Capítulo 1

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Abril
Segunda-feira





Daniel Smith.

Esse é o nome do homem que se mudou para minha vizinhança e mora em frente à minha casa a exatos 3 meses e 11 dias. Ele tem 26 anos, nasceu no dia 10 de setembro, aparentemente tem 1,90 de altura, pele morena, cabelo castanho escuro e adora comida japonesa, pois pede todo sábado a noite. Essas são algumas das poucas informações que obtive stalkeando o perfil dele na Internet desde que veio morar aqui, além de observá-lo pela janela do meu quarto.

Quase todos os dias eu passo a noite em claro stalkeando o perfil do meu vizinho em sua rede social, onde ele não segue absolutamente ninguém, mas tem 100 mil seguidores que admiram seu trabalho como fotógrafo. Em seu perfil não há nenhuma foto dele, apenas fotos de eventos, fotos de pessoas em casamentos, em festas grandes, e também fotos tiradas aleatoriamente de paisagens e pontos turísticos.

Sei que pareço uma psicopata pervertida por bisbilhotar a vida de alguém dessa maneira, mas desde o momento em que ele se mudou para cá, surgiu em mim uma necessidade absurda de saber tudo sobre ele. Do que ele gosta, quais são seus hábitos diários, seus costumes peculiares e suas preferências pessoais. Além disso, esse é um dos poucos Hobbes que eu tenho que me mantém distraída do tédio que está sendo ficar em casa sozinha enquanto meus pais viajam. Eu até poderia organizar uma grande festa em casa, assim como qualquer outro jovem da minha idade faria. Porém, devido a minha ansiedade social, não consegui fazer amigos antes do meu último ano na escola terminar.


– Por que ele está demorando tanto para publicar algo novo? — Questiono em voz alta enquanto olho para o meu notebook, analisando o perfil de Daniel como se uma nova informação sobre ele surgisse por um milagre.


Ouço uma movimentação lá fora e decido ir até a janela do meu quarto para checar o que era, quando vejo Daniel tirando seu carro da garagem e saindo com ele em seguida. Como ele não sai muito, pensei que depois de meia hora ele retornaria para casa, como de costume. Porém, já se passaram 2 horas e ele ainda não voltou.

Após longos minutos perambulando pelo quarto, ouço meu estômago roncar, avisando-me que está vazio e que eu deveria comer algo. Saio do meu quarto e desço as escadas e vou até a geladeira, mas quando a abro, meus olhos vão diretamente para um prato com resto de comida. O mesmo prato que eu tentei comer no almoço, mas devido ao meu distúrbio alimentar, não consegui terminá-lo, e para melhorar a situação, ainda vomitei o pouco que eu tinha conseguido comer. O pior é que eu não sei ao certo o motivo pelo qual eu comecei a ter esse problema, apenas lembro-me do meu corpo começar a rejeitar comida pela primeira vez depois...daquele dia.

A questão é que nem meus próprios pais sabem sobre esse distúrbio, pois eu nunca me senti a vontade para contar a eles sobre isso. Eles não entenderiam, de qualquer forma.


– Droga! — Digo batendo a porta da geladeira — Maldito distúrbio!


Pego o meu celular e vejo que são 3 horas da tarde. Entediada, vou até a varanda da minha casa na esperança de ver quando Daniel chegasse. Me sento no último degrau da escada da varanda e apoio meu queixo em meus joelhos.


E se eu tentasse entrar na casa dele? — A ideia surge de repente em minha mente — O que? Não, não. Isso seria invasão, Elza!


Sei que parece ser uma péssima ideia, mas de alguma maneira, poderia dar certo. Se eu conseguir entrar lá, eu poderei descobrir muito mais do que eu encontro stalkeando ele pela internet.

Eu me levanto, respiro fundo e vou em direção a casa dele. Ao chegar na porta da frente, percebo que estava trancada, então vou para a parte de trás da casa na esperança de encontar alguma porta destrancada. Para minha sorte, a porta dos fundos estava aberta. Eu entrei lentamente, com medo da casa ter algum tipo de sensor que captasse movimento.

Aquela porta me leva até a cozinha, que além de ser grande e elegante, está completamente organizada, como se nunca tivesse sido usada antes, o que mostra que Daniel tem mania de limpeza e organização. Logo, vou para a sala, onde há um sofá enorme que provavelmente caberia umas 10 pessoas facilmente. A televisão que está pendurada na parede também é enorme, o que me fez entender o porque ele não sai muito de casa. Se eu tivesse uma televisão dessa em meu quarto, provavelmente eu não sairia mais dele. Mas não é como se eu já não fizesse isso, né?

Olho ao redor e vejo que há alguns quadros nas paredes. Quadros novos e em perfeito estado, como se eles tivessem sido retirados de um museu e colocados ali só para que Daniel pudesse observá-los sozinho. Isso parece solitário, mas confesso que uma parte de mim adoraria isso.

Enfim, decido subir as escadas, e quando chego no último degrau, vejo que há uma porta aberta no fim do corredor. Caminho até ela devagar e quando entro, percebo que se trata do quarto de Daniel, já que a cama está bagunçada. Subo na cama e aproveito que já está desarrumada para pular um pouco, parecendo uma criança em uma cama elástica. Dou um último pulo e me jogo de costas na cama, o que me faz gargalhar pela emoção que surge em mim quando o impacto do meu corpo faz a cama balançar.

Eu recupero meu ar e olho para o lado esquerdo, entrando em estado de choque com o que eu acabara de ver: uma foto da minha formatura em um porta retrato que está em cima da pequena mesa de cabeceira que fica ao lado da cama dele.

Eu me levanto rapidamente e me sento na ponta da cama para pegar o porta retrato e observá-lo mais de perto. A menina da foto realmente era eu.


– Mas que porra?! — Exclamo, tentando raciocinar a situação.


Eu coloco o porta retrato em cima da cama e abro a primeira gaveta da mesa de cabeceira, me deparando com várias outras fotos minhas, cada uma tirada em um lugar diferente e em uma data diferente. Me perco em meus pensamentos olhando para aquelas fotos, quando saio do choque com a voz e passos de alguém se aproximando do quarto. Eu fecho a gaveta e coloco o porta retrato exatamente onde estava, e em seguida me jogo no chão e me escondo em baixo da cama. A voz é de Daniel, que parece estar conversando com alguém pelo telefone. Ele abre a porta do quarto e vai até seu guarda roupa, onde seleciona algumas peças de roupa e as joga em cima da cama.


– Não se preocupe, eu não vou demorar. Já estou a caminho! — Daniel diz e em seguida desliga o telefonema.


Daniel se aproxima da cama e começa a se despir, mas a única coisa que vejo, são seus pés. Logo, ele seleciona algumas peças de roupa e as veste. Quando ele termina de se arrumar, o observo andar até a porta do quarto e parar ali por alguns segundos, como se estivesse pensando em algo. Porém, logo ele sai e fecha a porta, e quando o ouço descer as escadas, saio de baixo da cama com calma para não causar barulho e em seguida vou até a janela do quarto, vendo ele se aproximar de seu carro preto vestindo um terno que modelava seu corpo, deixando-o ainda mais sexy e elegante do que o normal.

Daniel para na frente de seu carro e retira seu celular do bolso de seu terno. Ele parece digitar algo, como se estivesse mandando mensagem para alguém. De repente, meu celular vibra com uma nova notificação, e quando vou verificar, vejo que um número desconhecido acabara de me mandar uma mensagem.


3:15PM: Pensou que eu não te veria embaixo da minha cama, Valentini? Espero que fique para o jantar...


Ao ver a mensagem, sinto a vergonha e o desespero se empoderar de mim. Com um pouco de receio, eu volto a olhar para a janela, desacreditada, vendo-o entrar em seu carro e dar partida.





Autora: @gonzal_lz

𝐀 𝐨𝐛𝐬𝐞𝐬𝐬𝐚̃𝐨 𝐪𝐮𝐞 𝐯𝐨𝐜𝐞̂ 𝐬𝐞𝐦𝐞𝐢𝐚Onde histórias criam vida. Descubra agora