O QUE EU FAÇO PARA SER OUVIDA?
Não, acho que a pergunta certa que eu deveria fazer é "Eu deixo as pessoas me ouvirem?" E̶u̶ q̶u̶e̶r̶o̶. E̶u̶ p̶r̶e̶c̶i̶s̶o̶. Eu não consigo. Anseio em gritar por ajuda, mas qualquer resquício de som na minha garganta não é suficiente para compensar o tamanho dos meus pensamentos.
Analiso as folhas das árvores da janela do meu dormitório. Me pergunto se são amigas. Elas contam confidências umas às outras? Devem ser felizes por isso. Devem ser felizes. Devem ser felizes.
Me encontro tão submersa sobre as palavras em minha mente que nem percebo a presença de Heeso ao chegar em casa. Ela parece cansada, olhos pesados e ombros tensos.
— Aconteceu alguma coisa? — quebro o silêncio entre nós.
— Não, só estou estressada com aquele trânsito infernal. Pediu comida?
Eu esqueci. De novo. Encontro os seus olhos esperando que ela já soubesse a resposta sem que eu dissesse.
Ela olha de volta para mim, inclinando a cabeça de forma reprovadora. Ela respira fundo, os ombros caindo de exaustão.
— Se eu não tivesse aqui, você ia morrer de fome, é?
Dou um leve sorriso sabendo que isso iria fazê-la relaxar. Heeso tem um humor leve, pra minha sorte, é fácil se conciliar com ela. Ela me ouviria. S̶e̶ e̶u̶ f̶a̶l̶a̶s̶s̶e̶.
— Quer pizza? — inclinou a cabeça, pensando.
— Seria ótimo. Você pede?
— E eu tenho escolha? — sorriu pegando o telefone e discando o número.
Sinto meus ossos estalarem após me levantar na cadeira do mini espaço onde estudo depois de tanto tempo sentada, perdida no tempo que estava, entre labirintos da minha mente onde se tornam cada vez mais profundos.
— Vai chegar daqui 20 minutos. Hoje é o dia que mais pedem. — ela arfa e se joga no sofá.
— Não estou com muita fome. — comento, automaticamente me lembro sobre a aula de amanhã. — Você terminou os slides da matéria de psicologia social?
Ela leva as duas mãos ao rosto enquanto resmunga. Sua respiração reclama. Seu corpo existe sem vontade. Eu me encontro na mesma situação. Não que eu não gostasse das matérias da faculdade, mas ler dezenas de livros em apenas um mês fazia meu ser querer evaporar.
— Vou fazer essa noite, mas antes vou comer até não aguentar mais.
— Beleza, eu te ajudo a fazer depois. — Essa ajuda não era garantida. — Os meninos vão vir aqui?
— Eu só chamei o Jungwon.
— Uau, que maneiro, eu vou ficar de vela? — reclamo com um pouco de deboche me virando de frente pra ela. Apesar dela saber que eu não me importo. Gosto de vê-los juntos. Q̶u̶e̶r̶i̶a̶ t̶̶e̶̶r̶ i̶s̶s̶o̶. M̶a̶s̶ t̶e̶n̶h̶o̶ m̶e̶d̶o̶. A companhia deles me distrai.
— Se quiser chamar os meninos... que provavelmente devem estar fazendo nada... Eu só vou ter que pedir mais uma pizza. — revira os olhos e pega o celular.
Sorrio de canto e me levanto para pegar meu celular no quarto. Jay e Jake devem estar competindo quem fica mais tempo deitado agora. Procuro o número de Jake na minha lista de contatos e ligo pra ele.
Não demora muito para me atender.
— Quem diria Kang Rari me ligando? Aconteceu alguma coisa, princesa? — Seu humor era irritante às vezes.
— Bem, vai acontecer se vocês dois levantarem os traseiros dessa cama e virem pra cá. Pedimos pizza. — avisto minha amiga se esticando no sofá. — Heeso e eu não estamos muito a fim de cozinhar hoje.
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OPIA | JAKE SIM
FanficA vida de Rari era baseada em coisas simples: estudar para os exames da faculdade de psicologia, dormir no tempo livre e tentar sobreviver pelo espírito possessivo de sua mãe. Tudo era relativamente tranquilo e sobre controle desde que estivesse bem...