valsinha

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dedicado à burninglua

Te puxei pelo braço dentro daquela via movimentada, os carros descontrolados buzinavam e desviavam-se dos nossos corpos, tudo ao som de xingamentos dos motoristas revoltados por tal heresia que praticávamos.

Meu bem, eu sou apaixonada por você, não há como evitar que eu queira dançar essa valsa junto de ti.

Teu corpo quente e pequeno comparado ao meu, balançava ao ritmo da canção que tocava em nossas cabeças, era bonito ver tamanha sincronia dos corpos que tanto se amavam.

Foi quando senti uma pedra atingir minha nuca, olhei brevemente ao motorista que o fez e sorri levemente, meu amor por ela estava sendo reconhecido por outras pessoas e não havia mais medo por isso.

Rodei a menina e passamos a dançar no meio-fio, liberando a passagem dos carros. Corremos em direção as árvores e eu te abracei, um abraço como antes jamais havia dado antes, como se fosse o último.

Beijei o topo de sua cabeça, seu rosto, cada uma de suas bochechas, todos seus sinais e marcas que existiam por seu corpo, suas mãos e, finalmente, sua boca. Um beijo tão forte e cheio de todo o afeto que um dia pudemos sentir, tanta felicidade nos cercava que dava a impressão do mundo estar iluminado por inteiro, apenas para você.

Te puxei pra mais perto e voltamos a dançar, seu vestido se mexia junto de nós e seus cabelos voavam junto ao vento, tão bonita como sempre foi e há de ser. Minha pequenina amada, suspirava ao te ver e pensar que sempre fui sua.

Foram tantos beijos e abraços naquela valsa, me sentia em paz ao te ter em meus braços, mas segurando-te firmemente, pois parecia que o vento iria te levar de mim a qualquer instante.

Sua voz doce cantarolava pra mim e fazia juras de amor junto a mim, com aquele sotaque gostoso e tão singular de sua parte, nunca se ouvira na história daquela cidade tantos gritos de amor quanto naquela madrugada.

Já era tão tarde assim? Nem parecia que dançaram o dia inteiro, e isso que encantava os corações, cada segundo passava lentamente e o tempo sempre parecia pouco para jovens apaixonados.

Seu corpo já parecia frágil e eu sentia medo de quebrá-la se continuasse a dançar, mas você me dizia sorrindo que não se importava, pois eu também desmoronava em sua frente e seria um privilégio morrer junto a ti, meu amor.

Fomos novamente a rua, onde o fluxo de veículos estava brando pelo horário, o sol nem ao menos tinha nascido aquela altura. Somente nós duas, sob a luz da lua.

Te abracei mais forte quando seu corpo se desequilibrou, te carreguei no colo e passei a te beijar docemente, fui retribuída com felicidade e a luz dos carros iluminavam seu rosto, me dando a visão perfeita de cada detalhe seu.

Disse o quanto te amo e pude escutar você dizer o mesmo, como ninguém mais se aventurava naquele tempo, o mundo via tamanhos corações apaixonados e parava para admirar.

Os olhos marejados dos curiosos, meu corpo grudado ao seu no meio da via, nossos lábios se tocando e nossos corações sendo apenas uma da outra.

Nossa história de amor foi assistida, nossa valsinha foi admirada e agora o mundo poderia estar em paz.

E minh'alma anceia para que possamos dançar novamente.

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