𝐊𝐢𝐥𝐥 𝐨𝐫 𝐁𝐞 𝐊𝐢𝐥𝐥𝐞𝐝: 𝐞𝐯𝐞𝐫𝐲𝐭𝐡𝐢𝐧𝐠 𝐭𝐨 𝐬𝐮𝐫𝐯𝐢𝐯𝐞 - SBG

𝐈𝐕 - É por isso que os estadunidenses morrem cedo nos filmes de terror.

Na fila em frente ao grande ônibus amarelo, Charlotte se força a reprimir um palavrão quando percebe que esqueceu o carregador do seu celular.

Aquele dia realmente havia começado com uma maré de azar.

Veja bem, a Rousseau não acreditava em "energia" ou "forças maiores", mas tudo, desde o começo desta manhã infernal, parecia se esforçar para lhe dizer algo – ou apenas tirá-la do sério, do ponto de vista cético da garota.

Para começar, seu despertador não tocou, o que resultou no atraso de toda a sua rotina matinal e Charlotte odeia estar atrasada. Depois do despertador foram o chuveiro, a faca e a máquina de lavar enguiçada – ela teve de tomar banho frio, cortou o dedo fazendo o omelete de Annabelle e as roupas que deveriam ter sido centrifugadas durante a noite ainda estavam encharcadas, impossibilitando que ela as estendesse no varal ou, sequer, as pusesse na secadora. Com tudo, cá estava a garota, com um band aid enrolado no dedo indicador, as roupas que usara no dia anterior e uma mochila que foi feita às pressas, depois de despachar uma certa garotinha loira na casa de Cecília.

Agora, Charlotte já havia se conformado com a idealização de como seriam esses dois dias, as longas horas em um ônibus barulhento e abafado, a certeza de ter de dividir um quarto de hotel apertado e a possibilidade de ter que fazer o trabalho sozinha. Mas, a ideia de passar por isso sem celular, em uma cidade desconhecida, praticamente incomunicável... Estava a deixando louca!

Mesmo com todas as responsabilidades e objetivos, ela ainda era uma adolecente como qualquer outra, dependente da tecnologia. O que ela deveria fazer, então? Conversar? Fazer amizade com os seus colegas? Percebe o quanto isso soa ridículo? Sua manhã já havia começado mal, se tivesse que interagir com um dos esportistas acéfalos ou projetos de Heather Chandler, Charlotte tinha certeza de que acabaria perdendo o réu primário.

Bem, sim, ela podia apenas comprar um novo carregador quando parassem em algum centro comercial na Savannah... Mas ela não o faria, tinha seus ideais. Quer dizer, o fato de um carregador vagabundo, que provavelmente quebraria depois de um mês de uso, estar custando uma fortuna tinha certo peso em sua decisão. Ela não era mão de vaca, isso se chama responsabilidade financeira, sabia?!

De qualquer forma, a extensa e articulada conversa que sucedia de maneira unilateral na cabeça de Charlotte, é interrompida por uma voz animada chamando o seu nome, uma que foi alta o suficiente para se destacar dentre a constante algazarra da pequena multidão de alunos.

— Charlie! — o sorriso doce de Taylor fez com que a Rousseau deixasse o mau humor de lado um pouco, a morena era tão legal com todos que ela se sentia na obrigação de ser, no mínimo, educada — Que bom que você veio! Ainda não encontramos mais ninguém do grupo.

Um pequeno sorriso camufla o estresse e cansaço de Charlotte.

— O Logan tá lá no começo da fila, dei um "oi", mas ele tava no telefone. E eu disse que viria. — responde calma, parando para analisá-la rapidamente.

Os cabelos escuros de Taylor estavam sutilmente bagunçados, dando-lhe uma aparência despojada que apenas serviu para ressaltar sua beleza natural. Suas roupas eram casuais, um par de all stars, jeans e uma camiseta amarela com a estampa "good twin", escrita em azul. Automaticamente, seus olhos buscam pelo outro gêmeo, Tyler, que estava atrás da mesma, com a camisa de estampa "evil twin".

Charlotte solta uma risada nasal. O detalhe adorável e estupidamente bobo das camisas combinando a fez sorrir involuntariamente enquanto a dupla se aproximava.

— Mesmo assim, que bom que veio. — ela enfatiza sorridente — Disseram que vamos ter que dividir os quartos de hotel, quatro alunos em cada e meninos e meninas separados. Se não tem outra opção, pelo menos posso ficar com alguém que já conheço.