Eu me lembro bem, como uma maldição ou talvez uma dádiva. Cada detalhe, cada instante desde o meu primeiro suspiro está gravado em mim com clareza. Lembro-me de todos os dias, desde o momento em que minha consciência despertou, antes mesmo de meus olhos se abrirem para o mundo. No breu que me envolvia, havia a voz daquela mulher — suave e exausta, mas cheia de significado.
Ela me nomeou Maegor. A razão, ela disse, era o sofrimento que causei com minha demora, prolongando sua dor. Também pedia com força aos deuses para que eu ainda tivesse vida em seu ventre.
A lembrança de seu rosto, marcado pelo cansaço do parto, ainda é vívida em minha mente. Seus olhos, marejados, irradiavam um cansaço profundo, mas ainda assim, havia um sorriso ali, como se, apesar de tudo, minha chegada trouxesse algum tipo de alívio.
Seus cabelos prateados brilhavam sob a luz, frágeis como seda, e seus olhos roxos, suaves, focados em mim. Quando estavam prestes a me colocar em seus braços, um momento que deveria ser de calma, o silêncio foi quebrado. Mais uma vez, ela gritou. O som rasgou o ar, e sua face se contorceu em uma agonia palpável, como se o alívio do parto estivesse apenas fora de alcance.
Eu me lembro claramente daquele instante, como se cada detalhe tivesse sido esculpido na minha memória. Outro bebê estava a caminho. E quando ele finalmente saiu, o odor pútrido que invadiu o ar foi como um golpe. O cheiro, tão denso e fétido, encheu minhas narinas, uma lembrança que, mesmo sem compreender ao certo, ficou gravada em mim.
De maneira abrupta, fui colocado de lado quando a mulher que me deu a luz, desmaiou. Seus criados a chamavam de, Rainha Aemma.
Me lembro de dormir, e quando acordei estava nos braços de um homem estranho que me carregava para fora do quarto que estava, me entregando a uma criada, que me levou ao meu local de desgraça.
Fui criado pelas prostitutas da rua da seda. Sendo alimentado pelas cortesãs, quando o leite acabava, outra cuidava de mim. Sendo ensinado a roubar bêbados e daqueles que iam para trepar.
Depois de anos, quando já completava sete luas, eu a vi. Uma menina disfarçada de garoto, seus cabelos brancos como os meus. Nos encaramos por um tempo, até que ela se apresentou a mim:
— Eu sou Rhaenyra Targaryen.
Sobrenomes não eram necessários, seus cabelos brancos a denunciavam. Estava jovem, muito jovem para um local como esse, se bem que não poderia falar muito, já que aparentemente sou alguns anos mais novo.
— Meu nome é Maegor — respondi baixinho, ela me olhou interessada e visivelmente curiosa.
— Maegor? Esse é um nome dos Targaryen. — Rhaenyra falou me olhando, e como já concluísse, completou — Bastardo?
Acenei de maneira positiva.
Naquela tarde, invés de fazer o que desejava no bordel, ficamos conversando. A menina, comprou comida para mim, desembaraçou meus cabelos e me arranjou roupas novas.
Eu não esqueci de seu rosto, não esqueci do sorriso suave em seus lábios. O sorriso que lembrava minha mãe, o sorriso que lembrava Aemma.
— Eu juro cuidar de você, o quanto puder — Ela me prometeu — Seremos melhores amigos.
— E eu juro te proteger, para sempre.
Nos separamos naquele dia. Um homem de cabelos curtos e brancos a encontrou, o desespero estampado em cada movimento enquanto buscava a menina com uma pressa dolorosa. Ele parecia aliviado ao encontrá-la, mas, ao me ver ali, hesitou. Talvez por pena ou por alguma razão que nunca compreendi totalmente, decidiu me levar consigo para seu castelo. Ali, sob seus olhos atentos, fui treinado com rigor e disciplina, moldado para um futuro que nem eu imaginava.
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𝐋𝐞𝐚𝐥𝐝𝐚𝐝𝐞 𝐞𝐭𝐞𝐫𝐧𝐚 - 𝐀𝐞𝐦𝐨𝐧𝐝 𝐓𝐚𝐫𝐠𝐚𝐫𝐲𝐞𝐧.
FanfictionMaegor, um bastardo Targaryen, viu sua vida mudar radicalmente após um ato de bravura. Em um momento de grande perigo, ele ajudou a rainha Rhaenyra Targaryen do ataque mortal de sir Arryk. Reconhecendo sua coragem e habilidade, a legítima herdeira d...