48. Fumaça na Água

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          Os segundos do relógio acima da lousa passavam com um sonoro "tic-tac", causando em mim uma sensação de urgência. Faltavam poucos minutos para Luan colocar nosso plano em ação.

          Há dois meses, Rafael e Felipe nos incumbiram da missão de impedir que o pai do Rafa, o diretor Aroldo, fosse descoberto em sua maracutaia de extrair minerais do subsolo da escola sem o conhecimento do governo. Não sei o que deu em nós, mas simplesmente nos deixamos acreditar em toda a história que o Tico e Teco nos contaram. Agora que Luan já havia voltado a andar, finalmente tendo abandonado a cadeira de rodas, estávamos prontos para agir.

          Uma pequena onda de arrependimento começou a bater em mim. O que estávamos prestes a fazer era loucura, e quem poderia acabar presos éramos nós, afinal, como Lucca gostava de lembrar, éramos maiores de idade e já poderíamos responder por nossos atos! A sorte é que ao menos tínhamos um grupo de amigos sempre dispostos a nos ajudar.

          Eu, que sempre evitei sentar na janela, abri uma exceção naquele dia. Pelo fato de o prédio de nossa escola ser transparente e o prédio ao lado ser espelhado, meus olhos conseguiram capturar Luan pelo reflexo, subindo a escadaria lentamente, com um cigarro pendurado nos lábios, como se fosse um acessório natural de sua personalidade rebelde. Ele tinha aquele jeito despreocupado, quase como se estivesse flutuando, alheio ao caos que trazia consigo.

          Luan prometeu que aquela seria a última vez que fumaria. Lembrei-me das palavras dele com uma pitada de ceticismo. A ironia não me escapou quando me recordei também da noite anterior. Sentados na varanda da casa dele, Luan dedilhava seu violão com uma destreza casual, tocando "Smoke on the Water" da banda britânica Deep Purple. A música, que agora parecia uma trilha sonora profética, voltava em minha mente como chiclete enquanto eu observava os próximos acontecimentos se desdobrarem.

          Ele parou no corredor de um andar isolado, sem pressa, inalou uma longa tragada antes de deixar o cigarro cair no chão, ainda aceso. Luan então deu um leve chute, enviando o cigarro para um amontoado de folhas secas que deixamos anteriormente perto da lixeira de metal. Por um breve momento, nada aconteceu. Então, um fio de fumaça começou a subir, hesitante no início, mas rapidamente ganhando força e se transformando em uma coluna espessa e ameaçadora.

          Luan assistia a tudo com um olhar de curiosidade mórbida, como se estivesse admirando uma obra de arte em chamas que ele mesmo criara. Eu, por outro lado, sentia uma sensação de náusea, cada vez mais se intensificando à medida que as chamas começavam a lamber a lateral do prédio.

          Foi nesse momento que Lucca, fiel ao nosso plano, entrou em ação. Estava posicionado do lado de fora de nossa sala, em um ponto estratégico, observando tudo do prédio espelhado. Com a precisão de um maestro regendo uma orquestra, ele disparou o alarme de incêndio. O som irritante cortou o ar, e por um segundo, tudo pareceu se mover em câmera lenta. Em meio à prova de história, os estudantes começaram a se levantar de suas respectivas cadeiras. Nossa professora não parecia acreditar que um incêndio se instaurava logo no dia das provas bimestrais, ainda assim, seguindo os protocolos, todos se moveram em direção às saídas de emergência.

          Enquanto parte da escola começava a pegar fogo, eu não podia deixar de refletir sobre como chegamos a esse ponto. O plano de criar um incêndio na escola, no dia das provas, foi uma junção das mentes engenhosas de Felipe e Luan. Luan, que já havia causado um "mini-incêndio" em sua casa uma vez, na tentativa de acordar seus pais quando fomos lá de madrugada, tinha a experiência prática. Já Felipe, por outro lado, foi o estrategista que afirmou que precisávamos atrair a polícia até a escola. Sua ideia era que, uma vez lá, os oficiais da lei descobririam os minerais valiosos escondidos abaixo da estrutura escolar. Nesse tipo de estardalhaço, Felipe se saia uma pessoa inteligente — só nessas horas mesmo.

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