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  Viver as vezes é sufocante, mas olhar como foi a vida até agora é intrigante. A forma como a prepotência se mescla com a adrenalina e nos proporciona momentos únicos, de consequências que resultem em arrependimento ou prazer, é isso que nos traz até o agora. É essa junção de ações racionais ou emotivas que nos fazem nós mesmos. É isso que move o sobreviver de dias difíceis e o viver de dias felizes. O real problema é ter que sobreviver na maior parte do tempo.

Andando por esses corredores, lembrando de algumas aventuras que passei, começo a me questionar se fiz realmente a escolha certa. Logo esse pensamento muda, já que estou aqui, pela única pessoa na qual eu morreria: Meu Irmão. Continuo andando sentindo minha mente me sabotar, me bombardear com lembranças do mundo trouxa, tentando me fazer mudar de ideia, tentando me fazer fugir, de novo.

Chego na comunal da Sonserina que, por um milagre, estava vazia e me sento no sofá de couro preto. Escoro a cabeça no braço do sofá e tento limpar a mente, mas risadas conhecidas me chamam atenção.

-Olá, maninha! Como vão seus dias em Hogwarts? - Draco Malfoy diz enquanto joga minhas pernas para o chão se dando lugar para sentar.

- Oi, Dray! Me pergunta isso toda noite antes de dormir e toda noite eu respondo a mesma coisa: " vai bem maninho." - minto a minha recorrente resposta, já que não vejo necessidade de contar a realidade dos meus pensamentos na presença de Crabbe e Goyle.

- Ainda não me acostumei com o fato do Malfoy ter uma irmã! - indaga Crabbe.

- eu também não... ainda mais gêmea! - Goyle continua. - se bem que vocês nem se parecem. Ayla é muito mais bonita que Draco.

O loiro olha o amigo com reprovação e sorrio com sua reação.

- Viu Dray? O que sempre te falei; a gêmea mais velha e mais bonita - digo sarcástica e bagunço os fios claros do garoto ao meu lado, que me olha com reprovação.

- Acha mesmo que é a mais bonita? Até apostaria no baile de inverno, mas tem muitos professores e não quero esses bando de charros sem dono em cima de você. - Se defende.

- Não aposta porque sabe que vai perder! - provoco - Mas relaxa, deixo passar quem sabe na próxima festinha aqui na comunal?! - pisco para ele e saio em direção ao meu dormitório.

Não sei porque milagre deixaram eu ficar no mesmo dormitório que Draco, já que sempre foi separado meninos e meninas, mas não reclamei, Draco era o único que eu não tinha problemas em contar o que eu fazia. Claro que ele não aprovava a recente época em que eu rodava o mundo sem nenhum tipo de magia por perto, mas ele sabia que entre ficar em casa e sair, a segunda opção foi mais saudável.

Chego no dormitório batendo os olhos diretamente minha cama, sinto ela me chamando e vou tomar um banho. Uma coisa que não desperdiço é um banho quente antes de deitar, relaxa o corpo e parece que acalma os nervos.

Banho tomado acho que posso decretar paz, já que estou sozinha no quarto sem nenhum trabalho extra gigante do Snape. Olho para estante ao lado da cama e vejo meu caderninho verde com alça preta, uma pena do lado. É incrível como as vezes parece que os objetos imploram para serem usados. Pego o caderno e começo a foliar, passando rapidamente os olhos pelos textos escritos lá.

Não era um diário, nem algo com planos de me trazer fama. Era apenas meus mais confusos pensamentos, aqueles que eu não consigo entender de primeira, talvez nem de segunda, aqueles que vem acompanhado de muito sentimento, aqueles que se não escrevo eu reprimo e dói!

Sinto uma pontada no peito e suspiro com pesar, conheço bem esse sentimento. SAUDADE. Não consigo entender o que é direito mas me é algo recorrente. Tomo a pena e começo a rabiscar.

"O que falar da saudade? Acho que, de primeira, é o que eu sinto. Saudade de conversar o dia todo com você. Saudade de ligar pra você 00h e dizer bom dia. Saudade de ouvir vc dizer que me ama. Saudade de me arrepiar como quando me abraçava. Saudade de vc dormindo no meu ombro.
Em segundo, que dói. Dói ter que sentir saudade já que agora não tenho você pra conversar, não te ligo 00h e não falo mais bom dia nesse horário. Não ouço você dizer que me ama. Não me arrepio porque não me abraça. Não senta mais do meu lado então não dorme no meu ombro."

Essa saudade era específica! Que saudade do meu moreno de olhos castanhos.

Após escrever isso deixo o caderno e pena de lado, me deito e abraço o travesseiro enquanto adormeço sem nem mesmo jantar ou ver meu irmão chegar. O cansaço e as lembranças de Vancouver tomam conta de mim e me pesam os olhos.

A love of lies Where stories live. Discover now