Prólogo - A Despedida

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Certa vez me disseram que se apagássemos todos os erros do nosso passado, apagaríamos, também, toda a sabedoria do nosso presente. Eu acreditava nisso, até descobrir as reais consequências dos erros que cometi outrora e, sinceramente, cheguei a desejar que eu nunca tivesse vindo à esse mundo. Porém, esse tipo de pensamento vêm devido ao nosso péssimo hábito de acreditar que bem e mal são condições independentes, quando, na verdade, eles são como luz e sombra, um sempre existindo em função do outro.



                                                                       



Ainda era possível ouvir os uivos das criaturas das sombras, ecoando do fundo da floresta, mesmo depois que o sol nasceu. Perto dali, havia um pequeno vilarejo, porém, a vida já não existia mais ali. As casas estavam em completa ruína, e as plantações, destruídas e saqueadas. Mesmo naquele cenário completamente desolador, uma criança andava por entre escombros, chamando por seus pais, por seus amigos, ou qualquer um que pudesse explicar para ele o que havia acontecido na noite passada. Tinha sido tudo tão rápido. Ele se lembrava de gritos e uivos, do desespero no olhar de seu pai e o cheiro de fumaça. Em seguida, sua mãe o pegou no colo e, tapando seus olhos, correu com ele até o armazém, colocando-o dentro do silo onde eram guardados os grãos.

— Por favor, me escuta meu filho. — As palavras de sua mãe ainda lhe eram nitidas como a luz do dia. — Vamos brincar agora, tá? Do jeito que a mamãe e o papai te ensinaram.

Dava pra ouvir os gritos do pessoal da vila misturados a rosnados e guinchos que ele nunca tinha ouvido antes. Porém, a mulher, derramando lágrimas de desespero, porém, mantendo um sorriso terno, segurou gentilmente o rosto do garotinho, fazendo-o focar nela.

— Você precisa ser forte, me entendeu? Não importa o que aconteça, não importa o que você ouça, não saia antes do amanhecer. Promete fazer isso pela sua mãe?

O garoto, tentando segurar o choro, acena com a cabeça. A mulher beija sua testa e fecha rapidamente as portas do silo, abandonando o garoto que permaneceu ali, segurando firme o choro, ouvindo os uivos, os gritos e o som de madeira e metal se quebrando. Até que, de repente, tudo ficou quieto. Porém, o garoto se manteve firme a promessa que fez com sua mãe. Foram horas e horas do mais absoluto silêncio, até que, finalmente, o primeiro raio de sol entrou pelas frestas dos tijolos de pedra do silo. Porém, ainda demoraram mais algumas horas até que o pequeno tivesse coragem para sair.

Não havia corpo algum, apenas manchas de sangue marcas de garras no chão e nas paredes das casas. Todos os mantimentos tinham sido pegos, ao contrário dos objetos de valor, como um cordão de ouro que o garoto encontrou caído no próximo ao poço da vila. O garoto continuou chamando por ajuda, mas ninguém respondeu, e seu desespero foi crescendo conforme a noite chegava. Então, quando o sol finalmente se despedia no horizonte, o garoto correu até o silo e se trancou novamente lá. Foi uma noite longa e silenciosa, a qual o garotinho acabou conseguindo pegar no sono.

— Tem alguém aí!

O garoto acordou em um salto, seu coração quase pulando do peito. Era uma voz humana, uma voz de mulher. Porém, a promessa que tinha feito para sua mãe ecoou em sua mente, uma vez que o sol ainda não havia nascido. Foi então que, em ímpeto de coragem, e também medo de ser deixado para trás, que o garotinho abriu a porta do silo e correu, aos tropeços, seguindo som de cascos batendo na pedra.

Foi então que viu, pela primeira vez, iluminada pela luz da lua, uma mulher com cabelos loiros e compridos, sobre um cavalo branco e, apesar de não conseguir distinguir os traços de seu rosto, sentia um laço maternal com ela...

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⏰ Última atualização: Aug 02 ⏰

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