3 - Primeiras telas

30 0 1
                                    

O ano de 2004. Ricardo havia acabado de completar seus 17 anos. O clima de São Paulo sempre foi cinza, dava voz às cores de sua alma. Sua paixão pela música também era evidente. Ao pintar, sempre havia alguma música tocando. As cordas de um violão e as teclas de um piano flutuavam por seu ouvido, parecendo mover as suas mãos cheias de tinta.
Pintava de uma forma jamais vista antes, o cheiro de seu quarto se comparava a qualquer loja de tintas.
Pintava com tintas de todos os tipos, desde acrílica a aquarela.
Seu corpo levitava, seu coração era amarelo e azul, pois o lembrava de suas emoções, trazendo frieza e calor a cada quadro.
Nenhuma de suas roupas escapava de seus respingos. Deixava bem claro seu amor por cada linha.
Seu estilo comparava-se a Van Gogh, mas com a intensidade surreal de Salvador Dali. Suas telas gritavam, seu corpo gritava! pois seus pensamentos só diziam...

Ricardo:

Acho que o que vem à minha mente, é simplesmente telas. Não, acho que estou mentindo, seu sorriso também vem muito a minha mente. Aliás, como você conseguiu tirar o meu foco tão facilmente.
Pinto seu sorriso como se fosse um belo sol, mas derramando-se por seu pescoço, como se demonstrasse o quanto eu me sinto completamente derretido por cada detalhe que estou olhando.
Como poderia me olhar de novo? Queria parecer menos obcecado, mas acho que meu coração jamais desistiria de tentar demonstrar minha maior fraqueza: "amar de perto".
Sinto palpitações ouvindo sua voz, como se você se conectasse ao meu corpo, como se não eu pudesse continuar vivendo caso não à ouvisse mais.
Será que com esta tela consegui demonstrar o quanto seu cabelo encaracolado me sufoca? Será que seus olhos passam a mensagem que quero? Que realmente me cegam com seu brilho molhado. Acho que está na hora de ligar pra você.

Dias de hoje:

- Você realmente só pode estar brincando com a minha cara. - diz Ricardo com a voz mais seca do mundo.
- Essa é a maior burrada que eu poderia fazer, 'trabalhar com uma deficiente'!

- Pensa só, eu sei que vai ser difícil a comunicação...

Antes que pudesse continuar, Ricardo retruca:

- Não Breno, não existe comunicação, aliás eu tenho certeza de que você se lembra de Florianópolis.

Ricardo e Breno estavam em um clube. Breno tenta apresentar uma mulher linda para Ricardo, era loira, tinha 1,64m de altura, tinha belos olhos verdes, estava em ótima forma, porém ela não tinha uma de suas pernas.

- Você sabe que não é a mesma coisa! - Breno diz, mesmo não acreditando no sai da sua boca.

- Além do mais, não foi tão ruim assim, ela até pediu seu número.

- Essa não é a questão, eu literalmente disse que não ia dar certo porque precisamos dar um passo de cada vez. - Ricardo demonstrava muito bem o que sentia em telas, não tão bem com palavras.

- Não é como se você fosse namorar com ela Ricardo, ela vai trabalhar para você. Isso é uma urgência! - Breno fala batendo a mão na mesa de forma leve.

Ricardo escuta aquela palavra e uma desconfortável memória o lembrava de seu compromisso no laboratório, por mais que por fora mostrasse um desdém.

- Como isso vai funcionar? - Ricardo volta para a conversa.

- Antes de vir trabalhar, ou na noite anterior, você passa para ela o que precisa ser feito. Se você precisar mudar alguma coisa, fale por meio do whatsapp, ela irá responder e fazer.

- Ok, isso é uma ideia podre, porém você está me obrigando.

Ricardo toma mais uma vez seu whiskey, acabando mais um copo, após, acende mais um cigarro ( o cheiro já o dominava).
Breno da um tapa em seu ombro e diz:
- Espere aqui, vou trazê-la.
- Vou te deixar com seus pensamentos.

tente compreender-me Onde histórias criam vida. Descubra agora