𝐈 - Ano novo, vida nova.

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2 semanas atrás.

Charlotte já estava acordada antes mesmo do seu despertador tocar. Eram quase 6h10, normalmente ela já estaria de pé às 4h50, mas dessa vez ela se obrigou a continuar na cama até que o alarme soasse.

Se crescer na casa em que cresceu lhe ensinou alguma coisa, foi disciplina. Sua vida sempre foi um caos e ela aprendeu a lidar com ele de maneira sistemática, talvez até um pouco controladora. Talvez esse fosse o motivo dela ser tão resistente a mudanças, tão apegada à rotina rígida que criara.

Hoje seria seu primeiro dia de aula no ensino médio, ainda assim, tudo que conseguia pensar era em como sua irmãzinha se sairia no primeiro dia dela na pré escola, como a mudança afetaria seus treinos ou como conseguiria equilibrar tudo - as responsabilidades em casa, a irmã, os campeonatos, a escola e ela também já estava somando as idas ao hospital público à essa conta, antecipadamente.

Pensando bem, era como se os seus sentimentos fossem a sua última prioridade, o que, cai entre nós, não era nenhuma novidade. Mas isso não significava que não estava nervosa. A secretaria da escola havia reorganizado todos os alunos do ensino médio em novos turmas e horários e Charlotte não estava muito confiante em relação a isso.

Não é como se ela fosse anti social... Ela tinha amigos! Mas fazer amizade era, literalmente, a menor de suas preocupações. Ela reconhecia a "importância do contato humano para o desenvolvimento pessoal" e toda aquela baboseira, na sua sala antiga, ela até tinha algumas colegas mais próximas - sabe, aquelas que te passam a matéria quando você falta e te chamam para almoçar com elas, mas não passam disso, colegas. Charlotte não se importava muito em não fazer novos amigos, mas isso não significa que ela queria ser excluída durante o resto do ano.

Seu subconsciente insistia em criar diversas possibilidades de como esse dia podia dar errado, todas as coisas ruins que poderiam acontecer antes do almoço. Mas seu lado racional a puxava de volta à realidade, era só um mecanismo de defesa fajuto, daria tudo certo. Apenas o primeiro dia de um ano letivo tedioso e monótono, ela não tinha com que se preocupar.

Ignorando todos os pensamentos gritantes em sua cabeça, ela se levanta da cama, pegando uma muda de roupa na cômoda próxima à sua cama, indo até o banheiro no final do corredor e tomando uma ducha rápida.

Ela se veste sem se preocupar muito, uma calça jeans larga e preta, uma regata branca e as mesmas botas militares de sempre. Ela prende o cabelo em um rabo de cavalo e escova os dentes antes de sair dali.

Indo até a cozinha, Charlotte passa por uma porta entreaberta, que lhe dá visão para um quarto quase que completamente escuro. O cheiro forte de álcool a atinge com força, como um soco no estômago. E ela não se importa em disfarçar o desgosto que sente em ver a mulher loira desmaiada sobre a própria cama, apenas fecha a porta do quarto e faz o seu caminho até a cozinha.

Sem desperdiçar muito mais tempo, Charlotte começa a preparar o café da manhã distraidamente, enquanto cantarolava a letra de "Slow Down" do Chase Atlantic, quando uma figura de 1,35m se esgueira sorrateiramente para atrás dela.

— Não pode cantar essa música, tem palavras feias. — provoca a garotinha, se sentando na bancada que dividia a cozinha da sala de estar.

Charlotte solta um gritinho, dando um pulo por ter sido surpreendida, finalmente assimilando a presença da garota. Ela solta uma risada soprada, desligando o fogão.

Aquela era Annabelle, sua irmã caçula de 5 anos, as duas tinham pouco mais do que 10 anos de diferença e ainda assim eram como unha e carne. A garotinha tinha cabelos longos, lisos e loiros, um par de olhos castanhos e brilhantes e um sorriso angelical, os dois dentes da frente eram um pouco mais espaçados do que o normal, o que deixava sua aparência ainda mais adorável.

𝐊𝐢𝐥𝐥 𝐨𝐫 𝐁𝐞 𝐊𝐢𝐥𝐥𝐞𝐝: 𝐞𝐯𝐞𝐫𝐲𝐭𝐡𝐢𝐧𝐠 𝐭𝐨 𝐬𝐮𝐫𝐯𝐢𝐯𝐞 - SBGOnde histórias criam vida. Descubra agora