Prólogo

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A noite estendeu seu véu negro e rubro sobre o céu e as estrelas começaram a brotar como minúsculos diamantes, coroando o firmamento e deixando seu legado ancestral mais uma vez gravado nos corações e nas mentes dos meros humanos que as admiravam da terra.

Lyara estava sentada nos jardins do palácio, bebericando um chá horrível que tinha sido obrigada a beber. Nashira tinha ido buscar algo dentro do palácio e a princesa permanecia quieta, observando a noite engolir as nuvens rosadas do entardecer.

— Minha senhora! — Alguém chamou por detrás dela.

Lyara virou e viu um dos guardas que costumavam fazer ronda pelo jardim, parado e com um semblante sério.

— A Guarda Negra retornou. O líder pede licença para falar à sós com vossa alteza! — Contou e a menina suspirou, deixando a xícara de lado e ajeitando a postura. Mansi dormia tranquilamente ao lado dela.

— Mande-o vir — Disse, um pouco nervosa. Dos sete mercenários, Alerran era o único que sempre a confrontava, mesmo depois dela ter a coroa posta sobre a sua cabeça. Ele simplesmente ignorava esse fato e tratava-a como a menina que eles encontraram no deserto Mikrise.

O guarda fez uma reverência e saiu rapidamente. Não demorou para que Lyara escutasse os passos pesados atrás de si. 

— Trago boas e más notícias, qual quer ouvir primeiro? — Ele perguntou, sem rodeios.

Lyara deu de ombros. 

— Diga as duas de uma vez.

Alerran recostou-se despreocupadamente em um pé de Árvore-Alma, uma planta cujo caule e folhas eram completamente brancos e as flores eram verdes. O cabelo do rapaz estava todo bagunçado e as roupas, pelo menos a camisa, tinha marcas visíveis de sangue.

— Os espiões que estavam na cidade foram capturados e colocados na masmorra — Falou — Porém, eles todos se mataram antes do interrogatório.

Lyara meneou a cabeça e bebeu outro gole do chá, fazendo uma careta em seguida.

— Eles tinham alguma marca ou algo do tipo? 

Alerran negou e foi para perto dela. Os olhos castanhos emanando perigo.

— As únicas marcas que eles tinham foram as que eu deixei na pele deles — Contou e saiu, sem ao menos pedir permissão.

A princesa olhou o líquido na xícara e colocou o objeto novamente sobre a mesa. Os dias seguiam cada vez piores desde que ela se tornou princesa. Os zantarianos eram um povo nobre, mas muito cabeças-dura. Os que viviam na parte mais afastada, próximo das montanhas, exigiam que estradas fossem construídas com ferro bruto ligando à capital, enquanto os que moravam próximos da costa, queriam que os impostos fossem reduzidos.

— Minha senhora, está na hora de voltar. — Nashira apareceu como um fantasma atrás dela e Lyara engoliu o grito de susto. Levantou-se e ambas seguiram direto para dentro do palácio.

Lyara tinha assumido o poder havia mais ou menos meio ano. Desde então, Handorrai e Viltain cortaram ligações com o reino, embora enviassem espiões com frequência.

E o simples fato de que ela era considerada uma criança fazia os zantarianos urrarem de ódio. 

Levantou-se lentamente e voltou para dentro do castelo, ciente das sombras e olhos que acompanhavam seus movimentos. Nashira era sua dama de companhia, Tal como Ishaira costumava ser e também era uma boa conselheira. Seus cabelos estavam mais compridos agora, e ela parecia ainda mais angelical. Os olhos eram como os de um gato e atenciosos como o de uma mãe, principalmente quando estava ouvindo os desabafos da profetizada.

Feras e Reis: A Herdeira dos TronosOnde histórias criam vida. Descubra agora