Capítulo 16

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Desconfortável não era realmente a palavra certa para descrever o Natal. Meus pais eram do típico estóicos. Meu pai evitou contato visual durante os primeiros dez minutos e minha mãe suspirou muito e tentou conversar um pouco. Foi engraçado como de repente eles não tinham mais poder sobre mim. Servi uma taça de vinho e ofereci à minha mãe. Meu pai recusou a sua. Ainda sem contato visual.

"Obrigada, Kara. Acredito que você esteja bem"Minha mãe estava conversando comigo, mas ela estava concentrada no vinho. Não era o que eles estavam acostumados, mas era algo que eu gostava e custava menos de vinte dólares.

"Estou indo muito bem. Tenho um bom emprego, meu próprio carro e a faculdade é tudo o que eu esperava que fosse."

Eu não precisava fazer aquela piada sobre a faculdade, mas isso me deu alguns momentos de prazer vitorioso. Escondi meu sorriso enquanto tomava um gole.

"Como está sendo ser babá?" Mamãe perguntou.

Eu tinha esquecido o quão insensível ela poderia ser quando queria. "Bem, ser cuidadora é um pouco mais complexo do que ser babá, mas os Luthor são uma família maravilhosa e eu realmente amo o menino."

"Você não só faz buscá-lo na escola e brincar com ele até a mãe dele chegar em casa?"

"Allura." Meu pai finalmente falou.

"O que? É uma pergunta legítima. Eu apenas pensei que 'cuidadora' fosse uma forma formal de dizer babá." Ela encolheu os ombros e serviu mais vinho em sua taça.

"Faço mais do que isso, mas combina com meu horário da faculdade e sou bem paga. Agora posso obter o diploma que sempre quis, pagar meus empréstimos e ter um carro decente para dirigir." Olhei para Vovó e sorri. "Sem ofensa." Eu tinha consertado o aquecedor do carro dela, mas o óleo pingando estava lá para ficar. Eu ainda não tinha dinheiro para comprar uma nova transmissão, mas eu o abastecia nos fins de semana sempre que ela pedia.

"Sem problemas. A comida está pronta, mas preciso de ajuda para cortar o peru", disse Vovó.

Nunca vi meu pai se mover tão rápido em sua vida. "Aqui, eu vou ajudar." Ele desapareceu rapidamente, me deixando sozinha com minha mãe. Ficou um silêncio por um momento. Então nós duas começamos a conversar ao mesmo tempo para preencher o vazio.

"Eu queria que você soubesse..."

"Acho que Vovó fez um bom trabalho..."

Sorrimos uma para a outra. Ela levantou a palma da mão para eu continuar.

Limpei a garganta. "Eu queria que você soubesse que, por mais que eu odiasse o que você e papai fizeram, entendo por que vocês fizeram isso."

Mamãe deu um passo em minha direção. "Lamento que tenha parecido uma coisa tão dura, mas sentimos que era a hora." Ela poderia ter se explicado melhor, mas era assim que ela lidava com as coisas. Direta  ao ponto. Eu herdei meu lado emocional do meu pai.

"Foi uma merda, mas pelo menos agora estou sozinha. Ah, e você pode me tirar do seu plano telefônico. Eu tenho o meu agora."

Ela assentiu. "Sim. Eu percebi isso."

"O telefone caiu em uma piscina e não funciona mais."

Minha mãe ergueu as sobrancelhas, mas deixou passar. "Espero que possamos deixar tudo isso para trás e ser uma família novamente. Isso realmente perturbou sua avó." Comportamento típico de mãe. Desvie toda e qualquer emoção para outra pessoa.

Eu respirei fundo. "Um passo de cada vez mãe. Vamos curtir o Natal."

Não éramos uma família próxima. Vovó era nossa cola. Meus pais estavam muito envolvidos em suas próprias vidas e eu cresci egocêntrica. Papai e Vovó interromperam o momento com comida. Segui Vovó de volta à cozinha e peguei a cesta de pãezinhos e a molheira.

KARLENA - You Want Me?Onde histórias criam vida. Descubra agora