Zéro

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Lembro da primeira vez que vi Benjamin Pavard. Era o início do ano letivo, e eu estava nervosa, como sempre, mas ao mesmo tempo ansiosa para reencontrar meus amigos e conhecer meus novos professores. Assim que entrei na sala, notei um garoto novo sentado na última fileira, com os olhos brilhando de curiosidade. Ele parecia um pouco perdido, tentando assimilar o novo ambiente.

Durante as primeiras semanas de aula, percebi que Benjamin tinha dificuldades com algumas matérias, especialmente Física e Química. Ele era bom em outras áreas, especialmente em esportes, mas quando se tratava de números e fórmulas, ele parecia travar. Foi então que, um dia após a aula, decidi me aproximar.

— Oi, você é o Benjamin, certo? — perguntei, tentando me aproximar

Ele levantou os olhos dos livros e me olhou surpreso, mas com um sorriso tímido. E lindo.

— Sim, sou eu. E você é?

— Louise. Eu percebi que você está tendo um pouco de dificuldade com Física. Eu sou boa nessa matéria e pensei que talvez pudesse te ajudar.

Ele hesitou por um momento, mas depois sorriu novamente, dessa vez com mais confiança.

— Eu adoraria isso. Física nunca foi meu forte.

E assim começou nossa amizade. Nos encontrávamos todos os dias após a aula para estudar. Eu explicava as matérias de Física e Química, e ele me contava sobre suas paixões, especialmente o futebol. Benjamin treinava todos os dias, e muitas vezes perdia aulas devido aos treinos e jogos. Era cansativo para ele tentar acompanhar as matérias, mas ele sempre se esforçava ao máximo.

— Sabe, Benji, você realmente precisa entender essa fórmula de aceleração se quiser passar na prova — disse eu, um dia, enquanto estávamos sentados na biblioteca.

Ele suspirou, passando as mãos pelo cabelo.

— Eu sei, Lou. Mas é difícil focar em Física depois de um treino pesado. Honestamente, eu só queria poder ir para casa dormir.

Eu ri, balançando a cabeça.

— Eu sei, deve ser cansativo. Mas pense nos treinos como uma forma de acelerar a bola, assim como a aceleração que estamos estudando. Talvez isso ajude.

Ele riu, e eu me perdi naquele sorriso.

— Você sempre tem uma forma de tornar as coisas mais fáceis de entender, Lou. Sou realmente grato por ter você.

Nossos estudos juntos se tornaram uma rotina. E, aos poucos, comecei a perceber algo mais. Eu estava me apaixonando por Benjamin. Seus sorrisos, sua determinação, seu jeito gentil de ser. Mas eu nunca tive coragem de confessar meus sentimentos. E ele também nunca falou nada sobre o que sentia. Se é que sentia.

Uma vez, quando estávamos estudando na biblioteca, ele me contou sobre um grande jogo que teria no fim de semana.

— É um jogo importante. Se vencermos, teremos uma chance de competir a nível nacional.

— Isso é incrível, Benji! Tenho certeza de que você vai arrasar.

Ele sorriu, mas havia uma preocupação em seus olhos.

— Só estou preocupado em manter minhas notas. Se eu não passar em Física, talvez não possa jogar.

— Você vai passar, Benji. Eu vou te ajudar. E sei que você pode fazer isso.

Durante aquele semestre, ficamos cada vez mais próximos. Estudávamos juntos, almoçávamos juntos, e eu estava sempre lá para ele, nos momentos bons e nos ruins. Queria que pudéssemos ficar assim para sempre.

Mas,  nosso último ano do Ensino Médio chegou rápido demais. Benjamin estava mais focado do que nunca, equilibrando os estudos e os treinos. Eu estava feliz por ele, mas ao mesmo tempo, meu coração doía ao pensar que logo nos separaríamos. Eu sabia que ele tinha um futuro brilhante no futebol, e eu tinha minhas próprias ambições acadêmicas. Mas ainda assim, o pensamento de deixá-lo era insuportável.

Um dia, enquanto estávamos estudando para os exames finais, ele me olhou com uma expressão séria.

— Lou, posso te perguntar uma coisa?

— Claro, Benji. O que foi?

— Você já pensou em como será depois que nos formarmos? Quero dizer, você vai para a universidade, e eu vou me focar no futebol. E se... e se nos perdermos de vista?

Meu coração apertou, mas eu mantive a compostura.

— Eu já pensei nisso, sim. Mas acredito que, se nossa amizade é forte o suficiente, vamos continuar em contato. Não importa onde estejamos.

— Eu espero que sim, Lou. Eu realmente espero.

Naquele momento, eu queria tanto dizer a ele o que sentia. Queria dizer que o amava, que sempre o amei. Mas as palavras ficaram presas na minha garganta, e eu apenas sorri de volta.

Quando chegou o dia da nossa formatura, eu estava um misto de emoções. Felicidade por ter completado aquela etapa, mas tristeza por saber que nossas vidas tomariam rumos diferentes. Após a cerimônia, Benjamin me puxou para um canto, longe da multidão.

— Lou, eu só queria te agradecer por tudo. Você foi uma amiga incrível. Sem você, eu não teria conseguido.

Eu sorri, tentando segurar as lágrimas.

— Foi um prazer, Benji. Eu acredito em você. Sei que vai alcançar todos os seus sonhos.

Ele me abraçou apertado, e eu me perdi naquele momento, sentindo o calor do seu corpo contra o meu. Como eu queria que ele fosse meu... 

E assim, nossas vidas seguiram rumos diferentes. Eu fui para a universidade, e ele seguiu sua carreira no futebol. Mantivemos contato, mas com o tempo, as mensagens ficaram mais espaçadas, as ligações mais raras. Mas eu sempre guardarei com carinho aqueles momentos que passamos juntos no Ensino Médio.

De longe, acompanhei a carreira de Benji. Se transferiu para a Alemanha para defender o Stuttgart. Começou a namorar (e eu chorei por 3 dias) com uma linda modelo que já tinha sido Miss France.

Aos poucos, tentei deixar aquela paixão de adolescência passar. Ele entrou no glamuroso mundo de jogadores de futebol, que namoram modelos e ganham salários astronômicos.

Então, decidi focar nos meus estudos, na minha carreira. E me saí bem. Me formei com louvor em Sorbonne e fui efetivada no escritório em que fazia estágio. Pode não ser um salário milionário como o de Benji, mas para uma mulher solteira de 22 anos estava ótimo.

Quando ele foi convocado para a Copa do Mundo de 2018, senti um misto de orgulho e nostalgia. Orgulho por ver meu amigo de infância alcançar um feito tão grandioso e nostalgia dos tempos em que estudávamos juntos. Assisti a todos os jogos da França com ansiedade, torcendo fervorosamente por Benji e nossa seleção.

Então, aconteceu. O gol contra a Argentina nas oitavas de final. O chute perfeito, o momento de glória. Eu assisti àquele jogo com o coração na boca, e quando a bola entrou na rede, eu gritei de alegria. Ele merecia, sempre foi o mais esforçado. O mundo inteiro agora sabia quem era Benjamin Pavard. Ele se tornou uma estrela da noite para o dia, e eu não poderia estar mais feliz por ele.

Foi no dia seguinte a esse jogo que recebi uma ligação inesperada. Estava em casa, revisando alguns casos, quando meu celular tocou. Olhei para a tela e vi o nome dele. Meu coração deu um salto.

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⏰ Última atualização: Aug 06 ⏰

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Cláusula pétrea - Benjamin PavardOnde histórias criam vida. Descubra agora