O começo

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~Anna Shcherbakova pov's:

A adrenalina percorria por todo o meu corpo, tal qual o meu sangue percorria nas minhas veias, me sentia viva, ou talvez fosse meu coração que estava muito acelerado. Mas tinha de me concentrar nessas emoções, se não meu cérebro começaria a focar no frio dos meu pés, na dor que minha perna estava sentindo, eu me desfocaria e assim, perderia o controle dos meus próprios movimentos.

Essa era a verdade, estava patinando, fazendo oque eu mais amo nesse mundo, me sentia livre, pelo menos, no momento em que eu estava sob o gelo eu era. Apesar do frio nos meus pés, o calor gerado por cada movimento do meu corpo compensava isso, minha velocidade desafiava a gravidade, e eu tinha que ser bem precisa a cada movimento, pirueta e saltos. E isso me exigia uma concentração absoluta. Por isso, ouvia bem no fundo da minha mente o som das lâminas dos meus patins raspando o gelo, e o ar cortante no meu rosto não havia importância. Eu estava frenética, agora iria fazer o meu segundo quad, e então me inclinei e saltei, girando. E então já comecei a focar na finalização, era a hora.

Eu estava aterrissando, e, assim que o meu patins tocou o chão, me equilibrei e minha outra perna girou, estendida, levantando-se em uma volta de 180° em volta do meu corpo. Foi perfeito. Não era uma surpresa, sem querer me exibir, mas patino desde os meus 4 anos, e evolui muito nos últimos anos e atualmente, fazer um quad era simples. Inverti a posição das minhas pernas, fiz mais algumas manobras, giros e piruetas, e como em um passe de mágica, já havia acabado, estava fora do ringue, do outro lado do ringue, estava minha treinadora conversando com um homem, quando virou-se para mim, sorriu sem os dentes, e fez um sinal de sim lentamente com a cabeça. Eu havia ido bem.

Estava embarcando o avião que me levaria de volta para casa, com meu mais novo souvenir: outra medalha de ouro do campeonato europeu. Era um sensação incrível dar o seu melhor e sentir que valeu a pena. Senti meu celular vibrar, então o tirei da minha bolsa e coloquei no ouvido.

— Alô? — Assim que disse isso escuto a voz da minha treinadora eteri do outro lado da linha.

— Oi Anna, não consegui falar com você no final, mas quero te parabenizar, mais uma medalha de ouro, Você mandou bem!

— Ah, obrigada Eteri — Me ajeitei no banco do avião, desconfortável. Eteri raramente nos parabenizava, ela geralmente fazia as famosas críticas construtivas dela, mas veja só, oque uma medalha de ouro não faz com as pessoas.-também fiquei bem feliz com o resultado de hoje!

— Sim, sim, mas então, eu estava observando algumas fotos que tiraram e...— Quando Eteri começou eu já sabia oque viria a seguir; era a minha verdadeira treinadora voltando à tona.- você ficou um pouco inchada nas fotos, não é mesmo querida?

— ah sim, eu reparei — Eu disse de forma monótona, sei que é bom fazer um curto jejum antes do treino e evitar refrigerante, mas passei por uma máquina de comida e não resisti a uma coca zero geladinha, pensei que poderia ser disfarçado com uma cinta, mas nada passa despercebido aos olhos de Eteri.

— Irei pedir para que façam uns ajustes nas fotos, mas da próxima vez, faça o jejum corretamente, e só consuma alimentos leves um dia antes da competição — Respondi com um "uhum" baixinho, a contragosto, ela deve ter reparado a minha falta de interesse no que ela estava falando, pois voltou a falar — Presta atenção, Anna! Se você quer ser a melhor, tem que me escutar e levar as coisas a sério! Você quer jogar a nossa carreira no lixo?! — Odiava quando ela fazia aquilo, colocava minhas vitórias e a minha carreira como se fosse a dela também, para me fazer sentir verdadeiramente culpada e seguir suas ordens, antigamente isso funcionava, porém, eu cresci, e acabei percebendo as manipulações, não posso dizer que sou totalmente imune ao que ela diz agora, mas passei a ignorar uma boa parte de tudo que ela diz.

O inverno me conduz até você- TrusakovaOnde histórias criam vida. Descubra agora