tamanho dos copos, abro um sorriso, lembrando-me da minha primeira vez aqui.
Quando eu, Finn e Rose nos mudamos para São Paulo, passamos pela mesma situação na nossa primeira vez no Starbucks. Não conseguíamos decidir qual café superfaturado iriamos pedir. Queríamos apenas o que fosse mais fotogênico, para que pudéssemos tirar fotos espontaneamente forjadas o segurando no meio da Avenida Paulista. Fazer isso era nosso sonho desde a adolescência, quando passávamos horas no Orkut compartilhando fotos com amigos virtuais de outros estados, os quais nunca tivemos certeza de que não eram homens de 50 anos se passando por adolescentes.
Acho que todo millennial secretamente já teve o mesmo sonho. Nós três só conseguimos realiza-lo quando nos tornamos adultos.
E foi incrível a sensação de vir aqui a primeira vez.
Tive a sensação de que não existem sonhos bobos, e que você nunca estará velho demais para realiza-los. De que coisas que parecem distantes da sua realidade um dia podem acontecer.
Estar aqui em meio a essa lotação me traz a sensação de que é real: estou morando numa cidade grande, a maior da América Latina. Todo esse caos e engarrafamentos podem parecer chatos, mas eu costumava sonhar em ter isso, e agora que tenho, sou grata.
Acho que essa é uma justificativa boa o suficiente para em pleno 2023 continuar vindo aqui, nessa mesma filia, sempre antes de momentos importantes.
— Bom dia. O que gostaria de pedir? — o atendente pergunta.
— Bom dia. Um caramelo machiatto, tall, com acréscimo de essência de avelã — falo, abrindo um sorriso em seguida, me lembrando do dia em que descobri que essa era a melhor bebida daqui.
Quer dizer, ser considerada a melhor bebida é algo relativo. Mas, certa vez, cansada de gastar dinheiro com cafés que eu não gostava, resolvi perguntar a atendente qual ela considerava a melhor bebida da loja. Essa foi a resposta, e desde então nunca pedi algo diferente.
— Nome? — ele está com a caneta na mão prestes a escrever no copo.
— Taylor.
O atendente estreita os olhos, como se tivesse entendido o que estou fazendo.
Mentir o nome no Starbucks é um hábito que sigo religiosamente desde o meu primeiro dia aqui. Quase todos que se mudam para São Paulo vem em busca de uma nova vida, e a chance de recomeçar. Ser outra pessoa. No Starbucks, tenho a chance de fazer isso de uma forma mais literal.
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Amor em última instância - REYLO AU com advogados rivais
RomanceREYLO - RIVALS TO LOVERS - GRUMPY SUNSHINE - HOT Rey é uma advogada de 28 anos que sonha em virar promotora de justiça, mas nunca conseguiu ter tempo para se dedicar a estudar para o concurso devido ao alto custo de vida em São Paulo, e a ajuda fina...