Princesa das terras do sul

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O sol brilhava durante a bela tarde em um acampamento de caça aonde era comemorado o décimo sétimo dia de meu nome. Quem sou eu para ter esta comemoração em meu nome ? Me chamo Daellya, princesa Daellya das terras do sul, aonde o inverno é tão rigoroso que congelará ossos daqueles que não estiverem com vestimentas apropriadas e aonde o sol do verão castiga-nos com calor intenso.

Eu situo-me sentada em uma bela poltrona ao lado de minhas companheiras, minhas leais damas de companhia, com quem eu dividia absolutamente tudo. O dia estava deveras quente como já era de se esperar durante o verão do sul, os homens mantinham-se ao centro da floresta densa ao lado de fora em busca de algum animal selvagem para o banquete desta noite.

– Quando vossa alteza estará aberta a propostas de casamento ? – ao ouvir tais palavras minha atenção se voltou para a dama de companhia cuja a pele era de um tom escuro, seus olhos eram azuis de um tom quase inexplicável, o rosto estava envolto de longos cabelos vermelhos.

– Creio que seja um tanto quanto inapropriado de sua parte me perguntar sobre este assunto em um momento tão divertido – as palavras saíram de minha boca com um certo sarcasmo escondido – Mas já que deseja saber, irei escolher meu pretendente logo mais, já que agora atingi a maturidade.

Levantei-me me afastando do local aonde estávamos conversando, uma brisa atingiu a mim, fazendo com que meus cachos fossem chacoalhados. O som de conversas e cavalos trotando foi possível ouvir mesmo a alguns metros de distancia de todos enquanto me dirigia até a grande mesa do banquete.

Ao chegar consigo avistar meu pai sentado à mesa, faço uma breve reverência em sinal de respeito ao rei Baenor IV Van back, rei do norte, o grande soberano destas terras.

– Levante-se, querida filha, eu senti sua falta – um sorriso cordial brotou em sua face me fazendo sorrir.

– Sua ausência também me causou este sentimento, vossa alteza. Aonde está minha mãe ?.

– Acredito que em breve ela estará em nossa companhia.

Sentei-me junto de meu pai observando os cavaleiros da guarda real comparecerem ao acampamento de caçada, pensei que estaria livre de Sr. Daehrys para poder passear livremente pela floresta a sós, mas estava completamente enganada pois o mesmo acabara de se posicionar ao meu lado como uma sombra.

Assim seria pelos próximos dias da minha vida, presa ao lado de meu guarda pessoal.

A noite sobrecaiu pelas terras do norte, a brisa gélida que poderia congelar ossos balançava suavemente o topo das árvores, o silêncio era ensurdecedor fazendo com que escutássemos até o mínimo barulho da natureza. Estava deitada em minha tenda pensando em um jeito de escapar de Sr. Daehrys para me divertir um pouco ao ar livre.

A frustração aos poucos me assolava, até que uma ideia fincou raizes em minha mente e faltava apenas colocá-la em prática, mas como eu iria escapar sem que ninguém visse ? Levar Sr. Daehrys não era uma opção a ser cogitada.

Sorrateiramente vesti um casaco de pele de urso que era tão quente quanto o sol, que poderia aquecer-me até nos dias que as tempestades de neve mais brutal e grotesca atingiam o sul. Com cuidado abri apenas uma fresta na frente da barraca me abaixando e alçando um pedregulho, o lançando em direção ao lado oposto da floresta.

Sr. Daehrys foi surpreendido com o barulho da pedra que o fez ir vistoriar o local, aonde ela caiu, sai da minha barraca correndo em disparada em direção a floresta sem olhar para trás.

O vento uivava entre as enormes árvores, das quais as copas balançavam como belas dançarinas em uma apresentação. Assim que senti que estava longe o suficiente do acampamento permiti-me a apenas caminhar e apreciar o meu redor. Sentei-me em um tronco cortado de alguma árvore depois de muito caminhar para o coração da floresta, um pequeno coelho se aproximou de mim silenciosamente, quando notei sua presença ao meu lado examinando minha capa estiquei o braço apenas o suficiente para toca-lo, seu pelo era tão macio quanto os lençóis de seda de minha mãe, tão branco tal como leite.

Galhos se quebrando se fizeram audíveis ao redor, meu coração deve ter congelado enquanto uma grande rajada de vento me atingiu, fazendo com que meu casaco abrisse e me fazendo ficar imóvel enquanto o barulho se aproximava.

Logo Sr. Daehrys entrou em meu campo de visão com um semblante fechado, meu coração disparou pensando na bronca que viria logo mais tarde.

– Daehrys...eu posso explicar... – minhas mãos suavam frias enquanto eu procurava palavras
vendo-o ele se aproximava.

– Vossa alteza, a senhorita está cada vez mais imprudente, você poderia acabar congelando ou ser morta. Eu já lhe disse que se quiser dar suas escapadelas durante a noite, eu devo lhe acompanhar – sua voz parecia um pouco menos irritada enquanto ele verificava se não havia nenhum machucado aparente em meu rosto.

– E eu já lhe disse que detesto quando me trata feito criança, já não sou mais criança Daehrys! Já sou mulher.

– Ah sim, uma mulher tão imprudente quanto um criminoso, deveria estar agradecida já que não acionei o rei sobre suas aventuras – ele disse enquanto começávamos a andar em direção ao acampamento novamente.

– Você é um chato, sabia ? Você fica o tempo inteiro me observando como se fosse feita de porcelana, eu estou longe de ser feita deste material tão delicado – entrei em minha barraca novamente, tirei o grande e peludo casaco o deixando encima do baú que havia lá.

Daehrys entrou na minha tenda entrando em posição em frente à saída, me olhando com deboche.

– Agora era só o que faltava, você vai ficar aí me olhando a noite toda ?

– O quanto precisar para que não fuja novamente, Vossa alteza – pude ver um sorriso ladino de sua parte, o que me fez sentir vontade de rir, mas mantive a postura de séria.

Joguei uma almofada de minha cama na direção de Daehrys que logo a pegou antes que atingisse seu rosto dando uma risada baixa, o que me fez ficar com raiva daquela atitude.

– Eu te odeio, odeio muito tá – disse me deitando em minha cama olhando para o nada pensando na próxima fuga.

– É ? Bom, eu ouvi errado então quando disse que adorava minha companhia – era possível ouvir o divertimento em sua voz enquanto ele se aproximava jogando um grande cobertor de lã encima de meu corpo.

– Você deve ter ouvido errado, porque eu nunca disse isso, chato – fiz uma careta para ele virando para o lado oposto que ele estava, mas logo voltei a encara-lo – Tenha uma boa noite, Daehrys.

– Boa noite para a senhorita também, descanse bem pois amanhã será um longo dia – ele se afastou indo até o lado de fora da cabana ficando no seu posto de guarda.

Respirei profundamente e me ajeitei em minha cama me aconchegando, fechei meus olhos logo sentindo o sono me abater. E assim adormeci profundamente.

A rosa negraOnde histórias criam vida. Descubra agora